Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

12.10.24

Max Cine - o cinema do Alto do Pina

De regresso à cidade de Lisboa, vou falar sobre o "piolho" que existiu no Bairro do Alto do Pina, de seu nome Max Cine.

Segundo Ribeiro (1978), o Bairro do Alto do Pina, um dos mais densamente habitados de Lisboa, esteve durante muito tempo sem uma sala de cinema que proporcionasse entretenimento aos seus habitantes. Foi apenas em 1929 que essa necessidade foi atendida, quando uma empresa construiu um salão cinematográfico na Rua Barão de Sabrosa. A partir de 14 de setembro desse ano, os moradores deste bairro finalmente tiveram acesso a uma programação diversificada de filmes no novo cinema designado Max Cine. O nome foi escolhido em homenagem a Max Linder, uma das figuras mais importantes do cinema nos seus primórdios, conhecido como uma das primeiras grandes estrelas internacionais.

Max Linder (1883-1925)

Este cinema foi projectado pelos engenheiros Jacinto Bettencourt e Deolindo Vieira, que também estiveram responsáveis pela execução das obras. O cinema destacava-se pela sua simplicidade e acolhimento, oferecendo 700 lugares confortáveis distribuídos pela plateia, balcão e camarotes-balcão. Uma das características peculiares da sala era a cabine de projecção, que, tal como no Cinema Olímpia, estava isolada da sala principal, localizada um pouco fora do edifício.De acordo com Acciaiuoli (2012), a sua arquitectura possuía elementos que faziam lembrar um pequeno "templo". Essa característica arquitectónica pode ter facilitado a sua conversão em igreja, quando em 1968 o edifício foi adquirido pela Paróquia de São João Evangelista. 

Fachada do Max-Cine (©️ Lisboa de Antigamente, 2017)

Fachada do Max-Cine (©️ Restos de Colecção, 2016)

O Max Cine possuía uma notável semelhança com outros cinemas lisboetas da época, como o Cinema Palatino em Alcântara e o Salão Portugal na Ajuda. Todos estes edifícios exibiam elementos decorativos com inspirações teatrais e seguiam uma organização espacial comum nos teatros: incluíam um palco, uma plateia, balcões e camarotes, frequentemente complementados por um buffet no balcão, lustres decorativos no tecto e fotografias de actores nos átrios ou no interior das salas. Essa versatilidade arquitectónica era muitas vezes imposta pela legislação da época, que exigia que os recintos fossem projectados de modo a permitir tanto espectáculos teatrais quanto cinematográficos. Dessa forma, a organização interna dos cinemas de bairro tendia a ser bastante semelhante, com poucas diferenças notáveis. O que diferenciava este cinema de outras salas, como o Salão Portugal ou o Royal Cine, era sobretudo o conforto que cada um oferecia aos seus frequentadores e o grau de ornamentação que marcava as fachadas dos edifícios.

Segundo Aurélio (2016),no seu blogue "Lisboa de Antigamente", a revista "Cinéfilo" em 1931 noticiou que este cinema concedeu a todos os seus leitores e compradores o desconto de 50% no valor do bilhete de entrada em todos os lugares e espectáculos, às 4ª feiras.

Max-Cine na Revista "Cinéfilo" de 1930 (©️ Restos de Colecção, 2016)


Programa de 10 de março de 1935, da colecção de Carlos Caria (©️ Restos de Colecção, 2016)


Bilhete de 13 de novembro de 1961, da colecção Carlos Caria (©️ Restos de Colecção, 2016)

Ribeiro (1978) afirma que, embora o Max Cine fosse predominantemente um cinema de "reprise", ou seja, dedicado à exibição de filmes já lançados, em algumas ocasiões serviu também como cinema de estreia, como mostram alguns dos seus anúncios da época. Após cerca de 40 anos de funcionamento, a empresa Max Cine, Lda., proprietária do imóvel, decidiu vendê-lo. A compra foi realizada pela Paróquia de São João Evangelista, e não pelo Patriarcado de Lisboa, como se chegou a afirmar. A escritura de venda foi oficializada a 1 de maio de 1968. A paróquia, após algumas adaptações, transformou o edifício num templo para servir a extensa comunidade da região.

