Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

26.10.14

TCN Blog Awards 2014

Mais um ano...mais uma edição do TCN Blog Awards e sempre com muitas participações por parte de cinéfilos bloguistas. 
As candidaturas já encerraram e pode se dizer que existem resultados dignos de registo: 39 blogues participantes, 66 criticas de cinema, 59 de TV e dezenas de candidaturas noutras categorias proporcionaram à Academia TCN mais de 300 opções de voto para escolher 8 nomeados em cada categoria da edição deste ano. Os membros da Academia TCN vão ter uma tarefa extenuante, mas gratificante de escolher os nomeados para as categorias a concurso, sendo que o anúncio dos nomeados vai ocorrer nos dias 29, 30 e 31 de Outubro.
O público poderá dizer de sua justiça a partir de 1 de Novembro, sendo que a cerimónia da entrega dos prémios será a 10 de Janeiro de 2015.
Que vençam os melhores!!!

Aqui fica o link do evento: http://cinemanotebook.blogspot.pt/search/label/TCN%20Blog%20Awards%202014

E o cartaz:








Cinemas do Paraíso: Portimão

A minha busca por antigos cinemas e pérolas arquitectónicas de Portugal já me levou a diversos pontos do país. Desta vez, vou à zona veraneante do Algarve, mais concretamente a Portimão, para falar de alguns espaços de cinema que marcaram esta cidade noutros tempos.
Adjacente à Praça Manuel Teixeira Gomes, no aterro do Cais, foi erguido um barracão em 1912, onde funcionou o Animatógrafo, propriedade de António do Carmo Provisório (daí ser conhecido como Cinema Provisório). O cinema mudo era abrilhantado pelos grupos musicais locais, entre os quais o Fraternidade Philarmónica Recreativa.
Em 1926, este espaço foi arrendado por uma jazz band conceituada designada por Orquestra Semifúsica, que atrairia os amantes do teatro e cinema, passando fitas mais modernas e albergando companhias de teatro e artistas reputados como Mirita Casimiro e Vasco Santana.
Contudo a falta de higiene, apesar das obras de remodelação, e a necessidade de arranjar o Largo do Dique, originaram a demolição do barracão pela Junta Autónoma dos Portos.



Em 1938 foi construído um outro cinema moderno e confortável, designado de Cine-Teatro de Portimão, de raíz modernista, tendo sido demolido no final do séc.XX.
De acordo com o blogue Citizen Grave, ir a este espaço para ver cinema era uma experiência que criava expectativas: "a luz esquecida de um tempo em que ir às soirées de sábado e às matinées de domingo no antigo Cine-Teatro de Portimão, há muito demolido, era um acontecimento esperado durante toda a semana. Do tempo em que entrevia o mundo a partir do alto dos bancos corridos do segundo balcão de um cinema de província, ficou-me uma colecção de cromos que reproduzia as mesmas fotografias dos «actores de momento», emolduradas junto ao bar do Cine-Esplanada, onde numa noite de Verão vi a «Ponte do Rio Kwai» enquanto o céu era riscado por uma chuva de meteoritos que se confundiam com o fogo das baterias japonesas sobre os intrépidos prisioneiros de guerra britânicos. Ficou-me, sobretudo, a memória de um tempo em que ir ao cinema era um acontecimento preparado com uma semana de antecedência. Primeiro, tratava-se de ir num grupo de amigos «ver os cartazes» afixados nas vitrinas, na expectativa de haver um filme para «maiores de 12 anos». Mas o que era bom mesmo era «ir ao cinema»: comprar o bilhete com as economias da semana, receber o programa, ouvir o «going» e ali ficar na penumbra, entre amigos, vivendo as aventuras daqueles heróis tão próximos de mim que até os guardava numa caderneta de cromos na gaveta da minha mesa-de-cabeceira".











