No seguimento do post anterior sobre o Fantasporto 2012, resolvi ficar-me pela bela cidade do Porto e falar sobre uma das mais miticas e belas salas da cidade nortenha: o Rivoli Teatro Municipal.
A história deste teatro começou em 1913 com a inauguração, com pompa e circunstância do Teatro Nacional, da firma Roque & Santos, projectado e edificado pela Companhia Geral de Construções Económicas e localizado entre a Rua do Bonjardim e a Rua Dom Pedro. Os jornais da época deram à inauguração do imóvel – cuja lotação ultrapassava todas as existentes no país – foros de verdadeiro acontecimento na vida social e cultural da cidade.
Em 1926, a programação do Teatro, que incluía já teatro, ópera e concertos, começou também a incluir a exibição de filmes mudos, acompanhando a vaga de interesse pela sétima arte que varria todos os sectores.
Mudanças profundas na baixa portuense obrigaram, no entanto, a repensar o edifício, que acompanhou a evolução urbana das três décadas seguintes, no fim das quais se desenhou o actual perfil do centro da cidade. Em 1928, começam as obras de restruturação do edifício, originando, em 1932, o Cine-Teatro Rivoli, projectado pelo Engº e Arqº Júlio José de Brito, e propriedade de Manuel Pires Fernandes, dividida com o Banco Borges & Irmão. Suceder-lhe-ia a filha, Dª Maria da Assunção Fernandes (casada com o banqueiro Francisco António Borges), que se destacou pela sua coragem e persistência em transformar o edifício numa grande casa de espectáculos, adaptada para a exibição de cinema, ópera, bailado, teatro e concertos.
Este edifício seguiu o modelo da época, na sua primeira fase de modernidade: volumes e superfícies simples e geométricas, nas quais os elementos decorativos são remetidos para pontos específicos – um baixo relevo, um capitel, um friso, uma grade.
Em 1932, um bilhete para a Geral custava 1$00 e, reza a história, que Manuel Pires Fernandes, empresário e primeiro proprietário, esperava no átrio até determinado momento. Nessa altura, deixava entrar na plateia os clientes que tinha comprado o bilhete para a Geral.
A introdução do cinema sonoro provocou alguns protestos por parte dos frequentadores habituais, que preferiam o cinema mudo.Contudo, a 7ª Arte comovia e empolgava de tal forma os espectadores, obrigando os projeccionistas a repetir algumas cenas mais famosas, rebobinando o filme a instâncias do público.
Entre 1940 e 1946, o edifício sofreu remodelação das fachadas e interiores, com profusos motivos decorativos em gesso. O autor do projecto inicial retocou o exterior do edifício, elevando a platibanda e a fachada na esquina do teatro, para lá colocar um baixo relevo decorativo, do escultor Henrique Moreira. O Rivoli enfrentou assim a praça, entretanto construída à sua frente, com mais dignidade e encanto.
Dois anos mais tarde, o espaço é novamente objecto de intervenção, para «alindar» os interiores, novo mobiliário e decoração de espaços públicos. Maria da Assunção Fernandes, culta e interessada pelo desenvolvimento local, continuou devotadamente responsável pela programação, onde estavam incluidos ópera, concertos, teatro e bailado, mesmo que com prejuízo pessoal e enfrentando todos os opositores.
As estreias foram-se sucedendo com uma programação que contava com a presença da Companhia Nacional de Teatro, Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, Maria Matos, Vasco Santana, etc., que marcou a história da cultura portuense, especialmente brilhante entre os anos 40 e 60, período áureo da gestão de Maria Assunção Fernandes, cujas preocupações beneméritas se uniam à curiosidade intelectual e estética.
Na década de 1970, a imagem do Teatro sofreu um revés, provocado por uma má situação financeira. O Rivoli começou a degradar-se, com equipamento obsoleto, sem programação regular ou público próprio, o que fez com que em 1989 a Câmara Municipal do Porto decidisse comprá-lo, para devolver à cidade e aos espectadores um espaço inegavelmente ligado à sua memória.
Em 1992, este edificio fechou para uma total remodelação, projectada pelo Arqº Pedro Ramalho. A área existente de 6.000 m² foi ampliada para mais de 11.000m², criando-se um Auditório Secundário, um Café-concerto, uma Sala de Ensaios e um Foyer de Artistas, assim como espaços para os Serviços Administrativos e os Serviços Técnicos.
O programa de recuperação proposto pela Câmara Municipal do Porto pretendia transformar a estrutura convencional de teatro-cinema (onde todos os espaços se organizam em função da sala de espectáculos), num centro multi-funcional cultural e social. O teatro sofreu uma total remodelação nos seus espaços e na programação, apostando na funcionalidade de uma estrutura pensada para responder ao público, aos criadores, a múltiplas linguagens artísticas e às exigências dos frequentadores dos diversos serviços.
Em Outubro de 1997, o Rivoli Teatro Municipal reabriu as suas portas, depois de três anos de obras, completamente renovado e com gestão da Culturporto. Pólo cultural que agora tem mais um auditório – o que permite muitas vezes a apresentação de espectáculos em simultâneo –, sala de ensaios, espaços de convívio e restauração, apetrechado para todos os tipos de espectáculo, da ópera ao novo circo.
Em 2006, a Câmara Municipal do Porto anunciou a decisão de entregar a gestão financeira e cultural do Teatro Rivoli a entidades privadas. Em Outubro, cerca de 30 pessoas, na sua maioria elementos do Teatro Plástico, barricaram-se no interior do Rivoli, em protesto pela sua privatização, manifestação que ficou conhecida por "Rivolição".
Em Dezembro de 2006, a maioria PSD/CDS-PP no executivo, em reunião extraordinária privada, decidiu conceder a gestão do teatro ao produtor e encenador Filipe La Féria por um período de quatro anos com início em 1 de Maio de 2007. Seguiram-se duas providências cautelares que visavam anular o acordo, da parte da Plateia (uma das concorrentes) e do Partido Socialista.
Em relação à primeira, o Ministério Público considerou que a concessão do Rivoli tinha sido irregular. O Tribunal Central Administrativo do Norte revogou a sentença da primeira instância que anulava a decisão do Executivo de entregar a gestão do teatro municipal a Filipe La Féria.
Actualmente, o Rivoli é gerido por uma empresa constituída por Filipe La Féria, a Todos ao Palco, que paga à Câmara Municipal do Porto 5% das receitas de bilheteira.
Sob a nova gestão realizaram-se os espectáculos como: Jesus Cristo Superstar (150 mil espectadores); Música no Coração (50 mil espectadores); Violino no Telhado; Piaf (5 mil espectadores); A gaiola das loucas; Annie.
Este ano, o Rivoli Teatro Municipal recebe o Fantasporto 2012. Quem quiser assistir a este festival basta deslocar-se à cidade do Porto e dirigir-se à Praça D. João I, onde se encontra este maravilhoso teatro que oferece diversos serviços como: o Café-Concerto Restaurante, onde para além da função gastronómica, também oferece ao visitante espectáculos de pequeno formato; uma livraria; um grande auditório que consegue albergar perto de 1600 pessoas, divididas pela plateia, 1ª e 2ª plateia, 1º e 2º balcão; um Café-Bar e um pequeno auditório de 174 lugares idealizado para espectáculos mais reduzidos.
Um exemplo de como é possivel manter estes belos monumentos, dando-lhes uma nova vida e uma nova oportunidade.
Fontes: https://restosdecoleccao.blogspot.com/2013/11/teatro-rivoli.html