Em 1977... numa galáxia muito distante... nascia um dos maiores fenómenos globais que perduram até aos dias actuais. Estou a falar da saga Star Wars, traduzida para português como "Guerra das Estrelas".
Actualmente, os filmes desta saga estreiam simultâneamente por todo o mundo, mas em 1977, este fenómeno estreava a várias velocidades. Nos EUA, estreou a 25 de maio em 32 salas. Em Portugal, só estreou sete meses depois, a 6 de dezembro, na enorme sala do Monumental, com capacidade para albergar 1000 pessoas. Esteve sete semanas em exibição em Lisboa, até seguir para outras paragens. Por exemplo, só foi exibido no Porto no final de janeiro de 1978.
Quando estreou, substituiu em cartaz Boccaccio 70 (filme antologia com segmentos realizados por Fellini, De Sica e Visconti), e tinha quatro sessões diárias (14h, 16h30, 19h e 21h30), sendo projetado em 70mm. A sua classificação etária foi "não aconselhável a menores de 13 anos". Um facto curioso é que na sala Satélite, que ficava no mesmo edifício, estava ser exibido o filme Sangue Virgem para Drácula, realizado por Paul Morrisey, vindo da fábrica de Andy Warhol.
No final da década de 1970, as páginas de espectáculos dos jornais eram preenchidas com anúncios de teatro e cinema. Lado a lado com a promoção deste filme, apareciam com igual ou maior destaque a promoção de outros filmes (claramente menores), como O Regresso do Inspector Marmelada, A Liceal, As Aventuras Eróticas de Zorro, etc. Até as revistas eram promovidas com alguma grandiosidade, como Alto e Pára o Baile, exibida na altura no Teatro Maria Vitória e anunciada como "a melhor revista de sempre". Outros tempos...
A promoção inicial que foi feita a Star Wars era discreta, com uma frase meio rebuscada como "Fantásticamente fantástico!" e uma ligeira referência a dois actores secundários no filme, mas que eram "estrelas": Alec Guiness e Peter Cushing. Claro que ninguém conhecia o trio principal de actores: Mark Hamill, Harrison Ford e Carrie Fisher.
Em Portugal, o filme foi bem sucedido, mas não à mesma escala que nos EUA, onde as pessoas passavam as noites à porta dos cinemas, à espera que o filme estreasse. José Manuel Castello Lopes, distribuidor do filme, afirma que em Lisboa isso não aconteceu. Aliás, a sua popularidade foi uma surpresa para muita gente que não acreditava nesta saga intergaláctica. A crítica nacional dividiu-se, recebendo o filme com alguma estranheza e, diria, arrogância. "Lucas fez sucesso imediato, mas não para durar. Um breve divertimento lúdico, com um certo sabor a desilusão", escrevia o Diário de Lisboa, matutino já desaparecido.
Diário Popular, outro jornal defunto, também não foi simpático: "Uma montanha que pariu um rato. História ingénua, de um maniqueísmo grosseiro, com personagens primárias e mal esboçadas". Até dá vontade de rir, mas foi assim que este clássico foi recebido em 1977 neste país à beira-mar plantado. No entanto, o crítico e realizador Lauro António elogiou bastante este filme, na altura, considerando-o como uma "obra-prima da aventura, da audácia, do arrojo, do humor, com uma grande riqueza e complexidade no plano filosófico".
Houve quem considerasse este filme como antifascista, como por exemplo o Jornal Expresso, através de Fernando Cabral Martins: "Neste mundo de fantasia, vive-se um significativamente esquemático conflito político, que opõe os amantes da liberdade aos servos do Império Galáctico".
Antigamente, os filmes ficavam meses ou anos em cartaz e esgotavam regularmente, como por exemplo, Uns...e os Outros, de Claude Lelouch, que esteve um ano inteiro em cartaz no cinema Star, sempre esgotado. Star Wars esteve sete semanas em cartaz no cinema Monumental, com quatro sessões por dia que não esgotaram todas. Contudo, foi o suficiente para que, três anos depois, a distribuidora Castello Lopes, estreasse a sua sequela, O Império Contra-Ataca, nas três maiores salas de cinema de Lisboa: Condes, Império e Monumental, com sessões esgotadas. E fazendo regressar o capítulo inicial de 1977, que foi reexibido para novas gerações.
Concluindo... passados 43 anos, um "pequeno" e discreto filme de ficção-científica, que dividiu opiniões e que fez um sucesso para não durar, tornou-se numa saga de nove filmes (tal como George Lucas idealizou) com um sucesso grandioso à escala global... até mesmo em Portugal.
Fontes:
Diário de Lisboa, 10 de dezembro de 1977 - http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06828.178.28012Diário de Lisboa, 12 de dezembro de 1977 - http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06828.178.28013#!13
Diário de Lisboa, 17 de dezembro de 1977 - http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06828.178.28018
https://acervo.publico.pt/culturaipsilon/noticia/sucesso-imediato-mas-nao-para-durar-1717555
https://acervo.publico.pt/culturaipsilon/noticia/ha-muito-tempo-na-longinqua-terceira-fila-do-monumental-1717024
https://observador.pt/especiais/star-wars-ha-40-anos-numa-galaxia-muito-distante-e-em-portugal/
http://enciclopediadecromos.blogspot.com/2014/06/a-guerra-das-estrelas-estreia-em.html
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