A Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário nasceu em 1879, numa altura em que a luta contra a monarquia por parte das classes laboriosas estava a ascender.
Nos seus primórdios, este espaço
foi um jornal criado por operários tabaqueiros, de modo a publicar noticias
sobre a indústria tabaqueira que estava a viver uma enorme crise. Com sede no
Beco das Flores (actualmente Rua Norberto de Araújo), este jornal implicava uma
tremenda exigência financeira o que obrigou os operários a procurarem formas de
sobrevivência para o projecto.
Assim nasce a Sociedade Cooperativa A Voz do
Operário, cujos objectivos eram: estudar uma forma de resolver o problema do
trabalho, melhorando as suas condições de um ponto de vista económico, moral e
higiénico; estabelecer escolas, gabinetes de leitura, caixa económica, de modo
a possibilitar a instrução e o bem-estar da classe trabalhadora em geral e dos
sócios em particular.
Em 1887, A Voz do Operário
abandonou o Beco de Froes e mudou-se para a Calçada de São Vicente, onde
alterou para a designação que mantém actualmente. Em 1912, foi lançada a
primeira pedra de construção da sede onde se encontra actualmente A Voz do
Operário (sita na Rua Voz do Operário), tendo as obras concluindo em 1932. Por
esta altura, esta Sociedade começou a exibir filmes no seu salão nobre mantendo
essa função até à actualidade, com uma programação composta por ciclos de cinema
alternativo. A sua lotação é de 858 lugares.
Esta sociedade sobreviveu com
muita dificuldade durante a ditadura do Estado Novo, com a censura a amputar
grande parte das notícias do jornal e a cercear as actividades culturais. Até a
educação foi sujeita às imposições do Estado Novo, esforçando por proporcionar
uma formação integral para os seus alunos. Com o derrube da ditadura em 25 de
Abril de 1974, esta sociedade renasceu com o seu método pedagógico, Movimento
da Escola Moderna, a impor-se no panorama do ensino nacional até à actualidade.
Com a Revolução dos Cravos, regressaram as actividades culturais como os
espectáculos musicais, cinema, teatro, exposições de artes plásticas e dança,
como também as acções sociais para os idosos e crianças com a inauguração de um
centro de convívio e de creches.
Esta obra da autoria do Arq.º
Norte Júnior possui uma portentosa fachada neo-barroca, de grandioso efeito
cénico e densa decoração. O edifício é constituído por pisos escolares sendo
que o salão nobre encontra-se no piso superior, inicialmente dedicado a
actividades desportivas e posteriormente transformado em sala de cinema e que
actualmente é utilizado como sala polivalente, mantendo o mobiliário e decoração
originais, onde se evidencia o magnifico vitral de Norte Júnior. O frontão é
suportado por dois fortes pilares e ostenta um vitral em óculo circular, ornado
com motivos simbólicos, que marca o corpo do salão. Também possui umas
estreitas escadas metálicas nas traseiras.
A Voz do Operário tornou-se numa
enorme referência educacional, social e cultural de Lisboa e como tal merece
ser pesquisada e falada em qualquer livro ou projecto sobre esta cidade.
Fontes:
- Ribeiro, M. Félix, Os mais antigos
cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca
Nacional, 1978- Fernandes, José Manuel, Cinemas de Portugal, Lisboa, Edições Inapa, 1995
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2009/11/voz-do-operario-1932-actualidade.html
- http://billy-news.blogspot.pt/2010/04/tara-perdida-review-da-voz-do-operario.html
- http://www.apvo.org/a-voz-do-operario/
- http://www.cm-lisboa.pt/en/equipments/equipamento/info/edificio-de-a-voz-do-operario
1 comments:
Ah, a Voz do Operário! Muito tempo passei eu naquele salão quando era miúdo. Claro que o facto de ter sido aluno lá me deu alguns privilégios como o de ter pisado aquele palco mais do que uma vez e ter podido conhecer os bastidores. Parabéns pelo excelente blog e esperemos que continue este magnifico trabalho.
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