Max-Cine encerrado em 1967 (©️ Restos de Colecção, 2016)

Igreja São João Evangelista (©️ Restos de Colecção, 2016)


Fontes: 

ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012.

RIBEIRO, M.F. Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939. Lisboa: Instituto Português de Cinema : Cinemateca Nacional, 1978

- https://restosdecoleccao.blogspot.com/2016/02/max-cine.html;

- https://lisboadeantigamente.blogspot.com/2017/01/max-cine-o-piolho-do-alto-do-pina.html.


31.8.24

Cinemas do Paraíso: Mina de São Domingos

Depois de um merecido periodo de férias, que incluiu uma paragem obrigatória nessa terra alentejana de contrastes que é a Mina de São Domingos, situada no Concelho de Mértola,  deixo-vos com a história do seu cine-teatro. 

Inserida na vasta Faixa Piritosa Ibérica, a área mineira de São Domingos não é apenas um cenário de beleza natural, mas também um testemunho da longa história de exploração de recursos minerais. Desde tempos antigos, muito antes dos romanos, que este solo foi alvo de intensa procura por ouro, prata e cobre, deixando vestígios de uma era em que a extracção mineral era uma actividade essencial.

Contudo, foi durante o período da exploração moderna que a Mina de São Domingos atingiu o seu auge, moldando para sempre o destino desta região. Entre 1854 e 1966, a empresa britânica Mason & Barry liderou uma atividade de extracção de minério que durou mais de um século. Durante esse tempo, mais de 20 milhões de toneladas de cobre, zinco, chumbo e enxofre foram retiradas das profundezas da terra, marcando a história com a intensidade dessa produção. Esta mina não trouxe apenas minério à superfície, mas também um nível de desenvolvimento inédito para a povoação que a cercava. Uma das primeiras linhas férreas do país foi construída neste local, ligando a Mina ao antigo porto fluvial no Pomarão, facilitando o transporte do minério através do rio Guadiana. Foi também aqui que surgiu a primeira central eléctrica do Alentejo, um feito notável que sublinhava o espírito inovador da época. Quem visita esta terra poderá ver os sinais de uma sociedade que floresceu em torno da Mina. Havia dinamismo, modernidade e acesso a serviços que, na época, eram raros em outras partes do país. Imagino como seria viver num lugar que possuía um cineteatro, um hospital e uma infraestrutura impressionante, tudo sustentado pela actividade mineira. Esta localidade não demorou a equipar-se com os benefícios do progresso: rapidamente foram instalados o caminho de ferro, telégrafo, telefone, luz eléctrica, força policial, igreja, capelão, correio e médico, entre outros serviços essenciais. 

O fim da exploração mineira, somado à falta de uma reabilitação adequada após o seu encerramento, deixou um legado sombrio na Mina de São Domingos. O abandono e a vandalização dos patrimónios restantes precipitaram uma decadência inevitável, resultando num êxodo da população local, no abandono dos edifícios outrora vibrantes e num enorme passivo ambiental que ainda hoje marca toda a antiga área mineira.

No entanto, através da Portaria 414/2013, o conjunto mineiro da Mina de São Domingos foi oficialmente reconhecido pela lei portuguesa como um “Conjunto de Interesse Público”. Actualmente, a área urbana e o antigo complexo industrial foram incorporados num circuito de visita que mantém viva a história e a memória das muitas pessoas que aqui viveram e trabalharam. Este circuito oferece uma oportunidade de reflectir sobre o passado e valorizar o legado daqueles que moldaram a região. É importante referir que este local também se transformou num ponto turistico bastante cobiçado, principalmente nos meses de Verão, devido à existência da Praia Fluvial da Tapada Grande.

