Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

14.4.11

Caleidoscópio: o novo centro académico


A história do Cinema Caleidoscópio, situado no Centro Comercial com o mesmo nome, no Jardim do Campo Grande, começa com a anterior existência de um restaurante. O mesmo chamava-se "Alvalade", e fora projectado pelo Arqt.º Francisco Keil do Amaral (1910-1975), junto ao novo Lago do Campo Grande, também por ele projectado. Este restaurante abriu as portas no primeiro trimestre do ano de 1948.

Restaurante "Alvalade"


O Ministro das Obras Públicas, Eng.º Duarte Pacheco, mandou remodelar profundamente o Lago do Campo Grande e a sua zona envolvente, num estilo modernista.
Para o efeito, encomendou o projecto ao Arqt.º Francisco Keil do Amaral, tendo a obra decorrido entre 1944 e 1948.

Projecto do Restaurante "Alvalade"





Escultura de António Duarte à entrada do restaurante

Janela do restaurante sobre o lago

Interior do Bar, decorado por Maria Keil (1914-2012)

Salão do restaurante, decorado por Maria Keil



Depois da demolição deste restaurante, foi construído no mesmo local e inaugurado em Novembro de 1972,  um novo edifício de dois pisos, projectado pelo Arqt.º Nuno San Payo, integrando um painel de cerâmica, da autoria da ceramista Maria Emília Silva Araújo. Este edifício foi idealizado para ser um posto de recepção turística, com salas de refeição, bar e várias lojas. Manteve praticamente a mesma designação do restaurante anterior: "Alvalade Restaurants".

"Alvalade Restaurant" - década de 1970

"Alvalade Restaurant" - década de 1970

"Alvalade Restaurant" - década de 1970


Contudo, pouco tempo depois, foi adaptado pelo mesmo arquitecto para ser um centro comercial, conservando-se a fachada, constituída pelo painel de cerâmica de Maria Emília Silva Araújo.


A partir da década de 1970 do Séc. XX assistiu-se, de forma natural, à integração de cinemas em centros comerciais. É inegável que o facto em si foi uma novidade, porque criou a convicção de que era possível reunir num só espaço diversos serviços, como uma nova forma de viver a cidade. 
E esta tendência foi tão bem sucedida que assistiu-se ao aparecimento desenfreado de centros comerciais, que reuniam um enorme conjunto de serviços úteis à sociedade.

No seguimento do aparecimento de espaços como Centro Comercial Apolo 70 e o Edificio Castil, o Arqt.º Nuno San Payo (responsável pelo projecto do Cinema Quarteto), procurou adaptar o modelo num espaço existente no Jardim do Campo Grande, desenhando um pequeno complexo constituído por lojas, restaurante e um cinema, inaugurado em 1 de novembro de 1974 com a designação de Caleidoscópio

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

No 1º piso situavam-se o snack-bar e o café. Na cave situavam-se as lojas e a sala de cinema, que tinha capacidade para 299 espectadores. O filme inaugural desta sala foi "O Exorcista", de William Friedkin. 

Lauro António, um dos maiores críticos de cinema na época, escreveu no Diário de Lisboa, de 08.11.1974, sobre este espaço: "(...)uma  decoração entre o vermelho e o negro, e o conforto necessário. Caleidoscópio principia a sua função em estilo "espectacular",porque fica lá no ignorado lago dos cisnes, no Campo Grande e quer que o público o conheça."

Lauro António foi o primeiro director de programação desta sala, até 1975: "O Caleidoscópio promete arrepiar caminho e dedicar-se a filmes de qualidade, em estilo "estúdio", mais ou menos na linha do Estúdio Apolo 70".





Programa do filme "Woodstock", estreado a 18.05.1975

Programa do filme "Woodstock", estreado a 18.05.1975

Bilhete do filme "Woodstock", estreado a 18.05.1975

No seu interior,também existiu uma grande livraria e uma discoteca chamada "Nell's". A título de curiosidade, o café do Lago mantém-se aberto e continua a alugar barcos, a quem quiser passar uns momentos de descontracção.

O edifício manteve-se até à actualidade inalterável no exterior, com os bonitos painéis de azulejos em relevo na fachada a destacarem-se. Contudo, o cinema deixou de funcionar a partir de 1994, para além do restaurante, como também a maioria das lojas existentes. 

O edificio começou a definhar a olhos vistos na entrada do Séc. XXI. A sua fachada estava coberta de grafittis e a porta de entrada, entreaberta, convidava à destruição do seu interior. Há muito que aguardava a prometida e merecida transformação num centro académico. Durante anos, a fachada, com alguns vidros partidos, ostentaram os letreiros das lojas que há muito tinham encerrado, nomeadamente da discoteca Nell´s (tristemente conhecida por ter sido palco do tiroteio que envolveu dois seguranças em 2007).
A última loja a fechar foi a Livraria "Escolar Editora", que se mudou para a Faculdade de Ciências, com a promessa de regresso ao lugar original, assim que as obras de remodelação terminassem.

