Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

11.8.11

Londres: O último cinema resistente em Lisboa

O Cinema Londres, situado na Avenida de Roma, nasceu das cinzas de um espaço, onde existiu um restaurante, snack-bar, barbearia, discoteca, tabacaria e bowling, de seu nome "Bólide", que abriu as portas em 1956. A empresa que era a proprietária do edifício, Dias & Antunes, resolveu aproveitar o espaço da cave e instalar um cinema.

Pista de Bowling no "Bólide"


Também existiu uma boate chamada "Tropical", onde a banda rock "Sheiks" tocaram pela última vez ao vivo em 28 de Outubro de 1967. 

Factura da Boate "Tropical" - 1962

Entrada do "Bólide" antes do seu encerramento - década de 1960

O projecto do cinema Londres foi da autoria do Arqt.º Eduardo Goulart Monteiro (responsável pelo projecto da Pastelaria Mexicana na mesma zona) e colega de liceu de José Manuel Castello Lopes. Na entrada, encontravam-se uma escultura de João Cutileiro e uma pintura de Luís Noronha da Costa. Previa uma sala com 440 lugares, ao qual se anexava um snack-bar e um pub, imprimindo assim ao espaço um certo luxo.

Cinema Londres - 1977

Escultura de João Cutileiro

Pintura de Luís Noronha da Costa

Uns dias antes da sua inauguração, quer a televisão (RTP), como as rádios, falaram deste novo cinema, que ia abrir no centro de Lisboa. Esta sala foi inaugurada em 30 de janeiro de 1972 com o filme Morrer de Amar de André Cayatte. As verbas angariadas na estreia reverteram a favor da obra social da Igreja de São João de Deus, com sucessivas lotações esgotadas nas semanas seguintes... algo nunca visto até então.

Inauguração do Cinema Londres a 30.01.1972 (imagem cedida gentilmente por José Varregoso do Grupo de Facebook "Cinemas do Paraíso"

Na base da sua fundação, estava o distribuidor José Manuel Castello Lopes, que afirmou: "A maioria dos cinemas era composta por salas só com um ecrã. Demos às pessoas a possibilidade de usufruir de uma bebida de fim de tarde, de uma refeição e de uma sessão cinematográfica".

A imprensa da época proferiu que este espaço era uma nova ideia numa cidade que crescia e que oferecia diversos serviços num só lugar: ver cinema na sala, jantar no snack-bar e conversar no Pub The Flag. E assim efectivou-se a proposta que os "estúdios" poderiam conferir um ambiente propicio para os espectadores manterem-se no local depois das sessões cinematográficas.

Entrada, Foyer, Snack-Bar e Bar "The Flag"

Porém, a maior preocupação de José Castello Lopes era a programação. Anualmente fazia a habitual ronda na Europa e nos Estados Unidos, por entre produtores amigos, para escolher a programação: "O importante para mim era a seleção de programas, a estreia atempada e uma publicidade bem feita e apelativa que tivesse em consideração o público".

Seis a sete vezes por ano, em cada estreia, o ritual repetia-se... os anúncios diziam que no cinema Londres estreava o filme A, B ou C, ficando em exibição durante 10 semanas. Acabou por se tornar num espaço dedicado à exibição de filmes de autor, como Tristana de Luís Buñuel, Medea de Pier Paolo Pasolini, Baile de Bombeiros de Milos Forman ou Tirez sur le pianiste de François Truffaut.

De acordo com José Castello Lopes: "Era uma época muito forte do cinema francês e do cinema italiano, mas o gosto dos portugueses mudou com a morte dos grandes atores e dos grandes realizadores. Com a morte de gente como Fellini e Antonioni, morreu também o cinema europeu".





Na década de 1980 do Séc. XX, a programação desta sala deixa de ser tão selectiva e começa a ser mais comercial com a exibição de filmes como Classe, Experiência em Filadélfia e Crocodilo Dundee

Aos poucos, este espaço começou a perder a sua identidade, como também a exclusividade dos filmes, devido ao aparecimento de outras salas inseridas em centros comerciais, o que contribuiu para a divisão do público. 


Este cinema dividiu-se em duas salas, uma de 219 lugares e outra de 114 lugares, de modo a adaptar-se aos tempos modernos e em busca de maiores receitas. Apesar de tudo, resistiu ao tempo e conseguiu adaptar-se às mudanças e aos gostos dos espectadores, continuando a ser um cinema de referência para quem gostava mesmo de salas de cinema e não de centros comerciais. 

Este cinema era também conhecido pelas suas fantásticas cadeiras "amestradas" que baixavam consoante o peso do ocupante. O Café-Bar Magnólia com o seu ambiente e sofás acolhedores, convidava a um café enquanto se aguardava pela hora da sessão. 




Contudo, no inicio do ano de 2013, o Londres acabou por fechar portas...devido à falta de pagamento de contas, depois de lhe ter sido cortada a electricidade. Para além desta sala, também fecharam outras salas do grupo Socorama em Cascais, Barreiro e Setúbal e todas pelo mesmo motivo.

