Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

31.5.10

Bélgica vs Universal vs Rock Rendez Vous

Já abordei neste blog a tranfiguração de diversos cinemas de Lisboa...o Vox que passou a King Triplex, o Imperial que passou a Pathé, o Lys que passou a Roxy...
Hoje vou mais longe e vou falar de uma sala de cinema que transfigurou-se por três vezes: foi baptizada com o nome Cine-Bélgica, depois Universal e, por fim, virou sala de espectáculo recebendo o mítico nome de Rock Rendez Vous.

Gustavo Fernandes Pereira da Costa resolveu transformar um barracão em alvenaria, do qual era era dono, e inaugurou em 1928 o Cine Bélgica no Bairro do Rego, mais concretamente na Rua da Beneficiência, nº 175 (algures entre a Cidade Universitária e o Entre Campos), sendo que este espaço poderia albergar 500 espectadores. Os trabalhos de transformação ficaram a cargo do construtor civil Domingos Pinto.

Em 1933, o espaço é sujeito a obras de beneficiação entre as quais ao nível da cabine, de modo a poder instalar uma aparelhagem reprodutora de som, da marca R.C.A. Photophone.
Dotado de um balcão e de uma plateia rudimentar e sem nenhum bufete ou bar de apoio, este cinema sofreu remodelações importantes em 1947, concernente à comodidade e condições de segurança, de modo a assegurar o conforto aos seus espectadores.
A sua fachada abria-se para a rua através de três portas que não escondiam a lógica das novas exigências de segurança que começavam a surgir.
Por esta altura, este cinema passaria a ser gerido por uma nova empresa denominada de Fragoso Fernandes, Lda.
Em 1948, uma nova sociedade sucederia à existente que detinha a exploração do espaço, passando essa empresa a girar sob o nome de António Brito & Costa.



Em 1968 este cinema mudou a designação para Cinema Universitário, para em 1973  passar a ser denominado de Cinema Universal, que era pertencente ao Animatógrafo de Cunha Teles, tornando-se logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 numa espécie de "templo" para filmes "revolucionários". Contudo nem mesmo a mudança de nome fez com que os estudantes da Cidade Universitária frequentassem este cinema, que se encontrava longe dos centros de convívio mais interessantes da cidade.

Este cinema, antes de encerrar definitivamente em 1980, viveu duas épocas de glória. A primeira, mais longa, durou décadas, fazendo com que fosse um concorrente suburbano de outros cinemas como o Olympia, Restauradores, Salão Lisboa, Max Cine, Palatino, Pátria ou Oriente. A segunda época de glória ocorreu pouco depois da Revolução de 25 de Abril de 1974, quando o Animatógrafo de António Cunha Teles começou a exibir clássicos do cinema underground. No entanto foi sol de pouca dura visto que a distribuidora faliu, o que forçou o encerramento deste espaço.







A 18 de Dezembro de 1980, este ciema passou a ser uma sala de espectáculo denominada Rock Rendez Vous. No concerto inaugural participaram o desconhecido Rui Veloso e a sua Banda Sonora. O proprietário desta sala era Mário Guia, baterista de um grupo dos anos 60 chamado Ekos. Para entrar nesta sala era preciso pagar a módica quantia de 300 escudos com direito a música e 200 escudos sem música, mas com direito a parte do consumo.
Esta sala de espectáculos teve como inspiração o famoso Marquee, o mítico clube de Londres onde os Rolling Stones estrearam em 1962. Até então, o circuito rock nacional só passava em sociedades recreativas e palcos improvisados, isto num país que ainda celebrava a chegada da electricidade a algumas localidades mais remotas no inicio da década de 1980. 
O RRV era um espaço diferente, possuidor de um sistema de som JBL a 4 vias e de uma politica de divisão de bilheteira com as bandas que era justa, numa época em que rock e cachês eram duas palavras que raramente se cruzavam. O ambiente deste espaço era afável, onde toda a gente se conhecia, como também recebia-se os novatos de braços abertos. 
Foi um espaço onde pessoas de todo o país convergiam para ouvir novos sons musicais feitos por bandas portuguesas que estavam a revelar-se e outras em ascensão. Muitos artistas passaram por esta sala de espectáculos, como: Adelaide Ferreira, António Variações, Ban, Delfins, GNR, Heróis do Mar, Jafumega, Lena D'Água, Roquivários, Salada de Frutas, Sétima Legião, Xutos e Pontapés, etc.
Devido às reclamações feitas pelos vizinhos a exigir o seu encerramento, às despesas incomportáveis e ao esquecimento por parte das entidades da Cultura que não apostavam neste tipo de música, esta sala fechou portas definitivamente a 27 de Julho de 1990.




