Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

24.10.12

Cinemas do Paraiso: São Miguel, Açores

Hoje deixo o continente e viajo até aos Açores, mais concretamente à ilha de São Miguel para falar de um teatro que foi edificado no séc. XIX e que, apesar de alguma turbulência durante a sua existência, continua a ser uma importante referência cultural desta ilha.



O Teatro Micaelense foi oficialmente inaugurado em 1865, embora  o espaço não tivesse totalmente construido. Foi uma estreia auspiciosa com direito à presença da mais seleta sociedade micaelense, como também à entoação de um hino composto propositadamente para este evento e que tornou a cerimónia ainda mais extraordinária.

Foram apresentadas algumas peças representadas por uma companhia contratada para o efeit com atores como Joaquim Ferreira Ribeiro (do Teatro da Trindade), António da Silveira Gil e João da Silva Gil, Francisco Fernandes, José António de Lima, João de Andrade, Miguel Epifânio de Sousa, e pelas actrizes Elisa da Conceição Sousa, Maria José Fernandes, Gertrudes Carlota e Emília de Sousa.

Era uma obra que possuia uma matriz neo clássica que simplificava elementos definidores, semelhante aos teatros Apolo e Trindade em Lisboa na sua amplitude e com um átrio de entrada enorme, com acesso a cinco portas de arco redondo tendo em cada lado bilheteira e bengaleiro. No primeiro andar localizavam-se o salão, a secretaria e as toilettes das senhoras. No segundo andar situava-se a sala de pintura com frontão triangular. A sala de espectáculos era circular e dispunha de 16 frisas, 38 camarotes, 12 torrinhas, 42 lugares de superior, 216 lugares de geral e 102 lugares na galeria. O palco separava-se da plateia pelo fosso de orquestra com capacidade para 30 músicos. Dispunha ainda de 19 camarins, mais um coletivo, salas para ensaio de coros, guarda-roupa, oficinas técnicas e de arrecadação e um café independente, com entrada pelos corredores e pelo exterior.
Há medida que o tempo foi passando, este espaço seria remodelado adaptando-se às exigências do público aristocrata que o frequentava, como também ao progresso. Exemplos disto são: a colocação de candeeiro a petróleo no teto; as ornamentações de madeira entalhada e gesso dourado; o alargamento do proscénio e adaptações técnicas para a visualização de filmes.

Este espaço foi palco de diversos eventos importantes da cidade de Ponta Delgada durante sessenta e cinco anos. A elite da sociedade da época era entretida em serões concorridos enquanto o tempo era de grandes reviravoltas, visto que a queda da monarquia estava para breve, de modo a ser implantada a República.
Em 1930, este teatro foi vítima de um violento incêndio que ameaçaram os edificios circundantes, entre os quais a repartição de Finanças. Muito do interior do edificio foi reduzido a cinzas, escapando apenas os camarins, o foyer e o café anexo. O mobiliário foi grandemente danificado, resultando em prejuizos avultados, visto que o Teatro estava seguro por uma quantia muito inferior aquilo que realmente valia.
Em 1931, os escombros do antigo edificio seriam demolidos, sendo encomendado um projeto de edificação de um novo teatro. Para esse efeito foi constituida a Sociedade Particular Civil Teatro Micaelense, cujo Conselho de Administração era composto por distintos membros da sociedade açoreana, e lançada uma campanha na imprensa de aquisição de ações da nova sociedade.
O arquiteto escolhido para desenhar o novo Teatro foi Raul Rodrigues Lima, autor do belissimo Cine-Teatro Monumental em Lisboa, sendo que o novo edificio ficaria marcado por umas linhas severas e volumes racionais, com pitada de elementos seiscentistas que caracterizavam a estética arquitetural dos anos 40.