O Grupo Socorama pediu insolvência, o que obrigou ao encerramento de 47 das 106 salas de cinema que o grupo detinha em todo o país. 
O aspecto mais irrealista desta situação é que a electricidade foi cortada em diversas sessões de cinema, o que comprovou que a Socorama chegara a um ponto de ruptura, devido a uma gestão ruinosa e desastrosa ao longo dos anos. 
E quem ficou a perder? Os espectadores que viram mais um dos últimos e resistentes cinemas de Lisboa a fechar portas de uma forma inglória.

Actualmente, este antigo cinema funciona como uma loja de produtos chineses, de seu nome "Londres Shopping", apesar dos esforços da Associação "Mais Democracia" (um movimento de comerciantes da zona da Avenida de Roma) que não se conformou com esta decisão, defendendo que este antigo cinema fosse convertido num pólo cultural.




Fontes:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
http://observador.pt/2015/03/09/este-londres-nao-e-para-cinefilos-e-para-quem-quer-uma-loja-chinesa-com-mais-qualidade/
https://leitor.expresso.pt/diario/02-06-2014/html/caderno-1/temas-principais/03_tp-cinemas-2
https://www.publico.pt/2014/05/17/local/noticia/cinema-londres-sem-cadeiras-e-sem-ecras-sem-noronha-da-costa-e-sem-joao-cutileiro-1636244
https://www.guiadacidade.pt/pt/e/castello-lopes-cinemas-cinema-londres-16087

14.4.11

Caleidoscópio: o novo centro académico


A história do Cinema Caleidoscópio, situado no Centro Comercial com o mesmo nome, no Jardim do Campo Grande, começa com a anterior existência de um restaurante. O mesmo chamava-se "Alvalade", e fora projectado pelo Arqt.º Francisco Keil do Amaral (1910-1975), junto ao novo Lago do Campo Grande, também por ele projectado. Este restaurante abriu as portas no primeiro trimestre do ano de 1948.

Restaurante "Alvalade"


O Ministro das Obras Públicas, Eng.º Duarte Pacheco, mandou remodelar profundamente o Lago do Campo Grande e a sua zona envolvente, num estilo modernista.
Para o efeito, encomendou o projecto ao Arqt.º Francisco Keil do Amaral, tendo a obra decorrido entre 1944 e 1948.

Projecto do Restaurante "Alvalade"





Escultura de António Duarte à entrada do restaurante

Janela do restaurante sobre o lago

Interior do Bar, decorado por Maria Keil (1914-2012)

Salão do restaurante, decorado por Maria Keil



Depois da demolição deste restaurante, foi construído no mesmo local e inaugurado em Novembro de 1972,  um novo edifício de dois pisos, projectado pelo Arqt.º Nuno San Payo, integrando um painel de cerâmica, da autoria da ceramista Maria Emília Silva Araújo. Este edifício foi idealizado para ser um posto de recepção turística, com salas de refeição, bar e várias lojas. Manteve praticamente a mesma designação do restaurante anterior: "Alvalade Restaurants".

"Alvalade Restaurant" - década de 1970

"Alvalade Restaurant" - década de 1970

"Alvalade Restaurant" - década de 1970


Contudo, pouco tempo depois, foi adaptado pelo mesmo arquitecto para ser um centro comercial, conservando-se a fachada, constituída pelo painel de cerâmica de Maria Emília Silva Araújo.


A partir da década de 1970 do Séc. XX assistiu-se, de forma natural, à integração de cinemas em centros comerciais. É inegável que o facto em si foi uma novidade, porque criou a convicção de que era possível reunir num só espaço diversos serviços, como uma nova forma de viver a cidade. 
E esta tendência foi tão bem sucedida que assistiu-se ao aparecimento desenfreado de centros comerciais, que reuniam um enorme conjunto de serviços úteis à sociedade.

No seguimento do aparecimento de espaços como Centro Comercial Apolo 70 e o Edificio Castil, o Arqt.º Nuno San Payo (responsável pelo projecto do Cinema Quarteto), procurou adaptar o modelo num espaço existente no Jardim do Campo Grande, desenhando um pequeno complexo constituído por lojas, restaurante e um cinema, inaugurado em 1 de novembro de 1974 com a designação de Caleidoscópio

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

Centro Comercial Caleidoscópio - década de 1970

No 1º piso situavam-se o snack-bar e o café. Na cave situavam-se as lojas e a sala de cinema, que tinha capacidade para 299 espectadores. O filme inaugural desta sala foi "O Exorcista", de William Friedkin. 

Lauro António, um dos maiores críticos de cinema na época, escreveu no Diário de Lisboa, de 08.11.1974, sobre este espaço: "(...)uma  decoração entre o vermelho e o negro, e o conforto necessário. Caleidoscópio principia a sua função em estilo "espectacular",porque fica lá no ignorado lago dos cisnes, no Campo Grande e quer que o público o conheça."

Lauro António foi o primeiro director de programação desta sala, até 1975: "O Caleidoscópio promete arrepiar caminho e dedicar-se a filmes de qualidade, em estilo "estúdio", mais ou menos na linha do Estúdio Apolo 70".





