Este cinema sempre foi um caso particular no mundo da edificação de cinemas em Lisboa, muito por culpa da época em que foi concebido (década de 1960), de ter beneficiado da alteração da Lei que regulamentava este tipo de edifícios e de ter que se adaptar à zona onde foi construído.
Era um típico cinema de bairro que servia a freguesia do Lumiar e zonas limítrofes e foi projectado em 1962 por Arqº José Croft de Moura, que idealizou este edifício a partir das possibilidades que a Lei lhe oferecia, integrando-o entre dois edifícios habitacionais.
Foi um projecto encomendado pela empresa Cruz&Cruz, que promovera uma urbanização local num terreno denominado de Quinta da Nazaré. O intuito desta empresa era construir uma sala de espectáculos que imprimisse alguma animação nesta zona e que não dedicasse exclusivamente a sua actividade ao cinema.
A implantação deste edifício apoiou-se no próprio traçado da urbanização e integrou-se no contexto dos prédios vizinhos. Este cinema foi construído de modo a poder encaixar-se na paisagem existente, sem fazer destoar o que quer que seja e a sua entrada fazia-se pela Rua Comandante Fontoura da Costa, uma rua paralela à Calçada da Carriche.
Um facto curioso é que os anúncios dos seus espectáculos referiam a existência de um parque de estacionamento privativo reservado aos seus frequentadores, o que conferia uma certa importância ao edifício, mostrando claramente que não se destinava somente aos habitantes da zona onde se inseria. Infelizmente a sua entrada era discreta e passava despercebida, apesar da sinalização que marcava a sua fachada com o enorme letreiro identificando-o como Cinema Lumiar e que fora concebido para orientar os transeuntes.
A sua inauguração ocorreu em 1968 com um filme japonês chamado "Buddha" de 1961 (cá recebeu o título de "O Reino de Buda"), que tinha uma estética semelhante aos filmes indianos.
Este espaço era dotado de uma lotação de 800 lugares, servidos por dois foyers e por um palco.
Pouco se sabe sobre a sua duração, mas é importante referir que este cinema fazia descontos nos bilhetes a algumas colectividades da zona, nomeadamente ao Clube de Santo António dos Cavaleiros. Por volta de 1969 já estava reduzido a cinema de reprise com sessões duplas.
Para além da função de cinema, também foi um centro comercial por volta de 1980, tendo sido adquirido posteriormente pela RTP.
De acordo com o Diário de Lisboa de 1 de junho de 1982, este cinema estava encerrado para férias e assim continuou para sempre. Desde aí, essa freguesia nunca mais teve uma sala de cinema digna desse nome.
Desde então este edifício tem sido utilizado somente como armazém, tendo em 2011 sido arrendado à Assembleia de Deus Ministério da Missão pela RTP. O contrato assinado teve a duração de três anos, visto que esta mesma entidade foi despejada do local por falta de pagamento mensal da renda.
Fontes:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
http://restosdecoleccao.blogspot.com/2019/06/cinema-lumiar.html
http//cinemaaoscopos.blogspot.com/2009/12/lumiar-1967-1977.html
http://citizengrave.blogspot.pt/2012/05/cinemas-onde-nao-vi-filmes-cinema.html
http://www.fmsoares.pt/aeb_online/visualizador.php?bd=IMPRENSA&nome_da_pasta=06839.189.29499&numero_da_pagina=23
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/x-arqweb/(S(5hlkodrbth0ra3aanemcfl45))/SearchResultOnline.aspx?search=_OB%3a%2b_QT%3aTI__Q%3aCINEMA+LUMIAR_EQ%3aF_D%3aF___&type=PCD&mode=0&page=0&res=0&set=%3bAF%3b
http://www.uon-imobiliaria.pt/imovel/4154019/antigo-cinema-no-lumiar-lisboa-lisboa