FONTE:
FELINO, A. (2008) Os cinemas em Portugal : a interpretação de um arquitecto - Raul Rodrigues Lima. Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia. Universidade de Coimbra.
http://www.cm-portimao.pt/index.php/features/viver/cultura/37-atividades-municipais/cultura/302-patrimonio-espacos-publicos
http://portimaoruaarua.blogspot.pt/2011/02/avenida-d-afonso-henriques.html
http://portimaoruaarua.blogspot.pt/2011/06/largo-do-dique.html
http://citizengrave.blogspot.pt/2012/07/cinemas-teatros-e-cine-teatros.html

28.9.14

Visita à era de ouro dos animatógrafos em Lisboa III

Depois de dois capítulos dedicados aos antigos animatógrafos de Lisboa, regresso a esta era do inicio do Séc. XX para falar de mais alguns locais emblemáticos que se dedicaram ao cinema durante algum tempo.
Por volta de 1910, mais concretamente no inicio da Calçada da Estrela, abria ao público o Casino Étoile, mais um recinto que viria a satisfazer os desejos cinematográficos dos lisboetas, embora por pouco tempo.
A partir de 1915, este espaço viria a largar a exploração cinematográfica para se transformar num local dedicado ao teatro, especialmente pequenas revistas a par de companhias de teatro infantil (que na altura eram muito apetecidas). A sua designação passou a ser de Teatro Estrela e, depois, Salão Teatro de Variedades. Contudo, este teatro viria a encerrar as suas actividades em 1918.
Este edifício exteriormente era muito incaracterístico, sem qualquer atributo arquitectónico digno de registo. A sala era constituída por uma plateia e um balcão de frente, que se continuava  por um e outro lado, cujo acesso era feto por uma escada de pedra, comportando uma lotação de 500 espectadores. O palco (e o ecrã quando se realizavam sessões de cinema) ficava do lado oposto à entrada da sala.




Os bairros típicos de Lisboa acolheram com muito entusiasmo a actividade cinematográfica que surgiu em Lisboa no inicio do Séc. XX. Pelo menos, alguns bairros tinham o seu espaço dedicado ao cinema: Mouraria com o seu Salão Portugal; Bairro Alto com o seu Salon Rouge; Alcântara com o seu Salão Alcântara e o Cinema Promotora; Graça com o Royal Cine, o Gil Vicente, a Voz do Operário e o Salão Recreio. O Bairro da Madragoa iria seguir estes exemplos e também teria o seu animatógrafo, localizado na Rua das Trinas (precisamente onde existira anteriormente uma modesta sala de teatro designada de Teatro das Trinas) designado de Salão das Trinas.
Depois das obras concluídas, este salão abriria as portas ao público em 1919, mas a sua exploração cinematográfica não duraria muito tempo. A partir da década de 1940, este espaço iria desaparecer definitivamente, não restando qualquer vestígio da sua existência actualmente.


Continuando pelo Bairro da Madragoa, outro animatógrafo iria surgir em 1924 instalado no antigo Convento das Bernardas, localizado na Rua da Esperança, designado de Cine Esperança. Contudo, este espaço teria o mesmo destino do Salão das Trinas e, em pouco tempo, viria a fechar portas, comprovando-se que os habitantes deste bairro não estavam interessados no cinema.


Seguindo para o Bairro da Graça, este seria aquele que viu surgir o maior número de animatógrafos no inicio do Séc. XX. Primeiro surgiu o Salão Recreio da Graça, seguido do Salão Voz do Operário, os cinemas Gil Vicente e Royal Cine.
Salão Recreio da Graça localizava-se na Rua da Infância e abriu ao público em 1917, sendo uma sala despretensiosa, mas limpa e cuidada. Apesar das suas cómodas instalações, viria a fechar as portas um ano depois devido à carência de público, embora na altura exibisse teatro e cinema conjuntamente.
Em 1919, este espaço sofreria obras de melhoramento, cujo resultado foi mais agradável e cómodo para os seus frequentadores, que acorreram com entusiasmo ao novo espaço que iria durar até à década de 1930.



Por esta altura, a zona do Chiado era uma das mais privilegiadas relativamente aos animatógrafos. Para além do Cinema Ideal e do Chiado Terrasse, também existia o Salão Trindade.
Este salão localizava-se na Rua Nova da Trindade, instalado entre o teatro com o mesmo nome e o Teatro Ginásio. Ocupava o espaço correspondente à entrada actual dos serviços de avarias e do automático da Companhia de Telefones, que iria adquirir na década de 1920 o edifício onde ficava este salão.
Este espaço abriu as portas ao público em 1909, destinado inicialmente para um público mais popular, e sem grandes comodidades, como era normal em tantas outras salas da época, visto que o público era pouco exigente e só queria vislumbrar o que a tela oferecia. Contudo, também este salão sofreu alterações a nível das comodidades para com isso fidelizar a sua clientela.
Embora fosse um espaço popular, isso não significava que outros públicos não acorressem ao mesmo para ver cinema.
Com o passar do tempo e com a abertura de novas salas, os empresários da indústria cinematográfica viram-se forçados a introduzir melhorias nas salas e seus anexos, como nas instalações das próprias cabines, substituindo as obsoletas e barulhentas máquinas de projecção por aparelhagens mais modernas e capazes.
Em 1917, iniciaram-se obras de certo vulto neste espaço, com modificações significativas na estrutura interior original. No entanto, em 1921 este espaço foi comprado pela Anglo Portuguese Telephone Company, tendo sido posteriormente demolido.





