Outrora, existiu um cinema emblemático junto à Rua das Portas de Santo Antão, e que deixou de servir os lisboetas cinéfilamente para passar a servi-los gastronómicamente. Pelo menos, foi salvo da destruição ou da morte lenta.
A origem do cinema Condes remonta ao séc. XVIII, onde foi erigido, nos terrenos que pertenciam aos Condes de Ericeira, um primitivo teatro com a traça do arquitecto italiano Petronio Manzoni.
Esse edificio ficou conhecido como o Teatro da Rua dos Condes. Por este palco passaram muitas companhias nacionais e estrangeiras, apresentando os mais diversos espectáculos.
Devido ao seu mau estado, este edificio começou a ser demolido em 1882, tendo originado um novo teatro em 1888, sob o projecto de Dias da Silva e construção de João Calar.
O dono deste novo teatro era o abastado comerciante Francisco de Almeida Grandela, que originou os Armazéns Grandela em 1912, bem conhecidos pelos portugueses.
Theatro da Rua dos Condes, inaugurado a 23 de dezembro de 1888 |
Bilheteira |
Planta e preçário |
Notícia da inauguração no "Diário Ilustrado" |
Notícia da inauguração no "Diário Ilustrado" |
Teatro da Rua dos Condes - 1903 |
Companhia do Theatro da Rua dos Condes, do actor Alves da Silva - 1909 |
A peça "A Pavorosa" - 1909 |
Pano publicitário no palco do Theatro da Rua dos Condes |
Durante 27 anos este teatro manteve-se operacional... acabando por encerrar as suas portas devido ao fracos resultados financeiros em 1915.
Contudo, Leopoldo O'Donelll e Júlio Petra Viana, exploradores do Cinema Olympia, e Carlos Sodré, funcionário superior da Companhia dos Tabacos, resolveram comprar o antigo teatro e começá-lo a explorar cinematográficamente.
Em 1915, inicia-se a temporada de cinema com a exibição de um filme italiano em 5 partes, chamado Cleópatra.
No entanto, ao longo dos meses, esta exploração não conseguiu ser satisfatória, forçando a entrada em cena de José Martins Castello Lopes, homem ligado ao cinema que, em acção conjunta com outros empresários do ramo, adquiriu o teatro, efectuando algumas obras na sala.
Em 1916, dava-se inicio à exploração cinematográfica do Condes pela empresa "Castello Lopes,Lda", passando a utilizar no seu frontão o nome pelo qual ficou eternamente conhecido: "Cinema Condes".
A cidade de Lisboa passava a ter cinco importantes e vastos salões de estreia: Chiado Terrasse, Salão Trindade, Salão Central, Olympia e o Condes, que dividiram entre si o entusiasmo do público que, nessa época, já estava conquistado pela magia do cinema.
Estas salas procuravam atrair espectadores através de uma programação diversificada onde pontificavam filmes das mais variadas origens.
Em 1919, José Martins Castello Lopes deu inicio a grandes obras no interior do edificio, alterando consideravelmente a planta original, como também a disposição e o ambiente da sala apliando-a, tudo para conseguir angariar mais público.
Até á abertura do Cinema Tivoli em 1924, o Condes era a mais bem frequentada sala de Lisboa onde, como era costume nestas casas de espectáculos, os seus "habitués" tinham os seus lugares reservados semanalmente nos camarotes e balcão. E tudo isto, graças uma excelente programação que projectava obras de grande interesse na história do Cinema.
Em 1951, a empresa Castello Lopes resolveu modernizar a sala do Condes, visto que já não se enquadrava nas necessidades dos espectadores de cinema.
Assim, decidiu-se construir um novo Condes no lugar do edificio original. O projecto da autoria do Arqº Raul Tojal, e cuja construção ficou a cargo do construtor António Costa, apostou num novo figurino diferente do seu antecessor, destacando-se o grande ecrâ panorâmico e as confortáveis cadeiras em estilo poltrona.
Ao contrário da maioria dos grandes cinemas da época, a cortina não se abria de par em par, mas sim subia e era composta por folhos dourados.
A sala era composta por plateia, 1º e 2º balcão, perfazendo um total de 907 lugares. Os baixos relevos da fachada do novo edificio são da autoria do escultor Aristides Vaz.
Proposta do Arq.º Jorge Segurado, que não teve seguimento |
Obras do Metropolitano de Lisboa - década de 1950 |
Em 1952, é inaugurado o novo Cinema Condes que durante as décadas de 1950, 1960 e 1970 usufruiu de grande popularidade, começando a perder espectadores na década de 1980, muito devido ao aparecimento dos centros comerciais.
No inicio da década de 1960 do Séc. XX, José Manuel Castello Lopes (filho de José Martins Castello Lopes), resolveu deitar abaixo metade deste cinema, por forma a ampliar o ecrã e introduzir o último grito em aparelhagens. Isto deveu-se ao lançamento de filmes em 70 milímetros e conversão de filmes antigos.
Em 1967, este cinema sofreu um incêndio que deixou a plateia calcinada. Mas reabriu ao publico 38 dias depois com o filme "Incerto Amanhã".
Essa perda levou a algumas obras de restauro no inicio da década de 1990, sendo criadas novas zonas de bares, instalado ar-condicionado na sala, bem como outras melhorias técnicas, nomeadamente a instalação de um novo e moderno sistema de projecção e de som.
Com estas obras, o Condes voltou a reerguer-se e durante a primeira metade da década de 1990, tendo atraído imenso público, voltando a ter muitas sessões esgotadas. Só que a desertificação do centro da cidade empurrou para o encerramentro deste cinema em 1997, tal como outros gigantes seus contemporâneos que foram encerrando e desaparecendo ao longo do tempo.
Classificado como imóvel de interesse público, o Condes salvou-se da morte certa e da demolição e, após vários anos de indecisão, acabou por ser convertido num Hard Rock Café em 2003, mantendo até à actualidade a sua fachada original, para gáudio dos amantes da arquitectura de outrora que tanto dignificou a cidade de Lisboa.
- Félix Ribeiro, M. Os mais antigos cinemas de Lisboa 1896-1939 (1978). Cinemateca Nacional
- https://restosdecoleccao.blogspot.com/2014/09/cinema-condes.html
- https://arquivos.rtp.pt/conteudos/os-restauradores-e-a-avenida/
- https://arquivos.rtp.pt/conteudos/o-cinema-que-vemos-e-para-alem-das-fitas-parte-i/
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