Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

31.8.24

Cinemas do Paraíso: Mina de São Domingos

Depois de um merecido periodo de férias, que incluiu uma paragem obrigatória nessa terra alentejana de contrastes que é a Mina de São Domingos, situada no Concelho de Mértola,  deixo-vos com a história do seu cine-teatro. 

Inserida na vasta Faixa Piritosa Ibérica, a área mineira de São Domingos não é apenas um cenário de beleza natural, mas também um testemunho da longa história de exploração de recursos minerais. Desde tempos antigos, muito antes dos romanos, que este solo foi alvo de intensa procura por ouro, prata e cobre, deixando vestígios de uma era em que a extracção mineral era uma actividade essencial.

Contudo, foi durante o período da exploração moderna que a Mina de São Domingos atingiu o seu auge, moldando para sempre o destino desta região. Entre 1854 e 1966, a empresa britânica Mason & Barry liderou uma atividade de extracção de minério que durou mais de um século. Durante esse tempo, mais de 20 milhões de toneladas de cobre, zinco, chumbo e enxofre foram retiradas das profundezas da terra, marcando a história com a intensidade dessa produção. Esta mina não trouxe apenas minério à superfície, mas também um nível de desenvolvimento inédito para a povoação que a cercava. Uma das primeiras linhas férreas do país foi construída neste local, ligando a Mina ao antigo porto fluvial no Pomarão, facilitando o transporte do minério através do rio Guadiana. Foi também aqui que surgiu a primeira central eléctrica do Alentejo, um feito notável que sublinhava o espírito inovador da época. Quem visita esta terra poderá ver os sinais de uma sociedade que floresceu em torno da Mina. Havia dinamismo, modernidade e acesso a serviços que, na época, eram raros em outras partes do país. Imagino como seria viver num lugar que possuía um cineteatro, um hospital e uma infraestrutura impressionante, tudo sustentado pela actividade mineira. Esta localidade não demorou a equipar-se com os benefícios do progresso: rapidamente foram instalados o caminho de ferro, telégrafo, telefone, luz eléctrica, força policial, igreja, capelão, correio e médico, entre outros serviços essenciais. 

O fim da exploração mineira, somado à falta de uma reabilitação adequada após o seu encerramento, deixou um legado sombrio na Mina de São Domingos. O abandono e a vandalização dos patrimónios restantes precipitaram uma decadência inevitável, resultando num êxodo da população local, no abandono dos edifícios outrora vibrantes e num enorme passivo ambiental que ainda hoje marca toda a antiga área mineira.

No entanto, através da Portaria 414/2013, o conjunto mineiro da Mina de São Domingos foi oficialmente reconhecido pela lei portuguesa como um “Conjunto de Interesse Público”. Actualmente, a área urbana e o antigo complexo industrial foram incorporados num circuito de visita que mantém viva a história e a memória das muitas pessoas que aqui viveram e trabalharam. Este circuito oferece uma oportunidade de reflectir sobre o passado e valorizar o legado daqueles que moldaram a região. É importante referir que este local também se transformou num ponto turistico bastante cobiçado, principalmente nos meses de Verão, devido à existência da Praia Fluvial da Tapada Grande.

Esta localidade também foi apetrechada com um cine-teatro. Localizado na sua área "nobre", perto do Jardim e do campo de jogos, este espaço foi, durante o auge da exploração mineira, um dos principais centros culturais da região. Com capacidade tanto para a apresentação de peças de teatro quanto para a projecção de filmes, tornou-se rapidamente num ponto de referência cultural. A partir da década de 1920, quando o cinema mudo ainda dominava as telas, começou a exibir filmes regularmente, atraindo moradores e visitantes. Em 1938, o cinema mudo que há alguns anos animava a comunidade da Mina de São Domingos foi substituído pelo sonoro, marcando assim mais um avanço na dinamização desta localidade, que se destacava relativamente à sede da freguesia, Corte do Pinto, que, apesar de estar a apenas 4 quilômetros de distância, permanecia estagnada na sua rotina. Há quem diga que este cineteatro foi o primeiro, no Alentejo, a instalar uma máquina de ecrã largo, conhecida como CinemascopeEsta tradição cinematográfica perdurou até a década de 1980, mesmo quando, nos últimos anos, se dedicava principalmente à exibição de filmes antigos e produções de "Série B".

Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

Interior do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

Bilhete de 1955 do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)


Noticia sobre o Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

De acordo com o SIPA (2003), o edifício possui uma planta rectangular de um único piso, com uma construção de apoio anexada à parte traseira, também rectangular, mas mais estreita e baixa. Com uma volumetria horizontal, o edifício destaca-se pelo seu formato alongado. As fachadas são simples, com uma cobertura homogénea em telhado de duas águas sobre o corpo principal, enquanto as laterais, mais estreitas, terminam em empenas de ângulo. A construção adicional tem uma cobertura inclinada numa única água. A simplicidade do design era compensada pelo uso inteligente de cores, com detalhes em vermelho pintados sobre o reboco branco das paredes, sugerindo elementos como embasamento, cornija, cunhais de ângulo e molduras das aberturas. As fachadas são caracterizadas por janelas e portas estrategicamente posicionadas para reflectir a organização interna: na fachada principal, voltada para a estrada, uma porta com verga reta é ladeada por duas janelas, marcando o acesso ao auditório. No topo desta fachada, uma abertura em arco pleno permite a comunicação directa com o palco. Na metade oposta, duas aberturas em arco, altas e estreitas, dão acesso secundário ao auditório e ao bar. No interior, o auditório possui uma planta rectangular, dividida em dois espaços independentes conectados pela boca de cena, sem fosso de orquestra, e com uma capacidade de 162 lugares distribuídos pela plateia. O espaço técnico é básico e não incluia uma caixa de palco. 

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

A 9 de junho de 2012, reabriu ao público após obras de requalificação, tendo sofrido obras de recuperação, compreendendo a execução de trabalhos preparatórios, demolições, alvenarias, coberturas e carpintarias, revestimentos interiores e exteriores, construção de instalações sanitárias, redes de água e drenagem de esgotos, redes elétrica, AVAC, incêndios e segurança, em 2019

Interior do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

Actualmente, o edifício é propriedade da Fundação Serrão Martins e abriga o núcleo expositivo do Centro de Documentação da Mina de São Domingos, preservando a história rica e variada deste lugar que foi, durante décadas, um farol cultural na região.

Interior do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ Fundação Serrão Martins)

Fachada lateral do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ Google Maps)

Entrada principal do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ Google Maps)


Fontes:

- CENTRO DE ESTUDOS DA MINA DE SÃO DOMINGOS. Disponivel na Internet: <https://cemsd.pt/node/10966>

- FUNDAÇÃO SERRÃO MARTINS. Cine Teatro da Mina de S. Domingos. Disponivel na Internet: <https://www.fundacaoserraomartins.pt/index.php?id=cine-teatro-da-mina-de-s-domingos>

- SIPA. Cine-Teatro da Mina de São Domingos. Disponível na Internet: <http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=11189>

- VISIT MÉRTOLA. Mina de S. Domingos, Património Mineiro. Disponivel na Internet: <https://www.visitmertola.pt/experiencias/cultura-em-mertola/mina-de-s-domingos-patrimonio-mineiro/>