2024...o que resta deste mítico lugar? Nada, infelizmente...o edifício onde se situava o Cine Bélgica, Cinema Universal e Rock Rendez Vous foi demolido e, no seu lugar, foi construído outro. No lugar onde outrora existira um cinema e sala musical de culto, agora existe um café chamado Galão 2 e um prédio de habitação. Contudo, o dono do café mantém uma certa mística do local através de fotografias que contam a história do Cine Bélgica, Cinema Universal e Rock Rendez Vous, tornando o local agradável.



Fontes:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
Félix Ribeiro, M. Os mais antigos cinemas de Lisboa 1896-1939 (1978). Cinemateca Nacional
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/sessao-no-cinema-universal/
http//cinemasaoscopos/2009/12/belgica-1961-1979.html http//guedelhudos.blogspot.com/search/label/Rock%20Rendez-Vous
http://blitz.sapo.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=bz.stories/24248
http://www.fmsoares.pt/aeb_online/visualizador.php?bd=IMPRENSA&nome_da_pasta=06888.205.31328&numero_da_pagina=22
http://www.fmsoares.pt/aeb_online/visualizador.php?bd=IMPRENSA&nome_da_pasta=06888.205.31328&numero_da_pagina=23
http://citizengrave.blogspot.pt/search/label/Cine-B%C3%A9lgica
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/x-arqweb/(S(5hlkodrbth0ra3aanemcfl45))/SearchResultOnline.aspx?search=_OB%3a%2b_QT%3aTI__Q%3aCINEMA+EUROPA_EQ%3aF_D%3aF___&type=PCD&mode=0&page=0&res=0&set=%3bAF%3b

13.5.10

Fernão Capelo Gaivota no Apolo 70



Continuando na senda do texto anterior dedicado ao cinema Apolo 70, deixo-vos com a imagem do programa de cinema dedicado ao filme "Fernão Capelo Gaivota" ("Jonathan Livingston Seagull") estreado em 1973 e que contou com uma banda sonora memorável, toda ela composta por Neil Diamond, que fez sucesso na altura. Não consigo precisar o ano em que passou no Apolo 70, mas fica a recordação.


O mítico Apolo70

O cinema estúdio Apolo 70 situava-se num centro comercial na Avª Júlio Dinis, uma tranversal próxima da Praça de Touros do Campo Pequeno. 

O centro comercial foi inaugurado em 26 de Maio de 1971, sendo na altura considerado o maior centro comercial da Europa, com uma área de 3000m, albergando 41 lojas, tais como: bowling de 4 pistas, restaurantes, charcutaria, sapataria, artesanato, papelaria, livraria discoteca, ouriversaria, perfumaria, etc. O seu aparecimento causou um grande impacto na vida lisboeta da altura, e o seu nome honrava a primeira viagem do homem à lua.


Centro Comercial Apolo 70 - 1977

Interior do Centro Comercial Apolo 70 - Década de 1970

Interior do Centro Comercial Apolo 70 - Década de 1970

Dentro deste espaço, também existiu uma sala de cinema que ficou conhecida pela sua envolvência e pela qualidade da sua programação, sendo que na altura o seu coordenador era o escritor de teatro e cinema, e também realizador, Lauro António. 

O filme inaugural foi O Vale do Fugitivo (Tell them Willie Boy is here) de 1969, realizado por Abraham Polonsky e interpretado por Robert Redford, Susan Clark, Katherine Ross e Robert Blake. Com este filme, Lauro António definir uma linha de actuação: exibir cinema de enorme qualidade cinematográfica, estética e cultural, abordando temas importantes, quer viesse de grandes estúdios norte-americsnos, quer fosse oriundo de outros países.