O processo de edificação não foi longo e iniciou-se em 1946. Este novo espaço era amplo e aprimorava-se no Salão Nobre, decorado com colunas de mármore negro e pilares de marmorite, iluminado com três lustres montados sobre espelhos de arestas polidas.
A sala de espetáculos, em forma de leque, albergava 1200 espectadores que se distribuiam por dois pares de frisas de cena junto do palco, com fosso de orquestra, primeiro balcão precedido de camarotes abertos avançando sobre a plateia e um segundo balcão elevando-se separadamente por detrás do primeiro. Para exibir cinema este espaço apetrechou-se com dupla aparelhagem Gaumont-Kallee. Cinco anos depois do inicio das obras, e com milhares de contos gastos, O Teatro Micaelense renasceu num local diferente, com ruas e contruções novas, e a sua inauguração foi magnânima e bastante comunicada na imprensa açoreana.


Este espaço foi sobrevivendo com dificuldades ao longo dos anos por causa das constantes exigências de manutenção e modernização e isso fez-se notar nas contas. Para que houvesse injeção de capitais, o Teatro foi-se tornando acessivel aos micaelenses, de modo a que estes pudessem comprar parcelas do mesmo. Em 1964 foi criada a nova sociedade gestora deste teatro designada de Cinaçor, Sociedade de Teatro e Cinema, S.A.R.L.
Sob esta direção, a pintura da sala de espetáculos foi renovada em 1967, como também houve melhorias no equipamento, tendo sido adquirido um moderno conjunto de projetores e respetivo comando de resistências elétrica e uma aparelhagem de amplificação de som, indispensável para o desenvolvmento do teatro. No seguinte, seriam feitas pinturas do palco, camarins e corredores de acesso e o arranjo dos respetivos pisos, como também a instalação de um novo ecrã e equipamento de projeção. Graças à exibição diária de filmes, o teatro ganhava audiências e atraía públicos diversificados, fazendo com que  fosse considerado como a sala de visitas da cidade.

Com o advento do 25 de Abril de 1974, os hábitos sociais modificaram-se, levando a uma crise no cinema, desviando o público das casas de espectáculo e estrangulando as receitas, conduzindo as mesmas a uma sobrevivência angustiante. Em 1977, foi instalado um restaurante no rés-do-chão e na galeria do edificio, como também, anos mais tarde, uma discoteca de seu nome "Ópera". Mas a situação financeira da Cinaçor ia se agudizando, apesar dos esforços e isso não era suficiente para a manutenção da vda desta casa de espetáculos.
A década de 80 e 90 foi negra para este espaço com a queda vertiginosa das receitas de bilheteira; a acelerada degradação das instalações e a inadequação a novas exigências técnicas, fazendo temer a sua demolição tal como acontecera com o Cine-Teatro Monumental em 1984.
Em 2001, a Cinaçor foi dissolvida e deu origem a duas novas empresas: a CM, Sociedade de Investimento Imobiliário, S.A. e a Teatro Micaelense S.A.

Apostou-se na modernização e potenciamento do espaço para revitalizar o Teatro, adequando-o às novas exigêncas técnicas e  permtindo uma maior capacidade de resposta de toda a estrutura. O arq.º Manuel Salgado foi o responsável pelo projeto de recuperação, rasgando novas áreas e aproveitando outras que não tinham sido concluidas, de modo a que o espaço pudesse ter múltiplas funções (espetáculos, exposições, congressos, seminários e conferências). Contudo, a opção foi manter os modelos estéticos do cinquentenário edificio. Redesenhou-se a boca de cena; ampliou-se o fosso da orquestra er modernizou-se a teia de palco, alargando as possibilidades de exibição de espetáculos de dança, teatro, etc. garantindo qualidade na audição dos espetáculos. Diminuiu-se a capacidade para 800 lugares para optimizar o espaço, como também o espaço foi adaptado às necessidade de mobilidade dos deficientes e modernizado em questões de segurança.





 Esta obra de reabilitação custou a módica quantia de 7 milhões de euros e, à semelhança do que acontecera anteriormente, o esforço de obra foi enorme, aproveitando-se todas as cadeiras da sala de espetáculos e mantendo-se os lustres do Salão Nobre que, por razões de segurança, nunca foram retirados dos tetos. Em 2004, o novo Teatro, com o subtitulo de Centro Cultural e de Congressos,  foi inaugurado pronto para avançar destemido pelo séc. XXI.


