19.5.09

Imperial vs. Pathé

Lisboa teve (e ainda tem!) salas de cinemas que começaram por ter uma designação e depois ganharam outra ao longo dos anos.

Na primeira metade da década de 1920 surgiu um novo cinema no Bairro de Arroios (Rua Francisco Sanchez, nº 154) de seu nome Pathé Cinema, passando a servir um amplo núcleo populacional, que viria a frequentá-lo com uma considerável frequência. Este espaço era composto por 737 lugares, distribuídos por 132 nos balcões; 69 fauteils; 504 cadeiras na plateia e 8 camarotes de 4 entradas cada. O número elevado de cadeiras indicava as características populares da sua frequência habitual.
Em 1931 a empresa que geria este cinema resolveu fazer obras de beneficiação, nomeadamente na estrutura da sala, como também uma modernização dos equipamentos e instalação de um sistema sonoro. Todas estas modificações obedeciam às exigências com a segurança e conforto dos espectadores explanadas no Regulamento dos Teatros, publicado em 1927, como também no Decreto-Lei que cria, posteriormente, a Inspecção-Geral dos Espectáculos. A partir de então, foram exigidas licenças de funcionamento após a aprovação dos projectos e das vistorias respectivas. Tornou-se obrigatório o registo prévio do exercício da actividade e impôs-se a existência de uma autorização, sob a forma de visto, para a realização de cada espectáculo. As modificações eram visíveis através do maior espaçamento entre as cadeiras; da introdução de coxias laterais; da largura estipulada para as escadas de acesso e das medidas que deveriam ser tomadas relativamente à iluminação suplementar e bocas-de-incêndio. A partir daí a sala passou a chamar-se Imperial Cinema, nome que recebeu logo de início uma aceitação muito maior por parte dos seus frequentadores. 

Em 1956 este cinema voltava a sofrer alterações, sob o risco do Arqt.º Fernando Silva (autor do projecto do Cinema São Jorge), nomeadamente na planta da sala que ficaria mais reduzida, perfazendo no total 576 lugares distribuídos por 135 nos balcões; 417 lugares na plateia e 6 camarotes de 4 entradas cada, oferecendo assim uma maior comodidade aos seus espectadores. Com o surgimento das grandes salas, o Imperial tinha forçosamente que se modernizar, mas mesmo assim foi conquistando um publico fiel até que, na década de 70, foi tomada a decisão de demolir o edifício e construir outro novo e modernizado no seu lugar.







Este cinema iria passar por uma radical remodelação que faria renascer um novo cinema, que iria recuperar a designação original de Pathé em 1973,  deixando de ser uma sala de reprise para passar a cinema de estreia, acompanhando outras salas de cinema mais prestigiadas. Na década de 1980, começou a perder publico progressivamente.



Segundo um familiar do antigo gerente deste cinema, em 1986, o cinema estava reduzido ao espaço dos antigos balcões, enquanto a sua plateia estava transformada numa discoteca, com concertos de rock.


Bilhete de concerto na Discoteca Pathé de 26.07.1986 (colecção Carlos Caria)

A última sessão de cinema decorreu no dia 4 de março de 1987, com o filme "Os Gloriosos Malucos da Academia do Volante". Após o seu encerramento como cinema, este espaço funcionou como discoteca "Danceteria", até à década de 1990.


O Pathé, como muitas outras salas em Lisboa, não resistiu à marcha do tempo e encontra-se actualmente entijolado e abandonado em Arroios, servindo de abrigo aos sem-abrigos. Embora o edifício encontre-se erigido, já está completamente descaracterizado e sem qualquer tipo de estética.


A 12 de Setembro de 2019, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou um projecto de construção de um hotel, no edificio onde funcionou este antigo cinema, o que implicará a sua demolição. No novo espaço será constituído por sete andares e dois pisos em cave. Até ao momento, não se sabe qual será a data de arranque das obras de demolição deste edificio.


Fonte:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
RIBEIRO, M. Félix, Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca Nacional, 1978
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2015/10/pathe-e-imperial-cinemas.html
https://museudoscinemas.wordpress.com/2024/01/25/o-cinema-que-esteve-sempre-entre-imperial-e-pathe/
http://xinho-omeublogue.blogspot.com/2009/01/bilhetes-de-cinema.html

2 comments:

Recuando à primeira década de Vinte, abriu ao público na Rua Francisco Sanches, 154, a dois passos da Av. Almirante Reis,um novo cinema de bairro, a sala de espectáculo com o nome «Pathé Cinema».
No Verão de 1931 fazem obras, melhoram equipamento e instalam um sistema que permitiu a exibição de filmes sonoros!
E a sala passou a denominar-se «Imperial Cinema».

[ao público, dava mais jeito chamar 'Cinema Imperial'].

Em 1956, voltou a introduzir importantes alterações com uma remodelação radical e, renasce uma nova casa de espectáculos, ao mesmo tempo que regressava ao primeiro indicativo de 'Pathé' - nome da famosa empresa cinematográfica francesa (irmãos Émile e Charles Pathé -os populares irmãos Pathé Frères.
A partir de 19 de Dezembro de 1973 após novas alterações, melhorada a comodidade e outras beneficiações, reabriu ao público como «Cinema Pathé», passando de sala de reprise a cinema de estreia, acompanhando os mais prestigiosos cinemas de estreia de Lisboa.
A qualidade da programação era garantida pela selecção de Filmes Castello Lopes e Filmes Lusomundo.

Posso dizer uma coisa?... faz pena escrever sobre toda uma dedicação e esforço de décadas para, como se costuma dizer, 'morrer tudo nas cascas'!

Nos anos sessenta vinha passar alguns dias de férias de verão a casa de familiares que à data residiam em Lisboa. Fui uma vez a uma sessão de cinema ao Imperial ver um filme sobre o Sandokan que salvo erro se chamava "Sandokan contra o leopardo de Sanduke". Gostei tanto que durante meses li todos os livros que havia editados e que encontrei do Emílio Salgueiri. Não voltei mais ao Imperial com muita pena!