Em 1912, os lisboetas tinham à sua disposição (tal como iria acontecer anos mais tarde com a abertura do Parque Mayer) um amplo recinto de diversões designado de Paraíso de Lisboa. 
Este espaço localizava-se no inicio da Rua da Palma, estendendo-se até ao coliseu da Rua da Palma (pertencente ao Conde de Folgosa).
Dentro deste recinto destacava-se um rink de patinagem, palco dos primeiros ensaios de cinema falado, realizados por técnicos franceses da Gaumont, em colaboração com João Freire Correia. Um salão de cinema completava todo este conjunto posto à disposição dos seus frequentadores.
Contudo este espaço viria a fechar portas em 1921 por falta de clientela.



Fonte:
RIBEIRO, M. Félix, Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca Nacional, 1978
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2011_03_01_archive.html
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/12/salao-das-trinas-1919-1942.html
- http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/imovel-da-rua-das-trinas-67-a-73
- http://www.cm-lisboa.pt/equipamentos/equipamento/info/convento-das-bernardas-do-mocambo
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/12/salao-recreio-da-graca-1917-1936.html
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/08/salao-trindade-1909-1923.html
- http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/09/teatro-da-trindade.html
- http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/06/paraiso-de-lisboa-1912-1920.html


16.8.14

Cinema Vale Formoso: para quando a sua recuperação?

Depois de umas merecidas férias, volto novamente à cidade do Porto para visitar um cinema cujo edifício ainda se mantém inalterável (pode se dizer que até está muito bem conservado, mas que há muito deixou de cumprir as funções para o qual foi destinado. Refiro-me ao Cine-Teatro Vale Formoso.


De acordo com Carvalho (2019), este cine-teatro foi inaugurado, na freguesia de Paranhos, a 30 de dezembro de 1948. A sua construção partiu de iniciativa privada. A intenção do projecto era integrar este edificio na rede de obras incentivadas pelo Estado Novo, que se submetiam aos seus critérios de linguagem e estilo.

O projecto foi, em primeiro lugar, comissionado por Arnaldo Caldeira Pato, sócio da Empresa Cinematográfica Vale Formoso, em 1945, passando para as mãos de Alberto Simões Carneiro, sócio da mesma empresa, no ano seguinte, que continuou o projecto no terreno cedido previamente por Arnaldo Caldeira Pato, com pequenas alterações. O Arqt.º Francisco Fernandes da Silva Granja, enquanto mantinha atelier juntamente com o Arqt.º Carlos Neves, foi o responsável pela execução do trabalho, apesar de, em 1946, os desenhos serem assinados pelos dois arquitectos.

Em 1948, completa-se o projeto definitivo, e inicia-se a sua construção, com alterações mais substanciais em relação às fases anteriores. As principais diferenças estão patentes no desenho das fachadas, na proporção e na altura dos volumes e, acima de tudo, na relação com a envolvente. Ao longo do desenvolvimento do projecto, uma série de condicionantes levou à perda de relações urbanas importantes, que pode ter dificultado, de certo modo, a integração e longevidade do edificio na comunidade e na cidade.

Planta da fachada

Planta da fachada

Planta do rés-do-chão 




Previa-se que este edificio fosse uma grande sala de espectáculos, com 1076 lugares, foyer, zonas de estar, salão de festas, uma zona de bar com acesso ao "parque de recreio" e áeas de serviço: vestiários, sanitários, zonas de arrumos e administração. As versões do projecto de 1945 e 1946 são, praticamente, semelhantes, relativamente à distribuição das áreas.

O projecto incluía, igualmente, a construção de residências: três casas em banda, com dois pisos, que iriam definir a frente da Rua de São Dinis e o gaveto com a Rua do Capitão Pombeiro. Ao prolongar-se o volume correspondente ao pórtico com arcadas, do lado nascente, todo o conjunto foi rematado.