Esta localidade também foi apetrechada com um cine-teatro. Localizado na sua área "nobre", perto do Jardim e do campo de jogos, este espaço foi, durante o auge da exploração mineira, um dos principais centros culturais da região. Com capacidade tanto para a apresentação de peças de teatro quanto para a projecção de filmes, tornou-se rapidamente num ponto de referência cultural. A partir da década de 1920, quando o cinema mudo ainda dominava as telas, começou a exibir filmes regularmente, atraindo moradores e visitantes. Em 1938, o cinema mudo que há alguns anos animava a comunidade da Mina de São Domingos foi substituído pelo sonoro, marcando assim mais um avanço na dinamização desta localidade, que se destacava relativamente à sede da freguesia, Corte do Pinto, que, apesar de estar a apenas 4 quilômetros de distância, permanecia estagnada na sua rotina. Há quem diga que este cineteatro foi o primeiro, no Alentejo, a instalar uma máquina de ecrã largo, conhecida como CinemascopeEsta tradição cinematográfica perdurou até a década de 1980, mesmo quando, nos últimos anos, se dedicava principalmente à exibição de filmes antigos e produções de "Série B".

Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

Interior do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

Bilhete de 1955 do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)


Noticia sobre o Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

De acordo com o SIPA (2003), o edifício possui uma planta rectangular de um único piso, com uma construção de apoio anexada à parte traseira, também rectangular, mas mais estreita e baixa. Com uma volumetria horizontal, o edifício destaca-se pelo seu formato alongado. As fachadas são simples, com uma cobertura homogénea em telhado de duas águas sobre o corpo principal, enquanto as laterais, mais estreitas, terminam em empenas de ângulo. A construção adicional tem uma cobertura inclinada numa única água. A simplicidade do design era compensada pelo uso inteligente de cores, com detalhes em vermelho pintados sobre o reboco branco das paredes, sugerindo elementos como embasamento, cornija, cunhais de ângulo e molduras das aberturas. As fachadas são caracterizadas por janelas e portas estrategicamente posicionadas para reflectir a organização interna: na fachada principal, voltada para a estrada, uma porta com verga reta é ladeada por duas janelas, marcando o acesso ao auditório. No topo desta fachada, uma abertura em arco pleno permite a comunicação directa com o palco. Na metade oposta, duas aberturas em arco, altas e estreitas, dão acesso secundário ao auditório e ao bar. No interior, o auditório possui uma planta rectangular, dividida em dois espaços independentes conectados pela boca de cena, sem fosso de orquestra, e com uma capacidade de 162 lugares distribuídos pela plateia. O espaço técnico é básico e não incluia uma caixa de palco. 

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

Cine-teatro da Mina de S. Domingos, antes de 2012 (©️ SIPA)

A 9 de junho de 2012, reabriu ao público após obras de requalificação, tendo sofrido obras de recuperação, compreendendo a execução de trabalhos preparatórios, demolições, alvenarias, coberturas e carpintarias, revestimentos interiores e exteriores, construção de instalações sanitárias, redes de água e drenagem de esgotos, redes elétrica, AVAC, incêndios e segurança, em 2019

Interior do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ CEMSD)

Actualmente, o edifício é propriedade da Fundação Serrão Martins e abriga o núcleo expositivo do Centro de Documentação da Mina de São Domingos, preservando a história rica e variada deste lugar que foi, durante décadas, um farol cultural na região.

Interior do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ Fundação Serrão Martins)

Fachada lateral do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ Google Maps)

Entrada principal do Cine-teatro da Mina de S. Domingos (©️ Google Maps)


Fontes:

- CENTRO DE ESTUDOS DA MINA DE SÃO DOMINGOS. Disponivel na Internet: <https://cemsd.pt/node/10966>

- FUNDAÇÃO SERRÃO MARTINS. Cine Teatro da Mina de S. Domingos. Disponivel na Internet: <https://www.fundacaoserraomartins.pt/index.php?id=cine-teatro-da-mina-de-s-domingos>