 




Em 2011, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, e o reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, apresentaram os projectos de qualificação do Jardim do Campo Grande (zona norte) e do edifício Caleidoscópio, onde ficaria sediado o novo Centro Académico. 

O edifício Caleidoscópio, que foi cedido pela Câmara à Universidade de Lisboa para instalação de um Centro Académico, mediante um protocolo assinado pelas duas instituições, seria de uma remodelação integral do seu interior, a cargo da Universidade. 
Como explicou Pedro Oliveira, arquitecto responsável por este projecto, o que se pretendia era fazer deste edifício mais uma "porta de entrada" para o Jardim do Campo Grande, em ligação com o campus universitário e um "ponto de encontro" das diversas instituições universitárias adjacentes. 
Assim, em parceria com a CML, a zona do envolvente do edifício seria alvo de arranjo específico, com a remoção dos espaços de estacionamento fronteiros ao edifício, entre este e zona universitária, e a criação de um pátio do lado do jardim e de uma esplanada sobre o lago. 
Enquanto a fisionomia exterior do edifício se manteria inalterada (apenas foram removidos os elementos que foram acrescentados, restituindo a originalidade do edifício, e acoplada uma pala luminosa), o interior sofreria uma profunda remodelação, para instalação de salas para as associações académicas e associações ambientalistas, galeria, auditório, um grande salão, áreas de estudo, cafetaria e restaurante.

O atraso nas obras, segundo o reitor da Universidade, deveu-se às dificuldades financeiras do país e da universidade. António Sampaio da Nóvoa explicou que estava em causa um investimento de 1,5 milhões de euros, frisando que tudo seria feito com base na sustentabilidade financeira, sem investimentos públicos.

Também atrasada, mas já em fase de obra, encontrava-se a recuperação da parcela norte do Jardim do Campo Grande, que incluia a criação de um parque de recreio canino e uma praça de jogos matemáticos.
A parcela sul deste jardim, entre as Avenidas do Brasil e Estados Unidos da América, onde se localiza um parque infantil e uma piscina municipal abandonada, também seria alvo de uma requalificação, mas que se encontrava igualmente atrasada.

Em 2016, este edifício tornou-se num Centro Académico da Universidade de Lisboa, com sala de estudo, auditório, centros de exposições e documentação. A McDonald's financiou as obras, sendo o projeto da responsabilidade do Arqt.º Pedro Oliveira, que manteve a estrutura e traça originais.






Fontes:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
https://restosdecoleccao.blogspot.com/2018/06/restaurante-alvalade.html
http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06820.170.26957#!7
https://www.caminhos.info/equipa/lauro-antonio/
https://museudoscinemas.wordpress.com/2020/10/26/cinema-caleidoscopio-1974-1994-a-sala-dos-domingos/
http://guedelhudos.blogspot.com/2011/03/festival-jerry-lewis.html
http://guedelhudos.blogspot.com/2010/08/quo-vadis.html
http://guedelhudos.blogspot.com/2009/05/woodstock-no-cinebolso.html
https://tribodosultras.blogs.sapo.pt/22427.html
http://ratocine.blogspot.com/2010/08/os-cinemas-de-lisboa_08.html4.html,http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1358079
https://www.cmjornal.pt/economia/detalhe/fisco-ataca-discoteca
http://visao.sapo.pt/actualidade/visaose7e/sair/2016-10-19-No-Caleidoscopio-agora-estuda-se-365-dias-por-ano-24-horas-por-dia
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993517&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993520&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993521&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993522&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=1914451&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://fotos.web.sapo.io/i/oab02387c/4814152_kA7bj.jpeg
https://fotos.web.sapo.io/i/o1e01f926/4814163_w9GAG.jpeg

7.4.11

Cinema Europa: um novo espaço de leitura e cultural

O cinema Europa foi um dos edifícios mais emblemáticos do bairro de Campo de Ourique em Lisboa (Rua Francisco Metrass, nº 28).

Em meados de 1929, o proprietário José Dionisio Nobre resolveu construir um cinema num terreno que possuía situado na Rua Almeida e Sousa, nº 35 com a Rua Francisco Metrass. O nome original deste cinema era "Astória".

Inaugurado na década de 1930, foi projectado pelo Arqt.º Raul Martins. A primeira versão deste cinema nada tinha a ver com a que mais nos lembramos. Esta versão Art Deco tinha uma mistura de clássico e moderno que a tornava diferente dos outros cinemas, não só pelo seu tamanho como também pela imponente arquitectura da fachada e dos interiores. 
O facto deste espaço se situar numa confluência de duas ruas fez com que existisse um inteligente tratamento da sua fachada, o que contribuiu para a quebra da monotonia geral do edifício e da austeridade das suas linhas.

A sua sala, traçada em forma trapezoidal e dotada de tectos de masseira pintados em azul e prata, que contrastavam com os tons das paredes em verde mate e ouro, possuía uma boa acústica que se exigia dos espaços que aderiam ao cinema sonoro. A boa visibilidade também estava incluída no desenho do recinto, que se desenvolvia por três pisos, sendo o primeiro a plateia; o segundo correspondia ao primeiro balcão e seis camarotes de cada lado, como também o bar; e por fim, o terceiro piso que correspondia ao segundo balcão e onde se encontrava a cabine. Ao todo esta sala conseguia acomodar 878 pessoas.