Antes mesmo de findar esta crónica, deixo-vos com uma história engraçada e mítica que envolve o Teatro Micaelense.
No dia 23 de Junho de 1963 atracou no Molhe Salazar em Ponta Delgada, um iate luxuoso de 288 toneladas e com 12 tripulantes designado de "Wild Goose", cujo dono era a estrela internacional de cinema chamada John Wayne, o eterno cowboy.
Foi o inicio de uma visita de quatro dias à ilha de S. Miguel, destino que Wayne quisera incluir no seu itinerário que como destino final a nossa vizinha Espanha.
Durante a sua estadia, Wayne distribuiu simpatia à sua volta e visitou os principais pontos turisticos da ilha, nomeadamente as Sete Cidades e as Furnas. Também visitou o Teatro Micaelense, tendo assinado o Livro de Ouro do Teatro.
Na madrugada do dia 27 de Junho, o iate de Wayne zarpou do Molhe Salazar com pouca gente a assistir. Mas o ator fez questão de acenar a essas pessoas, despedindo-se de uma forma delicada de um povo que o recebeu da melhor maneira possivel.



Fontes: 
http://citizengrave.blogspot.pt/2012/10/cinemas-teatros-e-cine-teatros-2.html
http://westerneuropeu.blogspot.pt/2012/08/john-wayne-em-saomiguel-acores-junho.html
http://www.origens.pt/explorar/doc.php?id=8760
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/04/FLT_inaugura%C3%A7%C3%A3o_Teatro_Micaelense.jpg

16.10.12

Municipal: um cinema num espaço de diversões

Lembram-se desse local de culto chamado Feira Popular? Um enorme espaço de diversão bem no centro de Lisboa e que deixou um enorme vazio na vida de muitos portugueses...incluindo eu, que passei lá belos momentos de infância. Quem não se lembra da montanha-russa, da roda gigante, da bailarina ou da lagarta (uma mini montanha-russa)? Quem não apanhou valentes sustos na casa fantasma? E as Motas da Morte, esse show de exibicionismo em duas rodas? Pois bem...provavelmente muitos não se lembrarão do cinema que lá estava instalado e que, anos mais tarde, passou a ser um teatro.

A história do primeiro Cinema Municipal inicia-se em 1951, ano em que foi inaugurado na antiga Feira Popular de Lisboa que se localizava no Parque da Palhavã junto à Praça de Espanha.

Esta feira foi inaugurada em 1943 e seria transferida para a zona de Entrecampos em 1961, o que levou a que o edificio do cinema fosse demolido.




Os lisboetas acorreram em massa à inauguração desta feira e mesmo antes da sua existência, o Parque da Palhavã já tinha acolhido o primeiro recinto do Jardim Zoológico entre 1884 e 1905. Desde 1960 que este parque acolhe a Fundação Calouste Gulbenkian, sendo um local imensamente visitado por turistas e estudantes.

A nova Feira Popular de Lisboa (a que ficou imortalizada na nossa memória) foi inaugurada em 1961 em Entrecampos (no antigo recinto do Mercado Geral de Gados), e também teve direito a um cinema e com o mesmo nome do seu antecessor. O cinema, como também a feira, era amplo e moderno, mas só teve uma década aberto.






Em 1972, o cinema converteu-se no Teatro Vasco Santana, e por lá passaram alguns dos nomes mais importantes do teatro e televisão nacional. Com as obras de ampliação e modernização que sofreu posteriormente, foram criados novos espaços que fizeram nascer o Auditório Ana Bola.


Contudo, tudo mudou de figura quando em 2003, a mítica Feira Popular fechou, envolta em grande polémica. Todas as diversões, como também o Teatro, fecharam com exceção dos restaurantes que se foram mantendo em agonia.  E até 2006, os restantes espaços do recinto foram demolidos e houve mesmo uma vã hipótese de reabilitar o Teatro (incluindo-o num novo projeto para a zona), mas até este não conseguiu resistir a outros ventos e acabou por ser demolido.





Atualmente quando se passa pelo local onde outrora existiu um local mágico de diversões, só se vê uma vasta paisagem ao abandono, causando nas pessoas uma sensação de desolamento e melancolia.



Fontes