- SIPA. Cine-Teatro da Mina de São Domingos. Disponível na Internet: <http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=11189>

- VISIT MÉRTOLA. Mina de S. Domingos, Património Mineiro. Disponivel na Internet: <https://www.visitmertola.pt/experiencias/cultura-em-mertola/mina-de-s-domingos-patrimonio-mineiro/>

14.4.24

Cinemas do Paraiso: Portalegre

No seguimento do desafio lançado por Frederico Corado (filho do lendário realizador, crítico e amante de cinema, Lauro António), membro do grupo de Facebook "Cinemas do Paraíso", irei viajar nas memórias de alguns espaços míticos na cidade de Portalegre (localidade onde Lauro António estudou, de 1951 a 1958), dedicados ao teatro e cinema.

Inicio com o Teatro Portalegrense, que se situa no Largo Visconde de Cidrais, Travessa do Teatro, bem no centro da cidade. Foi inaugurado a 20 de junho de 1858, segundo o projecto arquitectónico de José de Sousa Larcher, nome ilustre da arquitectura na época. Na sua inauguração foi representado o drama "Alfageme de Santarém", de Almeida Garrett, por uma companhia profissional.

Fachada do Teatro Portalegrense (©️ SIPA) 

Fachada do Teatro Portalegrense (©️ SIPA) 

Arquitectónicamente, este edificio foi inspirado no Teatro Ginásio de Lisboa, na sua versão oitocentista. E como tal funcionou, nessa época onde os Teatros da Província serviam para exibição dos espectáculos de Lisboa em tourné nacional e de suporte a grupos e companhias locais. Foi o primeiro edificio a ser contruido para teatro em Portalegre, sendo o sexto teatro mais antigo do País ainda subsistente em Portugal.

Em 1906, assistiu-se à introdução do cinematógtafo neste teatro, com  a organização de 3 sessões. Em 1908, e após diversas beneficiações, este teatro dispunha de um auditório que acomodava o público em 5 frisas, 15 camarotes de 1ª ordem, 15 de 2ª ordem, 45 fauteils, 48 lugares superiores, 84 de geral e 2 galerias. Em 1910, foram feitas beneficiações nas áreas da circulação (vestibulo, portas e escadas da plateia) e de apoio ao publico (bilheteira e restaurante). 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Publico, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Tribuna Alentejo, 2022) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ NIT, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Sábado, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Sábado, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Sábado, 2019) 

Interior do Teatro Portalegrense (©️ Sábado, 2019) 

No final da década de 1920, assiste-se a uma decadência progressiva deste teatro, que ficou à margem da dinamização cultural e recreativa, que se desenvolveu em Portalegre, através e outros espaços e circuitos de produção. É por esta altura que, neste teatro, começa a exibir-se filmes, sem que por isso se dispusessem de equipamentos adequados e concebidos  de acordo com os novos modelos  construtivos e arquitectónicos. É neste contexto que surge a ideia da construção de uma nova sala de espectáculos.

Na década de 1940, é considerado como um espaço incapaz para local de espectáculo pela Inspecção-Geral dos Espectáculos, que autoriza o seu funcionamento condicionado, acentuando a degradação da sua estrutura.

Anúncio de Revista Vaudeville "O Pé Descalço" de 1941 (©️ Museu do Fado) 

Nas décadas seguintes, acentuou-se a decadência e degradação deste teatro. Segundo Lauro António, era um teatro antigo (algo arruinado), influenciado pelo estilo italiano, na vertical, composto por plateia, frisas e camarotes. Existiam normalmente 4 sessões semanais (3ª, 5ª feiras, sábado e domingo) e, ocasionalmente, teatro. As companhias de revista, comédia ou drama faziam digressões pelo Pais, incluindo Portalegre no itinerário. Foi aqui que a actriz Amélia Rey Colaço subiu ao palco pela última vez, em 1985, com a peça "El-Rei Sebastião", de José Régio, outro ilustre nome de Portalegre.