A zona pública e a zona técnica deste edificio eram totalmente separadas e possuiam entradas independentes, devido ao Decreto-Lei de maio de 1927, que exigia, às novas salas de espectáculo, incluindo os cineteatros, que as zonas pública e de serviço dos edifícios fossem separadas fisicamente, à exceção da boca de palco, único ponto de interação entre ambas. 
Os cineteatros ficavam, assim, obrigados a ter acessos independentes, para o público e para os atores. Assim, existiam, ao todo, quatro caixas de escadas: duas associadas à zona pública, para o acesso às zonas de estar, no primeiro piso, ao balcão e camarotes, e duas escadas na zona de serviço, de cada lado do palco, para aceder aos dois pisos superiores dos camarins e varandim técnico do palco.


A entrada era feita ao centro, contida num volume destacado, com as bilheteiras de cada lado, seguida do grande foyer de distribuição. Duas caixas de escadas ficavam posicionadas de cada lado do foyer, que acediam aos pisos superiores da galeria e balcões, destinados ao público. A escadaria da esquerda correspondia, em alçado, a uma torre proeminente, que marcava a assimetria do alçado e servia como referência, à escala urbana. 




Do lado direito da sala principal, a oeste, desenvolvia-se uma ala diferente, composta pela zona administrativa, arrumos de cenários e de equipamento técnico, salas de arquivo, que se distribuíam pelos três pisos, e ainda um jardim de inverno. Nesta ala, encontrava-se uma outra escadaria, centrada na fachada poente, que estaria associada à entrada secundária do público, que se faria por esse lado.



A grande sala principal era composta, pelo palco, plateia, balcão e quatro camarotes. A plateia tinha um formato paralelepipédico bastante alongado, como era típico da tipologia dos cineteatros portugueses, e integrava um grande balcão, bastante proeminente no espaço, com primeira e segunda ordem. Os camarotes dividiam-se entre o primeiro e o segundo piso, tendo, ao todo, 8 subdivisões em cada piso. O desenho da sala foi evoluindo entre a primeira e a última fase do projeto, nomeadamente, nas proporções do espaço e no desenho dos alçados interiores.
 



Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

No entanto, no inicio da década de 1990 assistiu-se ao encerramento desta sala. Em 1993, a Empresa Cinematográfica Vale Formoso alugou o espaço à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), para a realização de cerimónias e culto religioso. Até aqui, apenas tinham sido feitas obras de conservação e limpeza. 

Existem registos de que, em 1995, houve uma ordem de despejo, visto que o aluguer não estaria legalizado, e em 1996 foi pedida uma licença por Isabel Botelho, representando a Empresa Cinematográfica, para alargar o uso deste edificio a "conferências, festas, palestras, sermões, culto religioso e obras de ação social".

A IURD acabou por comprar este cine-teatro e utilizou-o como igreja até ao início da década de 2000, altura em que mudou de instalações, para o novo templo na Rua de Egas Moniz, a cerca de 800 metros lineares do antigo cine-teatro. 
As alterações mais significativas ao espaço, feitas pela instituição, foram, por um lado, a colocação de uma laje sobre a abertura do fosso de orquestra, fazendo, desta forma, o prolongamento da zona da assistência. Sobre esta laje, foi colocado um altar. Na transição entre a plateia e o palco, foram introduzidas duas escadas semicirculares.




A sala principal sofreu algumas remodelações, no que toca aos revestimentos. Foi adicionado um lambril de madeira que percorre todo o perímetro da sala e balcão, e o tecto falso original e respetivo desenho, foram substituídos por um novo teto falso, recortado ao centro em forma de cruz latina. 


Toda a zona dos camarins sofreu bastantes intervenções, para se adaptar às necessidades da instituição. Esses compartimentos foram transformados em salas de reunião, cozinhas, quartos e até num estúdio de rádio. 
Muitas paredes acabaram por ser deitadas abaixo e outras foram construídas, descaracterizando bastante esta zona do complexo. Os restantes espaços, como o salão de festas e outros compartimentos menores, também na zona pública deste edificio, foram usados pela instituição como espaços de arrumo e administração. 


