Foi também um espaço de encontro entre a música, o espetáculo e a modernidade. Em 1918, durante a inauguração da temporada de Inverno, o público foi brindado com a apresentação do sexteto privativo da sala, onde brilhavam nomes de destaque do panorama musical português, como Teófilo Russel, Flaviano Rodrigues e Carlos Quillez. A experiência cinematográfica ganhava assim uma dimensão mais completa, envolvendo imagem e som ao vivo. Poucos anos depois, em 1921, o verão trouxe uma nova aposta: a inclusão de números de variedades no programa, transformando o espaço num palco versátil que conciliava o cinema com outras formas de arte e entretenimento.
A década de 1930 marcou uma viragem estética. O seu interior foi remodelado em estilo Art Deco, acompanhando as tendências internacionais e reforçando o prestígio desta sala, que já era considerada um ícone cultural de Lisboa.
Apesar da sua bilheteira imponente e pouco amigável para os mais pequenos, mantinha o charme acolhedor de uma verdadeira sala de bairro. O Chiado Terrasse não era apenas um espaço para ver filmes — era um ponto de encontro, um refúgio cultural onde o tempo parecia abrandar.
Com o passar dos anos, este cinema reinventou-se, dedicando-se à exibição de "reprises", filmes que já tinham passado pelas grandes salas, mas que ganhavam nova vida entre os seus espectadores fiéis. Essa aposta revelou-se certeira: criou uma comunidade de cinéfilos apaixonados, que ali encontravam não só entretenimento, mas também memória e nostalgia.
E como era ir ao cinema naquela época? Em 1930, os preços praticados por este cinema refletiam a diversidade de lugares e experiências: os camarotes, mais exclusivos, custavam 18$00; o balcão, mais acessível, ficava por 5$00; a 1ª plateia, com uma vista privilegiada, saía por 5$50; e a 2ª plateia, mais modesta, por apenas 3$00. Valores que hoje parecem simbólicos, mas que na altura representavam diferentes formas de viver o cinema.

A propriedade, pertencente à família Levy, foi vendida ao Banco Fonseca e Burnay, marcando o fim de uma era cultural e o início de uma nova função comercial. Mais tarde, o espaço viria a albergar uma agência da Caixa Geral de Depósitos, mantendo a estrutura exterior como uma espécie de homenagem silenciosa ao passado. No entanto, apesar da fachada intacta, algo se perdeu no caminho: os elegantes candeeiros que iluminavam a entrada e o lettering artístico que anunciava o cinema desapareceram, levando consigo parte da graciosidade que tornava aquele edifício especial.
Fontes:
- http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2103020&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
- http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2103021&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
- http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2117694&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
- http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2118426&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
- http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2167671&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
- http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2172949&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
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