Na década de 1980, este teatro foi destruído interiormente, para nele ser instalado um ringue de patinagem, insolitamente rodeado de camarotes. Também serviu de sede para o Grupo Desportivo Portalegrense, fundado em 1925 e para a IURD. 

Este teatro foi classificado como Monumento de Interesse Municipal, através do Aviso n.º 14188/2019, n.º 175 de 12 de setembro 2019, incluido na área protegida da Serra de São Mamede. Foi colocado á venda a partir de 2013. Em 2019 estava à venda no OLX por 350 mil euros, mas até ao momento ainda não foi comprado.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Em 1932, a escritura de compra e venda do Teatro Portalegrense realizada pela sociedade proprietária ao empresário Jorge Frederico Vellez Caroço, estipulava que não poderia ser dado outro uso a este imóvel, sem que previamente se edificasse uma nova casa de espectáculos em Portalegre. Convém salientar que Vellez Caroço (um antigo oficial do Exército, deputado e senador da I República) geria na época todas as casas de espectáculo da cidade, nomeadamente o Cine Parque Caroço, uma estrutura instalada na cerca da antiga "Fábrica Real" (actualmente, Câmara Municipal), junto ao Jardim da Corredoura, inaugurada em Agosto de 1930.


Local do antigo Cine Parque (©️ Portalegre Abandonada, 2016) 

Local do antigo Cine Parque (©️ Portalegre Abandonada, 2016) 

Local do antigo Cine Parque (©️ Portalegre Abandonada, 2016) 

Segundo Lauro António, este cinema abria nas noites quentes de Verão e propiciava experiências magnificas, como ver um filme numa esplanada ao ar livre, com refrigerantes na mesa, correndo-se o risco de levar com uma chuvada de Verão.

Tinha quatro classes de lugares com os seguintes preços: "Reservados" - 4$00 e 5$00; "Cadeiras" - 3$50; "Superior" - 2$50; "Geral" - 1$50. Também tinha um bar para as pessoas se refrescarem do calor, sendo um espaço para as pessoas se reunirem. À entrada do recinto compravam-se rebuçados e amendoins, para consumo na sessão de cinema. Havia casa cheia quatros vezes por semana (3ª e 5ª feiras, Sábado e Domingo). Actualmente, o espaço encontra-se ao abandono.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Segundo Lauro António (2021), o Cine Teatro Crisfal, localizado ao cimo do Jardim da Corredoura, era um edificio típico da década de 1950, inserido na febre dos Cine-teatros existentes no país, em réplicas inspiradas no Cine-teatro Monumental em Lisboa. 

Lauro António, então adolescente, assistiu à sua inaguração a 29 de setembro de 1956, com uma actuação da companhia Amélia Rey Colaço-RoblesMonteiro, que, para assinalar o facto, permaneceu neste espaço durante uma pequena temporada, com duas ou três peças do seu repertório. 

Placa de inauguração de 29-09-1956 (©️ Discoteca Crisfal, 2006)

Este edificio foi obra de iniciativa privada, construído por um conhecido industrial de Santo António das Areias. A designação "Crisfal", advém da obra poética de Cristóvão Falcão, poeta nascido em Portalegre, ao que se supõe, entre 1515 e 1518, no seio de uma família nobre. Foi uma personagem curiosa, aventureira e talentosa, tendo sido educado no Paço, desde novo, onde aprendeu Belas Artes e casou com uma menor sem consentimento dos familiares, o que o levou á prisão durante 5 anos no Castelode São Jorge, em Lisboa. Ao sair, procurou pela amada que se encontrava no Mosteiro do Lorvão e iniciou a sua éscrita da écloga "Crisfal", que retrata a paixão arrebatadora por essa mulher. Em 1542, o Rei D. João III, para evitar escândalos, envia Cristóvão para Roma como seua gente particular. Regressado ao reino, é despachado em 1545 como capitão da fortaleza de Arguim em África. Novamente no continente, volta a ser preso em 1547, por agressão a um fidalgo. Em 1551, é perdoado, casando 2 anos depois com Isabel Caldeira, perdendo-se o seu destino a partir daí, tal como acontece com o herói no final da écloga "Crisfal", cujo nome tudo indica que seja criptónimo de Cristóvão Falcão. Esta obra foi publicada entre 1543 e 1546, numa folha volante e, mais tarde, em volume. 