Estreia do filme "O Vale do Fugitivo" - 26.05.1971

Anúncio publicitário do filme "O Vale do Fugitivo" - 27.05.1971


Uma palavra de apreço a Frederico Corado (filho do saudoso crítico de cinema e cineasta, Lauro António), que, no grupo de Facebook "Cinemas do Paraíso" cedeu o programa inaugural completo deste cinema, datado de 27 de Maio de 1971, visto que o seu pai foi responsável pela programação deste cinema, bem como do cinema Caleidoscópio e Estúdio Foco, no Porto.














Projectada pelo Arqt.º Augusto Silva com decoração de Paulo Guilherme, a sala dispunha de 300 lugares e estava equipada com aparelhagem Phillips de projecção para 35mm, ecrã normal e cinemascope.

Interior da sala de cinema do C.C. Apolo 70

À sua inauguração compareceram diversas personalidades importantes, como: os secretários de Estado, César Moreira Baptista (Informação e Turismo) e Xavier Pintado (Comércio), os directores-gerais,Caetano de Carvalho (Espectáculos) e Álvaro Roquette (Turismo), o governador cívil de Lisboa, Afonso Marchueta e o general Tristão de Carvalhais (comandante-geral da PSP).



Inauguração do Centro Comercial Apolo 70 - 26.05.1971

Inauguração do Centro Comercial Apolo 70 - 26.05.1971

Os anfitriões deste evento foram os administradores da empresa proprietária da drugstore: Miguel Sotto-Mayor Aires de Campos (Ameal), Manuel Braamcamp Sobral, Francisco José de Sousa Machado, Nuno Barroso, Lourenço de Almeida e José B.P. Vasconcelos. Este evento incluiu um espectáculo do Duo Elas, Luís Romão e Carlos Portugal.

Antes da Revolução de Abril de 1974, manteve uma programação de qualidade, revelando obras de autores consagrados, bem como de cineastas estreantes. Foi a primeira sala estúdio a ser gerida por um crítico de cinema, Lauro António, que, na altura escrevia para o jornal "Diário de Lisboa".

Este cinema pertencia ao grupo Lusomundo, cujo administrador e director era o Tenente-Coronel Luís Silva, que impulsionara o grupo com uma nova dinâmica, transformando rapidamente duas importantes distribuidoras, a Lusomundo e a Sonoro Filmes, no maior grupo de exploração cinematográfica do país.

De certa forma, Lauro António pretendia com este cinema renovar o panorama cinematográfico lisboeta e nacional, inventando novos horários, como o horário da meia-noite, com uma sensacional "Meia Noite Fantástica", principiada no Cinema Vox, bem como o horário da hora do almoço.
Criou-se um programa impresso, como não existia antes nas salas portuguesas, distribuído gratuitamente como acompanhamento de cada novo filme, com criteriosos textos informativos e críticos.
Organizavam-se ciclos, retrospectivas e pequenos festivais de cinema, que antecipavam algumas estreias.

Os preços variavam: Tardes de semana: 15$00; Noites de semana: 25$00; Tardes e Noites de Sábados, domingos, feriados e estreia: 30$00; Filmes em Retrospectiva: 15$00 (estudantes: 10$00); Meia Noite Fantástica: 20$00 e Manhã Infantil: 15$OO (crianças 7$50).

A sala de cinema entretanto fechou em 1990, sendo substituída por um restaurante. Contudo, o centro comercial continua a operar actualmente, talvez sem o fulgor de outrora mas com a certeza que faz parte da cultura lisboeta.



Fontes:
http://www.apolo70.com/
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2016/09/primeiros-centros-comerciais.html
http://estudioapolo70.blogspot.com/
https://amensagem.pt/2021/05/26/recordando-o-estudio-apolo-70-cronica-lisboa-cinema-lauro-antonio/
http://guedelhudos.blogspot.com/search/label/Cinema%20Apolo%2070
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/inauguracao-do-apolo-70/
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/estreia-de-filme-no-cinema-apolo-70/

Cinema de Ermesinde: a sala de chuto improvisada

Hoje vou falar-vos de um cinema que, a par de muitos que se encontram em profundo estado de definhamento, ainda não foi planeado nada para salvá-lo de dito e triste fim.


