Depois de dois capítulos dedicados aos antigos animatógrafos de Lisboa, regresso a esta era do inicio do Séc. XX para falar de mais alguns locais emblemáticos que se dedicaram ao cinema durante algum tempo.
Por volta de 1910, mais concretamente no inicio da Calçada da Estrela, abria ao público o Casino Étoile, mais um recinto que viria a satisfazer os desejos cinematográficos dos lisboetas, embora por pouco tempo.
A partir de 1915, este espaço viria a largar a exploração cinematográfica para se transformar num local dedicado ao teatro, especialmente pequenas revistas a par de companhias de teatro infantil (que na altura eram muito apetecidas). A sua designação passou a ser de Teatro Estrela e, depois, Salão Teatro de Variedades. Contudo, este teatro viria a encerrar as suas actividades em 1918.
Este edifício exteriormente era muito incaracterístico, sem qualquer atributo arquitectónico digno de registo. A sala era constituída por uma plateia e um balcão de frente, que se continuava por um e outro lado, cujo acesso era feto por uma escada de pedra, comportando uma lotação de 500 espectadores. O palco (e o ecrã quando se realizavam sessões de cinema) ficava do lado oposto à entrada da sala.
Os bairros típicos de Lisboa acolheram com muito entusiasmo a actividade cinematográfica que surgiu em Lisboa no inicio do Séc. XX. Pelo menos, alguns bairros tinham o seu espaço dedicado ao cinema: Mouraria com o seu Salão Portugal; Bairro Alto com o seu Salon Rouge; Alcântara com o seu Salão Alcântara e o Cinema Promotora; Graça com o Royal Cine, o Gil Vicente, a Voz do Operário e o Salão Recreio. O Bairro da Madragoa iria seguir estes exemplos e também teria o seu animatógrafo, localizado na Rua das Trinas (precisamente onde existira anteriormente uma modesta sala de teatro designada de Teatro das Trinas) designado de Salão das Trinas.
Depois das obras concluídas, este salão abriria as portas ao público em 1919, mas a sua exploração cinematográfica não duraria muito tempo. A partir da década de 1940, este espaço iria desaparecer definitivamente, não restando qualquer vestígio da sua existência actualmente.
Continuando pelo Bairro da Madragoa, outro animatógrafo iria surgir em 1924 instalado no antigo Convento das Bernardas, localizado na Rua da Esperança, designado de Cine Esperança. Contudo, este espaço teria o mesmo destino do Salão das Trinas e, em pouco tempo, viria a fechar portas, comprovando-se que os habitantes deste bairro não estavam interessados no cinema.
Seguindo para o Bairro da Graça, este seria aquele que viu surgir o maior número de animatógrafos no inicio do Séc. XX. Primeiro surgiu o Salão Recreio da Graça, seguido do Salão Voz do Operário, os cinemas Gil Vicente e Royal Cine.
o Salão Recreio da Graça localizava-se na Rua da Infância e abriu ao público em 1917, sendo uma sala despretensiosa, mas limpa e cuidada. Apesar das suas cómodas instalações, viria a fechar as portas um ano depois devido à carência de público, embora na altura exibisse teatro e cinema conjuntamente.
Em 1919, este espaço sofreria obras de melhoramento, cujo resultado foi mais agradável e cómodo para os seus frequentadores, que acorreram com entusiasmo ao novo espaço que iria durar até à década de 1930.
Por esta altura, a zona do Chiado era uma das mais privilegiadas relativamente aos animatógrafos. Para além do Cinema Ideal e do Chiado Terrasse, também existia o Salão Trindade.
Este salão localizava-se na Rua Nova da Trindade, instalado entre o teatro com o mesmo nome e o Teatro Ginásio. Ocupava o espaço correspondente à entrada actual dos serviços de avarias e do automático da Companhia de Telefones, que iria adquirir na década de 1920 o edifício onde ficava este salão.
Este espaço abriu as portas ao público em 1909, destinado inicialmente para um público mais popular, e sem grandes comodidades, como era normal em tantas outras salas da época, visto que o público era pouco exigente e só queria vislumbrar o que a tela oferecia. Contudo, também este salão sofreu alterações a nível das comodidades para com isso fidelizar a sua clientela.
Embora fosse um espaço popular, isso não significava que outros públicos não acorressem ao mesmo para ver cinema.
Com o passar do tempo e com a abertura de novas salas, os empresários da indústria cinematográfica viram-se forçados a introduzir melhorias nas salas e seus anexos, como nas instalações das próprias cabines, substituindo as obsoletas e barulhentas máquinas de projecção por aparelhagens mais modernas e capazes.
Em 1917, iniciaram-se obras de certo vulto neste espaço, com modificações significativas na estrutura interior original. No entanto, em 1921 este espaço foi comprado pela Anglo Portuguese Telephone Company, tendo sido posteriormente demolido.
Em 1912, os lisboetas tinham à sua disposição (tal como iria acontecer anos mais tarde com a abertura do Parque Mayer) um amplo recinto de diversões designado de Paraíso de Lisboa.
Este espaço localizava-se no inicio da Rua da Palma, estendendo-se até ao coliseu da Rua da Palma (pertencente ao Conde de Folgosa).
Dentro deste recinto destacava-se um rink de patinagem, palco dos primeiros ensaios de cinema falado, realizados por técnicos franceses da Gaumont, em colaboração com João Freire Correia. Um salão de cinema completava todo este conjunto posto à disposição dos seus frequentadores.
Contudo este espaço viria a fechar portas em 1921 por falta de clientela.
Fonte:
- RIBEIRO, M. Félix, Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca Nacional, 1978
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2011_03_01_archive.html
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/12/salao-das-trinas-1919-1942.html
- http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/imovel-da-rua-das-trinas-67-a-73
- http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/convento-das-bernardas-do-mocambo
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/12/salao-recreio-da-graca-1917-1936.html
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/08/salao-trindade-1909-1923.html
- http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/09/teatro-da-trindade.html
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/06/paraiso-de-lisboa-1912-1920.html