O Cine-teatro Crisfal, projectado pelo Arqt.º Domingos Alves Dias, em colaboração com o Eng.º Raul Dias Subtilé um edificio de 2 andares, que apresenta uma arquitectura modernista, cultural e recreativa, com linhas rectas, volumes articulados, decoração despojada, com relevo e pinturas monumentais na fachada e paredes. A sua sala de espectáculos é composta por plateia, frisa, 1º e 2º balcões, placo, teia e cávea. A plateia divide-se em pares e ímpares, com 22 filas com 12 lugares cada. Contem frisas ao fundo, quatro de cada lado da entrada. O 1º balcão é suportado por 8 colunas  lisas e estreitas, dividido em pares ímpares, com 10 filas com 12 cadeiras cada. O 2º balcão com cinco filas de cadeiras. O palco contém uma cávea por baixo, boca de cena com moldura azul e dourada, écran de projecção na parede, ao fundo, e teia com varandim, com 3 janelas para o exterior, junto ao tecto.


Plantas do Piso 0 e 1 do Cine-teatro Crisfal (©️ Frederico Corado)














Imagens exteriores e interiores do Cine-Teatro Crisfal (©️ SIPA, 2001)

Durante décadas, este cine-teatro manteve o cinema, teatro, a música, a dança, os bailes de finalistas e de Carnaval, chegando a albergar entre 1988 e 1990 um Festival de Cinema, organizado por Lauro António, no mês de Outubro, numa época em que nenhum particular conseguia assegurar o funcionamento da sala com lucro previsivel. Apesar da sua estrutura arquitectónica ser notável, era um edificio que, nos finais da década de 1980, encontrava-se em mau estado de conservação, com cadeiras pouco confortáveis e um aquecimento central arcaico (que gastava imensa electricidade e e não aquecia convenientemente, chegando os espectadores a levar cobertores para a sessão de cinema).

Imagens exteriores e interiores do Cine-teatro Crisfal em 1989 (©️ Frederico Corado)

O "Festival Internacional de Cinema Portalegre" realizou-se por 3 vezes, com ajuda camarária, apesar do acordo que nunca se fez para a compra do imóvel. Para manter a sala aberta e assegurar a continuidade do festival, por mais 2 anos, Lauro António teve de gerir este cine-teatro, com os seus custos associados. Apesar disso, conseguiu aguentar 2 temporadas e 2 festivais, onde perdeu imenso dinheiro, com fins-de-semana de lotação esgotada, mas com perto de 11 empregados de sala que não podiam ser despedidos e filmes a cobrarem mais de metade da receita, para além dos custos astronómicos com lâmpadas que se fundiam rapidamente e artigos de higiéne. Contudo, Lauro António assume que "foi uma experiência curiosa, só possivel pelo cruzar de duas paixões: o cinema e Portalegre" (2021).  



Cartazes do Festival Internacional de Cinema Portalegre (1988-1990 ©️ Frederico Corado)

Programa do 2º Festival Internacional de Cinema Portalegre - 1989 (©️ Frederico Corado)
 



Imagens cedidas por Frederico Corado

Em 2007, quando visitou Portalegre, Lauro António cruzou-se com a filha do tal industrial de Santo António das Areias, proprietário do edificio,  que lhe explicou o projecto que tinha em mente para manter o edificio activo, com outras funcionalidades, nomeadamente uma discoteca, bar e estúdio por forma a cativar os jovens da região. Esta nova vida durou somente 5 anos.




