3.6.20

Nun' Álvares - um cinema que virou clube de jazz

De regresso à cidade do Porto, onde graças a Aurélio Paz dos Reis, um portuense que realizou o primeiro filme em Portugal, ganhou o epíteto de "berço do cinema português". No ano de 1896, foi projectado no Teatro do Príncipe Real (mais tarde conhecido por Teatro Sá da Bandeira), uma réplica do primeiro filme da história do cinema chamada "A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança". Em 1906 surge a primeira sala de cinema na cidade com a designação pomposa de "Salão High Life" no Jardim da Cordoaria.

Contudo, tal como em Lisboa, e mais de um século volvido, assiste-se no Porto a um abandono das suas históricas salas de cinema, em detrimento de outras salas feitas para o consumismo popular, mas sem o encanto das primeiras.

Um dos cinemas que também acabou por encerrar portas em pleno Século XXI (à semelhança de outros, como: Pedro Cem, Foco, Charlot, Batalha, Passos Manuel, etc.), foi o Nun' Álvares, localizado na Rua Guerra Junqueiro, 489.


Este cinema foi inaugurado a 1 de janeiro de 1949. O arquitecto Francisco Nobre Guedes foi o responsável pelo projecto do edificio e o proprietário do mesmo foi o industrial Norberto de Oliveira. Sempre foi uma ilustre sala de cinema, situada no Bairro da Boavista, ou Bairro Hollywood do Porto, por ser residencial com grandes vivendas e ruas arborizadas. A sala albergava 192 lugares e era considerado um espaço aprazível, numa zona agradável.











Apesar da glória conquistada nas décadas de 1980 e 1990, com a chegada dos centros comerciais e dos multiplexes, todos os cinemas de bairro do Porto (incluindo este), foram perdendo, lentamente, a sua clientela, prestígio e capacidade para sobreviver. Muitas das salas encerraram portas ou reconverteram-se para outros usos. As que se mantiveram abertas encontraram outras distribuidoras, mais pequenas e focadas no cinema europeu, independente, alternativo ou documental. O cinema Nun' Álvares, que começou a ser explorado pela distribuidora Medeia em 1996, passou a exibir esses géneros de filmes.

Devido à fraca afluência do publico, este cinema encerrou as portas em Janeiro de 2006, com o filme Oliver Twist, de Roman Polanski. Na altura, era considerado um bastião de resistência, porque era a única sala de cinema tradicional no Porto, que ainda mantinha uma programação regular Contudo, a Medeia resolveu não renovar o contrato que tinha com a empresa proprietária do espaço, Ciura (Imobiliária Agrícola Urbana), devido ao défice financeiro e ao número reduzido de espectadores por sessão. Uma triste realidade para uma casa aberta durante meio século.

Em dezembro de 2009, este cinema iria reabrir as suas portas, com uma nova gerência: Malayka Cinemas, que fez uma aposta avultada e acertada para quebrar com o modelo de reabilitação que tinha sido norma noutros cinemas de bairro, apelando a um público fora do mainstream.
A sala foi completamente remodelada, com cadeiras novas e confortáveis. Foram instalados sistemas de som e imagem digitais. A grelha de programação manteve alguns travos de cinema independente, principalmente nas matinés, mas apostou-se na exibição de grandes êxitos comerciais nas sessões nocturnas, por forma a que estes pagassem o investimento inicial de 150 mil euros e uma despesa mensal estimada em 5 mil euros, de acordo com o responsável Elias Macovela.










Contudo, este cinema não era o mais indicado para o público das pipocas, porque não tinha qualquer espaço de restauração para comer antes ou depois da sessão. A ausência de venda de pipocas devia-se ao facto de não incomodar e manter o espírito tradicional. Acabou por perder nos lucros que daí poderiam advir.

A falta de rotatividade dos filmes foi outro problema. Só se poderiam exibir um ou dois filmes diferentes por semana numa única sala, entre a matiné da tarde e o serão. Ao contrário dos centros comerciais que exibem diversos filmes ao mesmo tempo, neste cinema os filmes eram exibidos durante semanas, o que afastava o público que ansiava por um novo filme. Foi o ultimo cinema de bairro a encerrar as portas em 2011, devido a enormes dificuldades financeiras, que impossibilitaram a continuação do projecto.

Em 2019, este antigo cinema transformou-se num espaço musical dedicado ao jazz, designado de Hot Five Jazz & Blues Club, cujo proprietário, Alberto Índio, assinou um contracto de arrendamento de dez anos com o senhorio. 
O novo espaço contém com uma lotação de 200 lugares, com mesas e 100 lugares sentados. As cadeiras são as do antigo cinema e o palco é o mesmo, em meia-lua, situando-se diante da tela onde os filmes eram exibidos. Possue um bar de vinhos do Douro e do Porto no átrio.



FONTES:
http://cinemaaoscopos.blogspot.com/2013/03/nunalvares-porto.html
http://eusoucinemapt.blogspot.com/2018/08/histoires-du-cinema-o-cinema-nunalvares.html
https://www.publico.pt/2019/04/04/local/noticia/antigo-cinema-nun-alvares-porto-reabre-clube-jazz-1868015
https://jpn.up.pt/2019/04/09/antigo-cinema-nunalvares-reabriu-como-um-clube-de-jazz/
https://www.idealista.pt/news/financas/investimentos/2019/04/05/39292-antigo-cinema-nunalvares-da-nova-vida-ao-porto-como-clube-de-jazz
https://www.behance.net/gallery/13567425/Cinema-NunAlvares
http://portodeantanho.blogspot.com/2017/04/continuacao-7.html
http://portoarc.blogspot.com/2013/12/divertimentos-dos-portuenses-xxxi.html
https://despertarosotao.wordpress.com/2010/01/15/cinema-nunalvares-o-local-do-segundo-evento/
-http://www.espoliofotograficoportugues.pt/Default.aspx?ID=10&eComSearch=1&ProductName=cinema%20nun%27%20alvares&ProductName_Type=0

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