O regresso à cidade do Porto faz-se com a história de um cinema que se transformou num salão dançante. Falo do Cine-Teatro Júlio Deniz, rebaptizado de Danceteria Júlio Diniz, localizado na Rua de Costa Cabral, entre 317 e 335 e Rua do Lindo Vale.
Na década de 1940, surgiram na cidade do Porto salas de cinema robustas, autênticos monumentos arquitectónicos, que faziam jus à escala da Sétima Arte, como o Coliseu do Porto, o Cinema Vale Formoso e o Cinema Batalha. Foi considerado o período dos "cinemas templos". Na senda destas grandes construções, foi inaugurado em 1943, o Cinema Júlio Deniz (na época, uma das maiores salas da cidade), constituído por plateia e balcão.
Este cinema pretendeu ser modernista, com especial ênfase na torre da fachada principal, no intuito de se impor no contexto urbano (a Rua de Costa Cabral é uma artéria de expansão da cidade com linearidade de cérceas). Por este motivo, sempre foi considerado um “cinema de bairro”, que procurava atender às populações da periferia. O seu carácter modesto e formas desproporcionadas impediram que tivesse um valor arquitectónico relevante. A edificação conforma-se dentro de um lote urbano regular de duas frentes.
O autor deste projecto, o Mestre Manuel da Silva Passos Júnior, pretendeu edificar um cinema que não impedisse o trânsito e que não provocasse aglomerações à sua porta. Por isso, dividiu a planta em duas partes distintas: a primeira destinada ao público em geral, que tinha acesso pela Rua do Lindo Vale, com serviços independentes; a segunda entrada era feita pela Rua Costa Cabral, reservada para o público da restante plateia e do balcão.
A entrada principal deste lado foi projectada, de modo a permitir a compra de bilhetes num local abrigado, já dentro do edifício, sem obstruir o passeio e, portanto, o trânsito.
Era propriedade da empresa Rocha Brito e Vigoço. Ao longo da sua existência, oferecia programações alternativas às salas principais da cidade, onde se efectuavam as grandes estreias.
Após 25 de abril de 1974, começou a exibir filmes pornográficos por causa da falta de espectadores.
Actualmente, este espaço funciona como sala de espectáculos de variedades, com matinés dançantes às 3ª e 5ª feiras. Retiraram-se as cadeiras das filas da frente para a instalação da pista de dança e abriu-se um vão lateral, proporcionando uma relação mais franca com o bar. O pequeno palco é suficiente para albergar uma banda reduzida, mantendo-se os restantes elementos. A reabilitação fez-se mais ao nível da instalação de uma nova função compatível, do que propriamente na recuperação da imagem integral do edifício.
Tem recebido nos últimos anos o Festival DDD - Dias da Dança.
Fontes:
- CALOR, Inês Alhandra, Reabilitação de Cinemas Modernistas - Caracterização do Contexto Urbano Ibérico, Relatório de Estágio, Câmara Municipal do Porto, Porto 2003-2004
- FERREIRA, Tiago Resende Araújo, A Sala de Cinema, Dissertação de Mestrado,ESMAE, Porto 2013-2014
- https://ruasdoporto.blogspot.com/2012/10/o-porto-e-os-cinemas.html
- https://www.publico.pt/2005/08/15/jornal/combater-a-solidao-num-antigo-cinema-34761
. http://cinemaaoscopos.blogspot.com/2013/01/julio-deniz-porto.html
- https://www.timeout.pt/porto/pt/atraccoes/julio-deniz
- https://digitarq.cpf.arquivos.pt/viewer?id=1178484
- https://digitarq.cpf.arquivos.pt/viewer?id=1178485
- https://digitarq.cpf.arquivos.pt/viewer?id=1178486
1 comments:
Muito obrigado! Estava a buscar o nome do arquiteto/ autor deste cine-teatro ha 3 anos!
Arq. Gelu Savonea
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