Este edifício foi projectado de modo a poder ser ampliado, o que aconteceu em 1936 quando sofreu reestruturações, com risco do Arqt.º João Carlos Silva, quer na fachada como também no interior, vendo reduzida a lotação de modo a acomodar melhor o público.

Cinema Europa, inaugurado a 14-02-1931

 




Planta do Cinema Europa - 1953

Programa de 1953/1954

Em 1957, este recinto foi demolido para dar lugar a uma sala maior, para coincidir com os grandes cinemas erigidos nessa década. O projecto do novo Cinema Europa foi da autoria do Arqt.º Antero Ferreira, tendo a sua fachada incluído uma escultura em alto-relevo, da autoria do escultor Euclides Vaz. Este edifício era propriedade da empresa "Sociedade Administradora de Cinemas, Lda.", do Major Horácio Pimentel, igualmente proprietária do Cinema Teatro Monumental e do Cinearte.

O novo cinema Europa seria inaugurado a 28 de Março de 1966, com a presença do Ministro das Corporações e do Secretário Nacional de Informação. O evento inaugural foi o III Festival de Arte Cinematográfica de Lisboa e I Festival de Animação, com a exibição do filme Muriel, de Alain Resnais.

Novo Cinema Europa, em fase de acabamentos

Escultura em alto-relevo do escultor Euclides Vaz.




Depois do término do Festival, foi exibido somente em 3 dias o filme O Evangelho Segundo São Mateus, de Pier Paolo Pasolini. De seguida, seria exibido o filme O 3º Dia, selecionado para a inauguração ao público deste cinema.



Mais tarde, a sala seria melhorada, segundo projecto do Arqt.º Raul Rodrigues Lima, com modificações significativas que se estenderam até ao bar, como também a importância atribuída ao átrio, com um painel de azulejos de Fred Kradolfer, expressamente construído para o local.  Este novo espaço albergava 843 pessoas e o ecrã gigante tinha 16 metros de largura.


 




A cabine de projecção estava apetrechada com quatro máquinas, duas delas eram o modelo mais recente da Phillips, o DP-70.


Estreia de 01-09-1967

Bilhete de 03-08-1970


Funcionou como sala de cinema até 30 de novembro de 1981, sendo o último filme exibido Annie Hall, de Woody Allen.

Integrou o Inventário da Arquitectura Moderna Portuguesa do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR, actualmente designado por IGESPAR). Este cinema funcionou também durante a década de 1980 como estúdio de televisão.

Cinema Europa - 1989

Cinema Europa - 1989


A sua actividade cessaria definitivamente em 2004, na sequência de um pedido da "Sociedade Administradora de Cinema, Lda", que se propunha a a contruir no local um novo edifício, dividido entre espaços de comércio e apartamentos de luxo.

Na tentativa de salvar este cinema, foi criado em 2005 um grupo de cidadãos: SOS Cinema Europa, constituído maioritariamente por moradores do bairro de Campo de Ourique. Este movimento lutou pela criação de um espaço cultural público (biblioteca multimédia, auditório e sala para actividades diversas), no piso térreo do novo edifício a ser construído no local onde existiu o antigo cinema “Europa”.

Em 2006, 25 anos depois do seu encerramento, este cinema beneficiou de um projecto de reabilitação, que servia para preservar a sua função como cineteatro, destinado aos mais jovens, com uma aposta essencialmente centrada no cinema de animação e no teatro infantil. 

Projecto inicial de reabilitação do Cinema Europa


A Câmara Municipal de Lisboa adquiriu em 2014 o piso térreo do edifício, onde outrora existiu o Cinema Europa, com vista à instalação de um equipamento cultural previsto na candidatura vencedora do movimento "SOS Cinema Europa" ao Orçamento Participativo de 2009/2010, tendo delegado competências na Junta de Freguesia para gerir o espaço. As obras tinham um prazo previsto de 144 dias e um orçamento de 499 mil euros. 

Actualmente, este espaço funciona actualmente como biblioteca e espaço cultural, tendo aberto as portas a 23 de abril de 2017, celebrando o Dia Mundial do Livro. 
Está dividido em três secções, que incluem uma biblioteca, uma ludo-biblioteca para crianças e jovens até aos 16 anos e uma sala polivalente. Os jovens têm uma área só para si, que inclui jogos e consolas. 

Desde a sua abertura, tem-se registado um crescente número de visitas a este espaço, que ganhou uma nova vida.



Fontes: 
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
RIBEIRO, M. Félix, Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca Nacional, 1978
http://cinemaaoscopos.blogspot.com/2010/01/cinema-europa-1930-1957.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.com/2009/11/europa-1930s-1981.html
http://restosdecoleccao.blogspot.com/2011/10/cinema-europa.html
https://gulbenkian.pt/biblioteca-arte/escolhas-da-biblioteca/fotografias-com-historia/cinemas/