De acordo com o blogue "Porto Sombrio", existe a referência a um Cine-Teatro de Ermesinde, datado da década de 1920 do Séc. XX, tendo o mesmo sido palco das actuações da União Dramática Beneficente de Sá, fundada em 1929.

Contudo, não parece que essa referência diga respeito a este edifício em betão, que se encontra actualmente devoluto. Apesar de não haver informações sobre o ano da sua construção e quem foi o seu arquitecto, especula-se que tenha sido erguido entre as décadas de 1950 e 1960 do Séc. XX (apesar do seu estilo Art Deco austero, típico da década de 1940).

Este cinema foi explorado por Cunha Reis, presumívelmente até meados da década de 1970, tendo acompanhado a procura crescente da população local pelas artes do espectáculo e, sobretudo, pelo cinema. Após a sua morte, o filho foi obrigado a encerrá-lo devido à quebra da procura  pelo cinema, graças ao vídeo (um fenómeno que afectou muito cine-teatros espalhados pelo país).





O Cinema de Ermesinde, encontra-se actualmente devoluto e funciona como uma "sala de chuto", que em nada contribue para a sua história.

A nível autárquico também nada se encontra programado para salvar este velho e degradado edificio que poderia ser reutilizado como um equipamento social proveitoso para os ermesindenses. Contudo, o imóvel não é propriedade pública e o seu dono pede uma avultada quantia monetária, o que poderá contribuir para o processo de recuperação se encontrar parado, sem qualquer avanço em vista.

É pena que os portugueses não saibam apreciar e preservar as suas memórias...quer em Lisboa, como no Porto e até em Ermesinde, existem monumentos arquitectónicos cujas memórias deveriam ser respeitadas e não enxovalhadas. Ver um edificio, antigamente no seu esplendor como sala de cinema, servir de "sala de chuto" é, no mínimo, degradante e insultuoso...e mais insultuosa é a atitude de indiferença de quem manda e de quem pode intervir...que simplesmente fecha os olhos perante tal situação, como se fosse algo banal. Não deveria ser...é o estado triste de um país que não faz nada para recuperar as suas memórias...cinematográficas e não só.

Em 2020, a C.M. de  Valongo formalizou uma proposta de aquisição deste antigo cinema ao Centro Social de Ermesinde, por forma a iniciar o seu processo de recuperação e a colocá-lo novamente ao serviço da comunidade.


Fontes: 
http://www.avozdeermesinde.com/noticia.asp?idEdicao=339&id=10685&idSeccao=3728&Action=noticia
http://postaisdeermesinde.blogspot.com/2009/01/cinema-de-ermisende.html
https://www.timeout.pt/porto/pt/noticias/antigo-cinema-de-ermesinde-vai-ser-recuperado-071620
http://portosombrio.blogspot.com/2016/03/cine-teatro-de-ermesinde.html

8.1.10

Nimas: Mais um triste fado...ou não?




Este tópico é dedicado uma pequena sala de cinema, que conseguiu manter-se activa ao longo de quase 50 anos. 

Falo-vos do Cinema Nimas, situado na Av.ª 5 de Outubro em Lisboa. Agora já não se apelida de Cinema Nimas, mas sim Cinema Medeia Nimas

Na década de 1960 surgiram em Lisboa diversos cinemas inseridos em edifícios de habitação, como o Estúdio 444, Cinema Mundial, Cinema Vox, entre outros.

O Cinema Nimas foi à boleia desses espaços, tendo sido inaugurado a 10 de Outubro de 1975 com o filme "Que Viva a Revolução", realizado pelos irmãos Paolo e Vittorio Taviani, e interpretado por Marcello Mastroianni. 



Anúncio do Diário de Lisboa - 08.10.1975





Na época, era propriedade do Cine-Rádio Estúdio GL, Lda., sociedade de que é sócio maioritário o R.C.P.

Sempre foi considerada uma sala pequena (200 lugares), simpática, bem situada, com uma boa programação. Neste mesmo ano, Lauro António lançou a sua primeira curta-metragem "Vamos ao Nimas", já nessa época um testemunho do desaparecimento dos cinemas de bairro ou de reprise.