Imagens do interior da Discoteca Crisfal (©️ Blogue da Discoteca Crisfal, 2006)

Com a inauguração do Centro de Artes e Espectáculos a 5 de novembro de 2006, e com a exibição de filmes também no Museu das Tapeçarias, este cine-teatro assinou o seu atestado de morte como sala de espectáculos. Em 2017, este edificio encontrava-se à venda no OLX, tendo sido classificado como Monumento de Interesse Municipal, no Aviso n.º 8595/2022, DR, 2.ª série, n.º 81 de 27 abril 2022. Incluído na Área Protegida da Serra de São Mamede.

Lauro António (2021) recorda como era viver a experiência cinematográfica na década de 1950 em Portalegre. Os cinemas publicitavam as suas sessões nos jornais locais, mas sobretudo numas folhas volantes em A4, de fina textura, quase transparentes, que se distribuiam na sessão anterior e depois pelas mesas dos cafés mais frequentados, sendo impressas na Tipografia Casaca.


Fontes:

ANTÓNIO, Lauro. Masterclasse - Os filmes que eu amo: "A Última Sessão". Em Fórum Luisa Todi, 2021. <https://www.forumluisatodi.pt/wp-content/uploads/2021/10/FolaSala-UltimaSessao.pdf>;

ANTÓNIO, Lauro. Tempo de Liceu em Portalegre. Em blogue "Lauro António apresenta...", 2007. <https://lauroantonioapresenta.blogspot.com/2007/06/tempo-de-liceu-em-portalegre.html>;

CÂMARA MUNICIPAL DE PORTALEGRE. Edificios Modernistas. Actual. <https://www.cm-portalegre.pt/visitantes/turismo/patrimonio-cultural/edificios-modernistas/>;

CARDOSO, Berta. Teatro Portalegre, Revista Vaudeville "O Pé Descalço" 1941. Em Museu do Fado <https://www.museudofado.pt/en/collection/poster/teatro-portalegrense-revista-vaudeville-o-pe-descalco-1941-en>;

CRUZ, Duarte Ivo. Os problemas do velho Teatro Portalegrense. Em e-cultura.pt. <https://www.e-cultura.pt/artigo/23941>;

LARGO DOS CORREIOS. Maria Barroso - Sob o signo de Benilde - seis. Em blogue "Largo dos Correios", 2015. <https://largodoscorreios.wordpress.com/2015/08/12/maria-barroso-sob-o-signo-de-benilde-seis/>;

PORTALEGRE ABANDONADA. Cine Parque. <https://www.facebook.com/100063504799127/posts/538626232979691>;

SIPA. Edificio do Cine-teatro Crisfal. 2001. <http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=10749>;

SIPA. Teatro Portalegrense. 2005. <http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=21346>;

TRIBUNA ALENTEJO. Teatro Portalegrense continua à venda e ao abandono. 2022. <https://tribunaalentejo.pt/artigos/teatro-portalegrense-continua-a-venda-e-ao-abandono?fbclid=IwAR1GN-sjkTaan02FIKq5R_zlJ_Vh583inmV-yYWFljCN0OJ5CWnB8bqcGbA_aem_AZu05CqEGF7tg_9CgjaK2RR5uasH3hMnl8B9tB83TQnBoggX7yR4-CH-ahUJ-dDHpacuy5gckl7s3CHorRJUrRRI>;

UMBELINO, Lina. Desculpe, sabe onde fica o centro? Lisboa: Primeiro Capitulo, 2023. <https://books.google.pt/books?id=i_jpEAAAQBAJ&pg=PT35&lpg=PT35&dq=cine+parque+caro%C3%A7o+portalegre&source=bl&ots=ytPIKX_smY&sig=ACfU3U2sQ_0KJbPgXrZaPSQwEd40A0PGzQ&hl=pt-PT&sa=X&ved=2ahUKEwj14bvJgbuFAxUo_AIHHfGzDPs4ChDoAXoECAQQAw#v=onepage&q=cine%20parque%20caro%C3%A7o%20portalegre&f=false>;