A década de 1910 a 1919 é marcada pelo grande desenvolvimento mundial da indústria cinematográfica. Os filmes tornaram-se mais longos e de melhor qualidade, fazendo com que fosse desnecessária a inclusão de outras expressões artísticas nos seus programas. O aparecimento de filmes com enredo aumentou a frequência de público, fomentando a abertura de novas salas de cinema, bem como o encerramento de outras, já ultrapassadas em termos tecnológicos e cujo o lucro era reduzido.
Em Lisboa, para além do aparecimento de novas salas no eixo Rossio - Avenida da Liberdade, também surgiram os chamados cinemas de bairro, em áreas como Alfama, Campo de Ourique, Lapa, Graça, Alcântara, Beato, Poço do Bispo e Estefânia.
Um dos bairros a ser contemplado com um espaço de cinema foi o Beato, com a abertura ao público em 1917 do Cine Pátria, localizado na Rua do Grilo, entre os números 44 e 46, no antigo Palácio dos Duques de Lafões.
Na altura, o seu empresário era José Perdigão, que trabalhava como caixa na Companhia Cinematográfica de Portugal.
Na época, era referido como sendo "o mais distinto cinema" e a sua frequência recomendava-se "pelo seu pessoal cuidadosamente escolhido".
Este cinema de reprise teve diversas gerências ao longo dos tempos. Entre 1928 e 1931, foi gerido por Manuel José Ginja. Seguidamente foi gerido por Baldomero Charneca da firma Mendonça & Sousa, Lda, de 1950 a 1980, que introduziu alterações assinaláveis e melhoramentos na sala em Março de 1933, como também na fachada exterior. Na altura, este espaço albergava 447 espectadores.
Nos finais da década de 1940 e início da década de 1950, quando as lotações esgotavam aos Domingos à tarde, os arrumadores colocavam uns bancos corridos à frente da primeira fila, para satisfazer mais alguns clientes. Noutras ocasiões de lotação esgotada, só restavam as cadeiras juntos às oito colunas da sala, conforme se pode ver na planta do cinema.
A sala era composta por uma plateia, ligeiramente inclinada, o que provocava bastante calor no público, por causa da sua pouca altura e da falta de adequada ventilação, nos meses de Verão. Devido à pouca altura da plateia, a cabine de projecção situava-se abaixo do nível normal, o que obrigava os retardatários a curvarem-se para evitar que a sua sombra aparecesse no ecrã.
Em 1968, este cinema encerraria as suas portas, para voltar a abri-las no início da década de 1970, com obras de recuperação e de remodelação concluídas. Nesta altura, passava filmes indianos e de cowboys, sendo que na última sessão eram exibidos filmes pornográficos.
Albergava 250 pessoas, divididas pela plateia e balcão. Contudo, a pouca rentabilidade e decadência da sala, bem como a fraca qualidade dos filmes exibidos contribuíram para o seu encerramento definitivo na década de 1990. Posteriormente, o seu espaço foi utilizado para actividades de culto religioso.
Este edificio é considerado Monumento de Interesse Público desde 2011.
Fontes:
- ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
- RIBEIRO, M. Félix, Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca Nacional, 19
- SALGUEIRO, Teresa B. Documentos para o Ensino; Dos Animatógrafos ao Cinebolso - 89 anos de cinema em Lisboa. Finisterra, XX, 40 Lisboa, 1985
Cristina Tomé,
ResponderEliminarEstá redondamente enganada o Cine Pátria nunca exibiu filmes pornográficos, e o que acabou com os cinemas de bairro, foi a febre dos video clubes e o aparecimento das multi-salas.
Caro Luís Charneca,
ResponderEliminarNão estou enganada quanto a este assunto. Se quiser, pesquise o Diário de Lisboa de 3 de abril de 1982 e verá que, neste cinema, estava a ser exibido o célebre filme pornográfico "Garganta Funda". Contudo, não vou afirmar que este cinema tenha exibido, de forma recorrente, filmes pornográficos.