Depois de alguns anos de abandono, e após a mudança para as novas instalações, a IURD voltou a utilizar este cine-teatro semanalmente, para a realização de algumas celebrações. No entanto, apenas utiliza a sala principal, de forma mais regular. O restante edificio encontra-se, praticamente, abandonado, particularmente os andares superiores e os pátios exteriores. Da mesma forma, a envolvente urbana, próxima deste cine-teatro, encontra-se, também, negligenciada.
 
Este cine-teatro e grupo de moradias, bem como o Conjunto no Ouro, foram classificados, em 2022, como conjuntos de interesse municipal, pelo seu valor cultural relevante, uma vez que se configura através da sua escala, da sua linguagem moderna e conteúdos programáticos, como um dos equipamentos urbanos de proximidade de maior notabilidade social, enquanto exemplar do cinema de bairro, promovido durante o Estado Novo.

A classificação deste conjunto representa uma mais-valia, enquanto testemunho que ilustra os conceitos socioculturais e politicos da década de 1940 do Séc. XX português que, ultrapassando a escala de cinema de bairro, adquiriu presença na memória coletiva portuense.


Fontes:
- CARVALHO, Maria Carolina Almeida de Figueiredo. "Reabilitar para a Cidade: o Cine-Teatro de Vale Formoso" (2019). Tese de Mestrado Integrado. Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.
http://monumentosdesaparecidos.blogspot.pt/2012/05/cine-teatro-vale-formoso-porto.html
http://jpn.c2com.up.pt/2013/05/19/porto_a_nova_vida_das_velhas_salas_de_cinema.html
https://www.porto.pt/pt/noticia/cineteatro-vale-formoso-e-o-conjunto-no-ouro-classificados-de-interesse-municipal
https://www.custojusto.pt/porto/desporto-lazer/coleccoes/programa-cinema-vale-formoso-1-30841222
https://www.custojusto.pt/porto/desporto-lazer/coleccoes/bilhete-filme-o-trovao-de-1966-39484180
- https://www.custojusto.pt/porto/desporto-lazer/coleccoes/programas-cinema-trindade-bata-30955306

31.5.14

Cinemas do Paraíso: Açores, parte III


Depois de uma ausência prolongada devido ao regresso à vida académica (que consome bastante tempo), aproveitei uma pequena folga e resolvi viajar no espaço e no tempo para voltar a falar de maravilhas arquitectónicas nacionais.
Desta vez  regresso, pela terceira vez, ao arquipélago dos Açores para falar sobre mais uma relíquia arquitectónica que se localiza na Ilha Terceira, mais concretamente em Angra do Heroísmo.
Na Rua da Boa Esperança, mesmo no centro histórico da cidade de Angra do Heroísmo, em plena zona classificada como Património Mundial pela UNESCO, situa-se o Teatro Angrense. É a principal sala de espectáculos da cidades e uma das mais importantes dos Açores, simbolizando para a população agrense a excelência a nível cultural desde o fim do séc. XIX.
Neste local, na esquina da rampa que dá acesso ao actual Mercado Duque de Bragança, existiu em 1599 um edifício que servia de armazém para mercadorias importadas. Contudo, este edifício foi o foco da epidemia de peste que assolou a cidade naquele ano, o que iria vitimar um grande número de habitantes.
A Câmara Municipal, como medida profilática, resolveu incendiar o dito edifício, que permaneceu em ruínas até 1862, quando um grupo de accionistas se juntou no intuito de construir um teatro. O projecto previa 50 camarotes numa disposição de três ordens, 152 lugares na plateia, 63 cadeiras, um pequeno salão no pavimento superior, um palco e 14 camarins.


Contudo, com o decorrer dos anos, as instalações do teatro mostraram-se pequenas e desconfortáveis com um palco pequeno, camarins muito húmidos e a arquitectura, quer interior como exterior, pobre perante o meio cultural da cidade, que se expandia no inicio do séc. XX.
A direcção, com a aprovação da Assembleia Geral,  resolveu ampliar e transformar as instalações deste teatro. Este projecto aprovado foi da autoria do Major Eduardo Gomes da Silva, iniciando-se as obras em 1919, sob a direcção do mesmo. A inauguração aconteceu em 1926, com a apresentação da Companhia de Teatro Maria Matos-Nascimento Fernandes. O edificio resistiu sem danos de grande importância ao terramoto de 1980, demonstrando o quão sólido era. Na década de 1990 passou por uma remodelação, já na posse da Câmara Municipal.
É um teatro aberto dito "ferradura", muito utilizado com a evolução da ópera italiana e o teatro romântico, sendo um exemplar único na Ilha e um dos melhores neste arquipélago. Arquitectónicamente, é um edifício que possui todas as características e condições para um desempenho teatral em moldes tradicionais com teia, camarins e palco. A sala tem uma estrutura em madeira, criando boas condições acústicas. Os espectadores dispõem, desde a sua construção, de meados de oitocentos, uma sala com plateia, balcão, frizas, camarotes de duas ordens com salas de fumo e geral. A sua fachada tem influência neoclássica, encimada por um frontão triangular.