Programa do filme "Woodstock", estreado a 18.05.1975

Programa do filme "Woodstock", estreado a 18.05.1975

Bilhete do filme "Woodstock", estreado a 18.05.1975

No seu interior,também existiu uma grande livraria e uma discoteca chamada "Nell's". A título de curiosidade, o café do Lago mantém-se aberto e continua a alugar barcos, a quem quiser passar uns momentos de descontracção.

O edifício manteve-se até à actualidade inalterável no exterior, com os bonitos painéis de azulejos em relevo na fachada a destacarem-se. Contudo, o cinema deixou de funcionar a partir de 1994, para além do restaurante, como também a maioria das lojas existentes. 

O edificio começou a definhar a olhos vistos na entrada do Séc. XXI. A sua fachada estava coberta de grafittis e a porta de entrada, entreaberta, convidava à destruição do seu interior. Há muito que aguardava a prometida e merecida transformação num centro académico. Durante anos, a fachada, com alguns vidros partidos, ostentaram os letreiros das lojas que há muito tinham encerrado, nomeadamente da discoteca Nell´s (tristemente conhecida por ter sido palco do tiroteio que envolveu dois seguranças em 2007).
A última loja a fechar foi a Livraria "Escolar Editora", que se mudou para a Faculdade de Ciências, com a promessa de regresso ao lugar original, assim que as obras de remodelação terminassem.

 




Em 2011, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, e o reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, apresentaram os projectos de qualificação do Jardim do Campo Grande (zona norte) e do edifício Caleidoscópio, onde ficaria sediado o novo Centro Académico. 

O edifício Caleidoscópio, que foi cedido pela Câmara à Universidade de Lisboa para instalação de um Centro Académico, mediante um protocolo assinado pelas duas instituições, seria de uma remodelação integral do seu interior, a cargo da Universidade. 
Como explicou Pedro Oliveira, arquitecto responsável por este projecto, o que se pretendia era fazer deste edifício mais uma "porta de entrada" para o Jardim do Campo Grande, em ligação com o campus universitário e um "ponto de encontro" das diversas instituições universitárias adjacentes. 
Assim, em parceria com a CML, a zona do envolvente do edifício seria alvo de arranjo específico, com a remoção dos espaços de estacionamento fronteiros ao edifício, entre este e zona universitária, e a criação de um pátio do lado do jardim e de uma esplanada sobre o lago. 
Enquanto a fisionomia exterior do edifício se manteria inalterada (apenas foram removidos os elementos que foram acrescentados, restituindo a originalidade do edifício, e acoplada uma pala luminosa), o interior sofreria uma profunda remodelação, para instalação de salas para as associações académicas e associações ambientalistas, galeria, auditório, um grande salão, áreas de estudo, cafetaria e restaurante.

O atraso nas obras, segundo o reitor da Universidade, deveu-se às dificuldades financeiras do país e da universidade. António Sampaio da Nóvoa explicou que estava em causa um investimento de 1,5 milhões de euros, frisando que tudo seria feito com base na sustentabilidade financeira, sem investimentos públicos.

Também atrasada, mas já em fase de obra, encontrava-se a recuperação da parcela norte do Jardim do Campo Grande, que incluia a criação de um parque de recreio canino e uma praça de jogos matemáticos.
A parcela sul deste jardim, entre as Avenidas do Brasil e Estados Unidos da América, onde se localiza um parque infantil e uma piscina municipal abandonada, também seria alvo de uma requalificação, mas que se encontrava igualmente atrasada.

Em 2016, este edifício tornou-se num Centro Académico da Universidade de Lisboa, com sala de estudo, auditório, centros de exposições e documentação. A McDonald's financiou as obras, sendo o projeto da responsabilidade do Arqt.º Pedro Oliveira, que manteve a estrutura e traça originais.






Fontes:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
https://restosdecoleccao.blogspot.com/2018/06/restaurante-alvalade.html
http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06820.170.26957#!7
https://www.caminhos.info/equipa/lauro-antonio/
https://museudoscinemas.wordpress.com/2020/10/26/cinema-caleidoscopio-1974-1994-a-sala-dos-domingos/
http://guedelhudos.blogspot.com/2011/03/festival-jerry-lewis.html
http://guedelhudos.blogspot.com/2010/08/quo-vadis.html
http://guedelhudos.blogspot.com/2009/05/woodstock-no-cinebolso.html
https://tribodosultras.blogs.sapo.pt/22427.html
http://ratocine.blogspot.com/2010/08/os-cinemas-de-lisboa_08.html4.html,http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1358079
https://www.cmjornal.pt/economia/detalhe/fisco-ataca-discoteca
http://visao.sapo.pt/actualidade/visaose7e/sair/2016-10-19-No-Caleidoscopio-agora-estuda-se-365-dias-por-ano-24-horas-por-dia
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993517&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993520&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993521&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3993522&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=1914451&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://fotos.web.sapo.io/i/oab02387c/4814152_kA7bj.jpeg
https://fotos.web.sapo.io/i/o1e01f926/4814163_w9GAG.jpeg