A história do Cinema Caleidoscópio, situado no Centro Comercial com o mesmo nome, no Jardim do Campo Grande, começa com a anterior existência de um restaurante. O mesmo chamava-se "Alvalade", e fora projectado pelo Arqt.º Francisco Keil do Amaral (1910-1975), junto ao novo Lago do Campo Grande, também por ele projectado. Este restaurante abriu as portas no primeiro trimestre do ano de 1948.
|
Restaurante "Alvalade" |
O Ministro das Obras Públicas, Eng.º Duarte Pacheco, mandou remodelar profundamente o Lago do Campo Grande e a sua zona envolvente, num estilo modernista.
Para o efeito, encomendou o projecto ao Arqt.º Francisco Keil do Amaral, tendo a obra decorrido entre 1944 e 1948.
|
Projecto do Restaurante "Alvalade" |
|
Escultura de António Duarte à entrada do restaurante |
|
Janela do restaurante sobre o lago |
|
Interior do Bar, decorado por Maria Keil (1914-2012) |
|
Salão do restaurante, decorado por Maria Keil |
Depois da demolição deste restaurante, foi construído no mesmo local e inaugurado em Novembro de 1972, um novo edifício de dois pisos, projectado pelo Arqt.º Nuno San Payo, integrando um painel de cerâmica, da autoria da ceramista Maria Emília Silva Araújo. Este edifício foi idealizado para ser um posto de recepção turística, com salas de refeição, bar e várias lojas. Manteve praticamente a mesma designação do restaurante anterior: "Alvalade Restaurants".
|
"Alvalade Restaurant" - década de 1970 |
|
"Alvalade Restaurant" - década de 1970 |
|
"Alvalade Restaurant" - década de 1970 |
Contudo, pouco tempo depois, foi adaptado pelo mesmo arquitecto para ser um centro comercial, conservando-se a fachada, constituída pelo painel de cerâmica de Maria Emília Silva Araújo.
A partir da década de 1970 do Séc. XX assistiu-se, de forma natural, à integração de cinemas em centros comerciais. É inegável que o facto em si foi uma novidade, porque criou a convicção de que era possível reunir num só espaço diversos serviços, como uma nova forma de viver a cidade.
E esta tendência foi tão bem sucedida que assistiu-se ao aparecimento desenfreado de centros comerciais, que reuniam um enorme conjunto de serviços úteis à sociedade.
No seguimento do aparecimento de espaços como Centro Comercial Apolo 70 e o Edificio Castil, o Arqt.º Nuno San Payo (responsável pelo projecto do Cinema Quarteto), procurou adaptar o modelo num espaço existente no Jardim do Campo Grande, desenhando um pequeno complexo constituído por lojas, restaurante e um cinema, inaugurado em 1 de novembro de 1974 com a designação de Caleidoscópio.
|
Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970 |
|
Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970 |
|
Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970 |
|
Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970 |
|
Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970 |
No 1º piso situavam-se o snack-bar e o café. Na cave situavam-se as lojas e a sala de cinema, que tinha capacidade para 299 espectadores. O filme inaugural desta sala foi "O Exorcista", de William Friedkin.
Lauro António, um dos maiores críticos de cinema na época, escreveu no Diário de Lisboa, de 08.11.1974, sobre este espaço: "(...)uma decoração entre o vermelho e o negro, e o conforto necessário. Caleidoscópio principia a sua função em estilo "espectacular",porque fica lá no ignorado lago dos cisnes, no Campo Grande e quer que o público o conheça."
Lauro António foi o primeiro director de programação desta sala, até 1975: "O Caleidoscópio promete arrepiar caminho e dedicar-se a filmes de qualidade, em estilo "estúdio", mais ou menos na linha do Estúdio Apolo 70".
|
Programa do filme "Woodstock", estreado a 18.05.1975 |
|
Programa do filme "Woodstock", estreado a 18.05.1975 |
|
Bilhete do filme "Woodstock", estreado a 18.05.1975 |
No seu interior,também existiu uma grande livraria e uma discoteca chamada "Nell's". A título de curiosidade, o café do Lago mantém-se aberto e continua a alugar barcos, a quem quiser passar uns momentos de descontracção.
O edifício manteve-se até à actualidade inalterável no exterior, com os bonitos painéis de azulejos em relevo na fachada a destacarem-se. Contudo, o cinema deixou de funcionar a partir de 1994, para além do restaurante, como também a maioria das lojas existentes.