A sua lotação é de 636 lugares, distribuídos pela plateia (231), balcão (45), camarotes (332) e frisas (28). Possui actualmente 6 camarins individuais e 6 de ocupação múltipla; uma área de palco de 95 m2; iluminação e sonorização cénica; equipamento de projecção de cinema, serviço de bilheteira local; serviço de bar e foyer para pequenas exposições.










Este edifício foi classificado de Imóvel de Interesse Público pela Resolução nº 152/89, de 5 de Dezembro, publicado no Jornal Oficial, I Série, nº 49.
Recebeu grandes nomes nacionais e internacionais do mundo teatral, como também artistas locais. Nos últimos anos passaram os mais diversos espectáculos pelo seu palco, desde Carlos do Carmo até aos musicais de Filipe La Féria. É de realçar a passagem da grande fadista Amália Rodrigues por este teatro em 1953, levando ao rubro quer os agrenses, como também as receitas do mesmo.


Fonte:
http://www.cm-ah.pt/showPG.php?Id=325
- http://cultura.cm-ah.pt/espacos/index.php?id=2
- http://philangra.blogspot.pt/2013/02/o-teatro-angrense.html
- http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=8171
- http://cblogazores.blogspot.pt/2012/02/teatro-angrense-tipo-de-imovel.html#.U4pWSvldWSo
- http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Teatro_Angrense,_escadarias.jpg
- http://upfc-colmeal-gois.blogspot.pt/2011/07/uniao-no-teatro-micaelense.html

26.2.14

Visita à era de ouro dos animatógrafos em Lisboa, parte II

De regresso a Lisboa, vou novamente visitar animatógrafos que foram aparecendo pela cidade no inicio do Séc. XX.
A década entre 1910 e 1919 foi marcada pelo grande desenvolvimento internacional da indústria cinematográfica. Os filmes ao tornarem-se mais longos e de melhor qualidade, vieram eliminar a inclusão de outras expressões artísticas no programa dos animatógrafos. Alguns filmes por si só já conseguiam assegurar o espectáculo. 
O aparecimento de filmes com enredo vieram aumentar a frequência de espectadores, o que levou ao surgimento de mais espaços cinematográficos, como também ao encerramento de muitos outros. E isto deveu-se ao facto de alguns cinemas não terem feito obras de melhoramento, o que levou o público ávido de novidades (quer tecnológicas, quer de instalações) a rumarem para outras salas melhores. Também é importante realçar que a modificação do sistema de contractos (o aluguer das cópias em vez da compra) deixou o exibidor mais desprotegido, uma vez que os contractos a cumprir eram mais apertados (menos sessões para realizar dinheiro).
Foi nesta década que também se verificou que o fenómeno do cinema ia se estendendo para outros bairros de Lisboa, deixando de se concentrar somente no eixo Restauradores-Rossio-Chiado. Esses espaços eram designados de "cinemas de reprise".
O Salão Cosmopolita abriu as portas em 1914 na Rua da Mouraria (próximo do Salão Lisboa), mas a sua existência foi curta (igual a de muitos animatógrafos da época). Em 1916, as suas portas permaneciam abertas acolhendo perto de 510 frequentadores residentes no castiço Bairro da Mouraria. No entanto, este espaço fecharia as suas portas em 1919.




O Bairro da Estefânia também viria a ter um espaço dedicado ao cinema, visto que era uma zona da cidade composta por uma larga faixa de pequena burguesia denominada de "gente remediada". Cinema Império (não confundir com o outro cinema com o mesmo nome) era o nome desse espaço que abriria portas em 1916 na Rua Pascoal de Melo e que era gerido pela firma proprietária Lopes & Rogado, que publicitou-o como "cinema de elite".
Os espectáculos eram feitos às 5ª e 6ª feiras, Sábado e Domingo (neste dia as sessões eram às 20h30 e 21h45, com matinés às 15 horas), onde realizava-se uma só sessão às 21 horas.
Era um espaço que apresentava a novidade de vender bilhetes com antecedência, o que garantia um lugar reservado e também um programa. Mas isso não foi o suficiente para cativar o público, o que levou ao seu encerramento em 1918.



