Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

8.10.21

Podcast "Cinemas do Paraíso" - Episódio 2: Kramer Contra Kramer (1979)

 Olá a todos!


Este blogue tem um podcast oficial!


Oiçam o segundo episódio dedicado ao sucesso de bilheteira de "Kramer Contra Kramer" em Lisboa e no Porto. 


Espero que seja do vosso agrado!!


Episódio 2 - Kramer Contra Kramer


Podcast "Cinemas do Paraíso" - Episódio 1: Música no Coração (1965)

Olá a todos!


Este blogue tem um podcast oficial!

Oiçam o primeiro episódio dedicado ao sucesso de bilheteira de "Música no Coração" em Lisboa. 

Espero que seja do vosso agrado!!


 Episódio 1 - Música no Coração

5.10.21

Cine-Estudio 222 - Catedral do Cinema Independente

Continuando pela cidade de Lisboa, chega-se à Avenida Praia da Vitória, nº 37, junto à Praça do Saldanha, onde ainda se encontra (pelo menos a marquise) o Cine Estudio 222.

A sua história inicia-se com a instalação de um centro comercial e sala de cinema no rés do chão e cave do nº 37 da Avenida da Praia da Vitória, entre os anos de 1976 e 1977, graças a Firozali Sacoor e Heider Alli Sacoor, moçambicanos de origem indiana, que vieram para Lisboa depois do 25 de Abril. Algumas fontes afirmam que este cinema foi inaugurado em 1978. 

É incerto o motivo deste nome. A opinião popular afirma que adviria do facto de a sala de cinema ter 222 lugares, mas o projecto que consta na CML apresenta 214 lugares. É, no entanto, possível que a designação tenha esteja relacionada com um outro cinema, nascido na Baixa de Lourenço Marques (hoje Maputo), Moçambique, com o mesmo nome, que abriu no final da década de 1960 e, de facto, teria esse nome por causa dos 222 lugares na plateia. 

Este espaço abriu as suas portas, inserido numa pequena galeria comercial com poucas lojas e em forma de corredor, que dava acesso às escadas que conduziam ao cinema. Mais um exemplo de uma sala de cinema que ficava numa cave de um prédio habitacional, tão em voga na década de 1970. 

Tinha uma particularidade urbana: o painel que se sobressaía da fachada e que divulgava em letras garrafais o seu nome.



Interior da sala (cortesia de David Ferreira no grupo de Facebook "Cinemas do Paraíso")

Interior da sala (cortesia de David Ferreira no grupo de Facebook "Cinemas do Paraíso")

Interior da sala (cortesia de David Ferreira no grupo de Facebook "Cinemas do Paraíso")



Era um espaço de pouca relevância comercial, apesar da sua localização bastante central, devido ao facto de estar muito associado à exibição de filmes de Bollywood durante muitos anos, muito direccionado para um determinado nicho de público.

Quando este espaço surgiu no final da década de 1970, funcionou como um cinema normal, e até teve sucessos de exibição, como o filme "Kramer Contra Kramer", que esteve em cartaz neste cinema durante 27 semanas. Contudo, com o aparecimento dos multiplexes, a gerência foi obrigada a criar uma filosofia diferente, porque não dava para competir com as grandes salas. Importava criar uma verdadeira alternativa, de modo a cativar os espectadores.




Programa do filme "Kramer contra Kramer" de 1980 (colecção de Carlos Caria)



Programa do filme "Kramer contra Kramer" de 1980 (cortesia de Ana do Vale)


Interior de programa do filme "Kramer contra Kramer" de 1980 (colecção de Ana do Vale)


Bilhete de 13.10.1979 - filme "Em Nome do Papa Rei" (colecção de Carlos Caria)


Também teve um Cine Clube Juvenil, direccionado aos jovens até aos 13 anos, com inscrição grátis e isenção de quotas. Havia desconto nas sessões normais das 11 da manhã e entrada gratuita em sessões especiais.

A sua cabine de projecção estava equipada com o mais avançado material Phillips, de funcionamento automático. Inicialmente, pretendia-se que a sua programação fosse de qualidade, com filmes de bom nível. Os dois primeiros filmes seleccionados: "Uma Razão para Viver" (1978) e "Em Nome do Papa Rei" (1977), eram precedidos de prémios  e de boas críticas.

Para além das sessões normais diárias, também tinha sessões às 11 da manhã para as crianças, com filmes adequados para este público-alvo, principalmente em altura de férias. 
Os adultos dispunham de sessões a partir das 14h15 até às 23h45, no total de cinco sessões diárias.