O edificio começou a definhar a olhos vistos na entrada do Séc. XXI. A sua fachada estava coberta de grafittis e a porta de entrada, entreaberta, convidava à destruição do seu interior. Há muito que aguardava a prometida e merecida transformação num centro académico. Durante anos, a fachada, com alguns vidros partidos, ostentaram os letreiros das lojas que há muito tinham encerrado, nomeadamente da discoteca Nell´s (tristemente conhecida por ter sido palco do tiroteio que envolveu dois seguranças em 2007).
A última loja a fechar foi a Livraria "Escolar Editora", que se mudou para a Faculdade de Ciências, com a promessa de regresso ao lugar original, assim que as obras de remodelação terminassem.
Em 2011, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, e o reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, apresentaram os projectos de qualificação do Jardim do Campo Grande (zona norte) e do edifício Caleidoscópio, onde ficaria sediado o novo Centro Académico.
O edifício Caleidoscópio, que foi cedido pela Câmara à Universidade de Lisboa para instalação de um Centro Académico, mediante um protocolo assinado pelas duas instituições, seria de uma remodelação integral do seu interior, a cargo da Universidade.
Como explicou Pedro Oliveira, arquitecto responsável por este projecto, o que se pretendia era fazer deste edifício mais uma "porta de entrada" para o Jardim do Campo Grande, em ligação com o campus universitário e um "ponto de encontro" das diversas instituições universitárias adjacentes.
Assim, em parceria com a CML, a zona do envolvente do edifício seria alvo de arranjo específico, com a remoção dos espaços de estacionamento fronteiros ao edifício, entre este e zona universitária, e a criação de um pátio do lado do jardim e de uma esplanada sobre o lago.
Enquanto a fisionomia exterior do edifício se manteria inalterada (apenas foram removidos os elementos que foram acrescentados, restituindo a originalidade do edifício, e acoplada uma pala luminosa), o interior sofreria uma profunda remodelação, para instalação de salas para as associações académicas e associações ambientalistas, galeria, auditório, um grande salão, áreas de estudo, cafetaria e restaurante.
O atraso nas obras, segundo o reitor da Universidade, deveu-se às dificuldades financeiras do país e da universidade. António Sampaio da Nóvoa explicou que estava em causa um investimento de 1,5 milhões de euros, frisando que tudo seria feito com base na sustentabilidade financeira, sem investimentos públicos.
Também atrasada, mas já em fase de obra, encontrava-se a recuperação da parcela norte do Jardim do Campo Grande, que incluia a criação de um parque de recreio canino e uma praça de jogos matemáticos.
A parcela sul deste jardim, entre as Avenidas do Brasil e Estados Unidos da América, onde se localiza um parque infantil e uma piscina municipal abandonada, também seria alvo de uma requalificação, mas que se encontrava igualmente atrasada.
Em 2016, este edifício tornou-se num Centro Académico da Universidade de Lisboa, com sala de estudo, auditório, centros de exposições e documentação. A McDonald's financiou as obras, sendo o projeto da responsabilidade do Arqt.º Pedro Oliveira, que manteve a estrutura e traça originais.
Fontes:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do
século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
https://restosdecoleccao.blogspot.com/2018/06/restaurante-alvalade.html
http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06820.170.26957#!7
https://www.caminhos.info/equipa/lauro-antonio/
https://museudoscinemas.wordpress.com/2020/10/26/cinema-caleidoscopio-1974-1994-a-sala-dos-domingos/
http://guedelhudos.blogspot.com/2011/03/festival-jerry-lewis.html
http://guedelhudos.blogspot.com/2010/08/quo-vadis.html
http://guedelhudos.blogspot.com/2009/05/woodstock-no-cinebolso.html
https://tribodosultras.blogs.sapo.pt/22427.html
https://www.cmjornal.pt/economia/detalhe/fisco-ataca-discoteca
http://visao.sapo.pt/actualidade/visaose7e/sair/2016-10-19-No-Caleidoscopio-agora-estuda-se-365-dias-por-ano-24-horas-por-dia
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993517&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993520&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993521&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993522&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=1914451&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://fotos.web.sapo.io/i/oab02387c/4814152_kA7bj.jpeg
https://fotos.web.sapo.io/i/o1e01f926/4814163_w9GAG.jpeg