Outro cinema que se pode comparar ao exemplo mencionado anteriormente é, sem dúvida, o Salão Ideal.
A sua origem remonta ao inicio do Séc. XX, mais concretamente a 1904, quando um fotógrafo chamado João Freire Correia (e que em 1909 viria a fundar a Portugália Filmes) associa-se a D. Nuno de Almada e ambos adquirem um espaço abandonado na Rua do Loreto, na zona do Chiado. Nesse mesmo ano, deslocam-se a Paris (sede da Léon Gaumont e da Pathé Frères) para adquirirem as aparelhagens de projecção que precisavam.
Foi o primeiro espaço a ser construído exclusivamente para a exibição cinematográfica, visto que o cinema estava a tornar-se no hobbie preferido dos lisboetas.
Também a sua excelente localização contribuiu para o seu imediato sucesso, visto que era acessível a outros públicos vindos de Campo de Ourique, Estrela, Lapa e São Bento devido à rede de transportes existentes.
Entre 1904 e 1908 este espaço teve um enorme sucesso, mas a partir de 1908 o público começou a espalhar-se por outros espaços dedicados ao cinema que apareciam repentinamente, o que provocou o seu declínio. No entanto, o barracão e os anexos deste espaço foram adquiridos por Júlio Costa (filho de comerciante e considerado o primeiro industrial do cinema e responsável pela Empresa Cinematográfica Ideal) e por João Almeida, formando assim a empresa Almeida&Costa. Este último renovou o espaço, construindo assim um ambiente mais acolhedor e propicio ao público.
Também foi introduzido o "cinematógrafo falado", que consistia num grupo de pessoas que iam reproduzindo ruídos e sons adequados por detrás de uma tela e essa ideia conquistou os espectadores. Em 1912, Júlio Costa associou-se a Carlos Carvalho efectuando obras de remodelação no espaço, como também introduzindo músicos que acompanhavam os filmes e animavam musicalmente os intervalos.
Em 1925, os edifícios com os nº 13 a 19 da Rua do Loreto e 12 a 18 da Rua da Horta Seca foram comprados pela Casa de Imprensa. Em 1926, a Caixa da Previdência e o Sindicato dos Profissionais da Imprensa instalam-se na Rua do Loreto e foi essa coabitação que deu origem ao nome Casa da Imprensa. A Caixa da Previdência ocupou a sobre loja, com serviços administrativos e posto médico, e o Sindicato funcionou no 1º andar, continuando o Animatógrafo "Salão Ideal" a funcionar.
Entre 1949 e 1956, este espaço sofreu alterações da autoria do Arq.º João Simões, que se baseou em vários cinemas estrangeiros.
Apesar de todas as inovações este cinema teve um percurso complicado, o que levou às suas inumeras reincarnações: começou como Salão Ideal, depois para Cinema Ideal, passando por Cine Camões e acabando na designação de Cine Paraíso.
A sua programação também foi atribulada...começou por ser de estreia, depois passou pela reprise, descendo à condição de "piolho" com dois filmes por sessão (mantendo a designação de Cinema Ideal); adoptou o nome de Cine Camões exibindo filmes indianos e como Cine Paraíso rendeu-se aos filmes pornográficos, apesar da tentativa infrutífera da cooperativa Cinema Novo de implementar uma programação normal há alguns anos atrás.
Relativamente ao seu tamanho, é uma sala de pequenas dimensões e contém cadeiras que pertenceram ao saudoso Cine-Teatro Monumental, o que lhe confere uma certa grandiosidade.
Cine Camões, 1978 (Revista Panorâmica) |
Entretanto, e para gáudio dos moradores do Chiado e cinéfilos em geral, este cinema volta a reabrir em 2014 com a designação original de Cinema Ideal.
Este cinema foi renovado através de um projecto da autoria do Arq.º José Neves por meio milhão de euros, sem qualquer ajuda por parte da Secretaria de Estado da Cultura, e tudo através da produtora Midas Filmes que resolveu apostar neste espaço com uma nova programação, que vai dar prioridade a filmes independentes (portugueses, europeus, etc.) de todos os géneros (ficção, documentário, animação, curta-metragem), como também a clássicos internacionais. Também haverão sessões para públicos específicos (escolar e idosos) e uma estreita colaboração com as Juntas de Freguesia limítrofes.
Também haverá a associação com todos os pequenos distribuidores independentes, produtores e realizadores portugueses, como também com os mais importantes festivais de cinema que decorrem em Lisboa (Indie, DOC, Queer, etc.).
A sala foi restaurada com novos revestimentos do chão e pinturas de tectos e paredes, como também nova instalação eléctrica e ar condicionado. Será equipado com projecção de imagem e som digital,com novo ecrã e novas cadeiras.
O foyer ligado à rua será um espaço de convívio com balcão de cafetaria e mesas de leitura e de estar, espaço onde haverá jornais, livros e dvd's para consulta, em articulação com o Salão Ideal.
A fachada exterior também foi renovada, tendo sido retomada a antiga caixa de luz e néons, típica dos cinemas de bairro, e onde se destaca a programação.
A capacidade da sua sala é de 200 lugares, ditribuidos pela plateia (132) e balcão (60) e o seu horário é de 14 horas por dia aberto. O fim-de-semana irá privilegiar as sessões dedicadas à familia. O preço dos bilhetes oscilará entre os 5€ (às 5ª feiras "Dia Ideal", e nas primeiras sessões até às 13h00) e os 7€ (sessões da noite). As sessões da tarde (até às 18h30) custarão 6€ (sessões especiais, a indicar pela Midas Filmes, detentores dos cartões jovem e de estudante).
Fonte:
http://www.casadaimprensa.pt/wp-content/uploads/2013/12/CINEMA-IDEAL_Conferencia1.pdf
http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.pt/2012/12/rua-do-loreto-iv.html
http://aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.pt/2012/12/rua-do-loreto-iii.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2009/12/paraiso-1904-actualidade.html
http://www.lxnoticias.pt/noticias/253-ja-pode-ir-ao-cinema-na-sala-mais-antiga-de-lisboa.html?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/de-pedro-costa-a-salaviza-o-cinema-ideal-vai-ser-um-cinema-de-todos-e-para-todos-1614999#/1
http://observador.pt/2014/08/28/cinema-ideal-reabre-ao-publico-e-estreia-filme-premiado-de-joaquim-pinto/
http://observador.pt/2014/08/28/lisboa-ja-tem-um-cinema-ideal-veja-como-e/