Programa do Cine Clube Juvenil 222 (M. Fernandes, 2025)



Interior do programa do Cine Clube Juvenil 222 (M. Fernandes, 2025)


O gerente deste cinema, Dhimante Cundanlal, quis diferenciar este cinema de outros, através de ciclos de filmes. Também foram importantes as parcerias estratégicas, nomeadamente a efectuada com a Associação "Zero em Comportamento", responsável pelo bem sucedido IndieLisboa, entre 2001 e 2003. Esta entidade era responsável pela programação da sala nos dias úteis. Esta parceria foi frutifera e este cinema teve lotações esgotadas com os ciclos a cargo desta associação, chegando perto dos 80.000 espectadores. 

É de salientar que, à 4ª Feira, eram exibidas curtas metragens.

Com uma comunicação eficaz, que incluía uma apresentação presencial antes do filme se iniciar, e com ciclos temáticos muito originais (que voltaram a exibir filmes que já não era, vistos há muitos anos ou que eram inéditos), esta associação transformou este cinema num local de culto, que captava a atenção de cinéfilos de todas as idades, especialmente os universitários que alargavam o seu conhecimento sobre a história do Cinema. No entanto, a partir de 2003, já era vísivel a degradação desta sala e a vontade desta entidade em procurar outras parcerias e seguir com outros projectos, acabando por sair deste cinema.

A gerência era responsável pela programação ao fim-de-semana, constituída por filmes indianos, na sua versão original e que vinham directamente de Londres. Alguns já tinham legendagem em inglês. Este cinema tentou agregar no mesmo espaço as 3 comunidades indianas que residiam em Lisboa (hindu, muçulmana e ismaelita) e, desde o final da década de 1990 e o início da década de 2000, que funcionou como ponto de encontro e de divugação da cultura indiana. Assim, a gerência poderia comprar os filmes, fazer a sua legendagem e projectá-los para uma sala pública.

Este cinema funcionou, até 2005, quando fechou portas para serem feitas obras na cobertura do telhado, processo que ficou parado (pelo menos até 2012) à espera da decisão do tribunal sobre o apuramento de responsabilidades. Sem estas obras, a C.M.Lisboa não emitiria a licença de utilização do espaço. 


De acordo com o site "Mensagem de Lisboa", este espaço estava à venda em finais de 2024, por 1 600 000 euros, através da REMAX. E um dos proprietários afirmou que queria manter a sua vertente cultural, sem apagar o passado. 


Interior do C.C. 222 (Remax, s/d)



Interior do C.C. 222 (Remax, s/d)



Interior do Cine Estúdio 222 (Remax, s/d)


Actualmente, está em obras, não se sabendo muito bem qual será a sua futura função.


Cine Estudio 222 (imagem: Paulo Frutuoso, 2025)



Fontes:

- SILVA, Ricardo Oliveira (2012) "O Cinema e a Televisão Sob o Signo da Identidade: Bollywood e as Fronteiras da

Modernidade Indiana, na Cidade de Lisboa". Departamento de Antropologia do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa.

- https://museudoscinemas.wordpress.com/2021/04/05/cine-estudio-222-1978-2003/

- https://museudoscinemas.wordpress.com/2025/04/16/o-kramer-contra-kramer-foi-visto-no-cine-estudio-222-colecao-ana-do-vale/?fbclid=IwY2xjawJuXt9leHRuA2FlbQIxMQABHh73r7R32Ja0S3qJApZP8b40zexxXiUHAMj3xkSuf2GnCXXgNeUuZkKiMbEm_aem_unS_LaooFz95dsCWLN_a2Q

- https://amensagem.pt/2024/11/15/monumental-cinema-222-cinema-saldanha/

- https://www.facebook.com/groups/sala9?locale=pt_PT

- https://www.ruadebaixo.com/cine-estudio-222.html

- https://jornalismoaudiovisual.wordpress.com/2013/02/12/os-cinemas-que-lisboa-nao-ve/estudio-222/

- http://industrias-culturais.blogspot.com/2006/12/os-pequenos-centros-comerciais.html

- https://www.remax.pt/pt/imoveis/venda-loja-tlisboa-arroios/121491209-943

- https://www.olx.pt/d/anuncio/folheto-cine-club-juvenil-222-IDHUWZ2.html

Cine-Estudio Terminal - O cinema da estação de comboio do Rossio

A Estação Ferroviária do Rossio foi inaugurada em Maio de 1890, começando a funcionar um ano depois, em junho de 1891.