Segundo Lauro António, "nimas" era a designação popular para se referir ao cinema, enquanto sala. As salas maiores como o Monumental ou Tivoli não tinham esta designação, porque eram salas de gabarito. Já outras salas como o Olympia e Salão Lisboa, mais direccionadas para o povo, tinham esta designação. O "nimas" era o piolho, que exibia filmes de cowboys, acção, policiais, melodramas e comédias descabeladas antes de 25 de Abril de 1974. A partir daí, começou a exibir filmes pornográficos.

Fotografia de Fernando Gonçalves - Facebook "Regresso ao Passado"





O Cinema Nimas começou a sua existência com a exibição de filmes de autor, provenientes dos EUA, Itália, França, Alemanha, entre outros. Um dos casos mais emblemáticos foi a exibição, durante 8 meses, do filme "Chove em Santiago" de Hélvio Soto, estreado a 29 de junho de 1976, uma co-produção franco-búlgara sobre o golpe militar que derrubou o presidente chileno, Salvador Allende, em 1973. Apesar das críticas arrasadoras, o filme encantou muitos lisboetas, que faziam filas à porta do Nimas.



Foi neste cinema que, na estreia do filme "As Horas de Maria" de António Macedo em 4 de Abril de 1979, que ocorreu um grave incidente provocado por católicos conservadores, que tentaram impedir a projecção do filme. A estreia teve uma forte protecção policial, visto que houve ameaças anónimas que prometiam incendiar o cinema. Contudo, vários espectadores, bem como o crítico Tito Lívio e Eugénia Bettencourt, a intérprete do filme, foram violentamente agredidos à saída do cinema.


Um dos sócios deste cinema foi o Capitão Baptista Rosa, conhecido jornalista, realizador e produtor ligado, durante anos, aos Serviços Cartográficos do Exército e à RTP. Com a sua morte em 1982, a sua viúva, Laura Baptista Rosa, assume a exploração do cinema, tornando-se na primeira mulher a desempenhar essa função em Portugal. Conseguiu a façanha de manter este cinema à tona durante o resto da década de 1980, perante o aparecimento dos multiplexes e a desertificação da cidade, complementando a exibição de filmes, com outras formas de ocupação da sala. 
Assim, em 1983, o Cinema Nimas abriu as suas portas ao programa de rádio “A Febre de Sábado de manhã” de Júlio Isidro, que marcou uma época e foi responsável por trazer ao nosso país pela primeira vez inúmeras bandas de renome internacional.

Em 1993, este cinema começou a ser explorado pela "Medeia Filmes", empresa de Paulo Branco, apostando no cinema europeu (2000), principalmente os filmes franceses, filmes clássicos (2005) e cinema de animação 3D (2008 e 2009). O sucesso da única sala do Nimas veio contrariar a ideia de que uma programação exigente e de qualidade não teria espectadores ou estaria condenada ao desaparecimento. 

Em 2009, aproveitando que a sala de cinema já se encontrava moribunda e quase encerrada, José Maria Branco (filho de Paulo Branco) resolveu fazer do antigo cinema uma nova sala de espectáculos, de modo a reutilizar a sala que serviu para encantar telespectadores de outrora. Este espaço continuou a ser gerido pela "Medeia Fillmes", passando a ser o Espaço Nimas. Contudo, Paulo Branco voltaria a gerir este cinema, com a saída do filho para Londres, voltando assim à sua designação original: "Cinema Nimas".

O Nimas manteve-se de portas abertas durante muito tempo com um público fiel sem partilhar o universo dos multiplex. Não vendia pipocas porque era praticamente a única sala que não estava agregada a qualquer centro comercial nos últimos anos. O seu maior defeito era possuir um ecrã demasiado grande para a dimensão da sala. 

Este espaço tem estreado filmes aclamados internacionalmente como Fausto de Aleksandr Sokurov e Noutro País, de Hong Sang Soo. Contudo, também acolhe espectáculos inter/multidisciplinares que passam pelo Teatro, Música, Live Act, Dança Contemporânea, Performance, Video, Instalação Artística, Fotografia, etc.










Actualmente, o Cinema Medeia Nimas consegue albergar 240 espectadores e possui uma projecção de alta qualidade 4K, com som 7.1.



Fontes: 
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
https://restosdecoleccao.blogspot.com/2021/07/cinema-nimas.html
http://diasquevoam.blogspot.com/2010/01/os-cinemas-tambem-se-abatem.html