Entre os Bairros de Santa Catarina e Lapa existiu um espaço que também exibiu cinema, de seu nome Salão Edison. Iniciou funções em 1919 (numa zona onde não existia qualquer outros espaço dedicado à mesma arte), num pátio recolhido no Largo do Conde Barão, à semelhança de outros espaços na época  como o Teatro do Rato e o Casino Étoile. Esteve alguns anos aberto, até fechar portas em 1941.



De regresso à zona nobre do Rossio, falo-vos de um animatógrafo que existiu no 2º andar da Quinta da Regaleira (um edifício que ainda se mantém intacto no Largo de São Domingos, e que também serviu de Centro Republicano) designado de Rossio Palace
Este espaço (propriedade do então Conde da Regaleira) abriu as portas ao público pouco tempo antes da implantação da República em 1910, mas a sua existência foi curta durando somente até 1914. Como muitos outros espaços cinematográficos da altura, também exibiu filmes pornográficos às altas horas da noite, depois das exibições nocturnas normais.




Subo até ao Chiado e chego à Rua António Maria Cardoso, mais concretamente ao Teatro República (actualmente designado de Teatro São Luiz), que no seu interior tinha um espaço denominado de Jardim de Inverno. Esse vasto espaço que tinha duas largas palmeiras no centro, funcionava como um salão de espera onde, nos intervalos, os espectadores tomavam o seu café ou refrescos nas mesas de ferro espalhadas pelo local. Era frequente reunirem-se neste espaço pessoas ligadas ao mundo da literatura, das artes, do teatro, do jornalismo, etc.
Em 1911 surge neste espaço o animatógrafo The Wonderful, que era publicitado como um espaço que exibia quadros de maior sensação em Lisboa. As suas sessões começavam às 19h30, eram contínuas e custavam 100 réis na "superior" ou nas filas de trás, tendo a "geral" o preço de 60 réis. Infelizmente este animatógrafo teve uma existência muito curta, tendo o Jardim mais tarde se transformado num estúdio cinematográfico onde foram realizados diversos filmes portugueses como Ver e Amar, de Chianca de Garcia e Maria do Mar, de Leitão de Barros.





Por fim, volto a descer até aos Restauradores e caminho até à zona do Parque Mayer, onde em 1910 o empresário Júlio Costa arrendou um recinto de diversões conhecido por "Music-Hall de Jesué". Este empresário já era proprietário do Salão Ideal e viu neste negócio uma oportunidade para exibir os filmes que, como distribuidor, adquirira no estrangeiro e para os quais o Salão Ideal se tornava insuficiente quanto ao lançamento desse material, que urgia ser movimentado. Este recinto, com ligeiras modificações, passaria a chamar-se de Salão Liberdade, devido ao facto de estar próximo da Avenida com o mesmo nome. O edifício era muito vasto e podia acomodar para cima de 1000 pessoas, sendo a sua exploração compensadora porque ficava numa localização muito central. Contudo, Júlio Costa acabou por ser seduzido por Lino Ferreira (homem ligado ao teatro) e Nandim de Carvalho (empresário do Salão da Trindade) a suspender a exploração do cinema e a transformar aquele recinto num teatro, que viria a ser o Teatro Variedades, girando sob a firma Costa, Ferreira & Nandim. Apesar da revista ter passado pelo espaço com sucesso, este acabou por encerrar em 1920 resultando num prejuízo tremendo para Júlio Costa, que teve de suportar os custos por conta própria.









Fonte:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
RIBEIRO, M. Félix, Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca Nacional, 1978
SALGUEIRO, Teresa B., Documentos para o Ensino – Dos Animatógrafos ao Cinebolso, 89 anos de cinema em Lisboa, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, Finisterra, XX, 1985
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/11/cinematografos-e-animatografos.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/08/cosmopolita-1914-1919.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2011/04/cinema-imperio-1916-1918.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2011/04/salao-edison-1919-1941.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/11/salao-liberdade-1910-1920.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/06/wonderful-1911-1912.html