A autoria do projecto desta estação foi de José Luís Monteiro, Mestre de Arquitectura da Escola de Belas Artes de Lisboa. Foi imposto pela Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, que o edificio fosse uma adaptação de valores nacionais com as produções artísticas oitocentistas. Este projecto, de inspiração neo-manuelina, compreendia uma série de detalhes artísticos que tornaram singular esta estação, nomeadamente: a Torre do Relógio, os arcos  das portas centrais, as colunas de iluminação, a cobertura de ferro e a sala do rei.


Ao longo de 130 anos, este espaço foi sofrendo alterações, algumas visando adequar o serviço ferroviário às novas tecnologias, outras adaptando-o às novas solicitações. Na década de 1940, perante o desajustamento entre a solene fachada e as exíguas instalações interiores, esta estação foi remodelada, através de um projecto do Arqt.º Cottinelli Telmo (o realizador do filme "Canção de Lisboa"), que modificou o átrio, as bilheteiras e os acessos aos cais.

Em 1958, foram acrescentado, no lado nascente da gare, 13 painéis de azulejos figurativos, concebidos para funcionarem com anúncios publicitários da Exposição do Mundo Português em 1940, criados por Lucien Donnat e Amara. Este mesmo espaço foi classificado pelo IPPAR, como "Imóvel de Interesse Público" em 1971.

Anúncio publicado no "Diário de Lisboa" no dia 19.03.1976

Em Dezembro de 1977, foi inaugurado, nos seus pisos intermédios, o Centro Comercial do Rossio, cujo projecto foi da autoria do Arqt.º José Carlos Loureiro. Este espaço era arrojado e inovador para a época, contando com cerca de 100 lojas e cinema.

Anúncio do C.C. Terminal - Diário de Lisboa de 16.12.1977

E agora, chegamos ao que mais interessa... ao cinema que estava inserido neste centro comercial. Chamava-se Cine-Estudio Terminal e teve algum sucesso durante as décadas de 1970 e 1980, tendo encerrado as portas em 1990, devido ao declínio generalizado de público nos cinemas da capital.

Anúncio do Cine-Estudio Terminal - Diário de Lisboa de 16.12.1977

De acordo com o defunto matutino "Diário de Lisboa", este cinema possuía uma sala simpática, acolhedora, sobriamente decorada e com 295 cadeiras muito cómodas, distribuídas por filas em degraus. O filme inaugural deste cinema foi "Um Cádaver de Sobremesa" (1976), realizado por Robert Moore e interpretado por Peter Falk (o eterno Detetive Colombo), Peter Sellers e Alec Guiness. Inicialmente, este cinema teve 7 sessões diárias, a começar às 10:00h e a terminar às 24:00h. O sistema de projecção, completamente automático, era fornecido pela Phillips. O mesmo jornal referiu: "(...) Uma nova sala de cinema que vem confirmar a expansão de um novo grupo exibidor com capitais, ao que dizem, moçambicanos. Depois do ABCine, aquele grupo adquiriu a Astória Filmes, alugou o Mundial e o Alvalade e abriu, agora, o Terminal".

De referir que este cinema exibiu grandes sucessos de bilheteira, como "Kramer Contra Kramer", que esteve em cartaz no mesmo durante 30 semanas em 1980!






Infelizmente, este cinema acabou por encerrar portas, devido à baixa afluência do público aos cinemas lisboetas, seguindo os passos de outros que desapareceram na mesma altura (Eden, Estúdio 444, etc.). De acordo com o blogue "Museu dos Cinemas", este cinema, no final da sua existência, foi dividido em duas salas. Com esta divisão, tentou-se melhorar a sua rentabilidade, mas sem sucesso, já que as salas encerraram pouco tempo depois. O próprio Centro Comercial viria a encerrar em 1994, quando a estação foi novamente remodelada.






Fontes:

- https://www.ocomboio.net/PDF/refer/refer_exporossio_catalogo.pdf

- https://museudoscinemas.wordpress.com/2023/09/28/a-febre-dos-cinemas-estudio/

- https://www.visitarportugal.pt/lisboa/lisboa/santa-maria-maior/estacao-rossio

- http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06828.178.28017#!19

- https://biclaranja.blogs.sapo.pt/lisboa-com-aquela-luz-1322739

- https://arquivos.rtp.pt/conteudos/encerramento-do-centro-comercial-do-rossio/