De regresso a Lisboa, vou novamente visitar animatógrafos que foram aparecendo pela cidade no inicio do Séc. XX.
A década entre 1910 e 1919 foi marcada pelo grande desenvolvimento internacional da indústria cinematográfica. Os filmes ao tornarem-se mais longos e de melhor qualidade, vieram eliminar a inclusão de outras expressões artísticas no programa dos animatógrafos. Alguns filmes por si só já conseguiam assegurar o espectáculo.
O aparecimento de filmes com enredo vieram aumentar a frequência de espectadores, o que levou ao surgimento de mais espaços cinematográficos, como também ao encerramento de muitos outros. E isto deveu-se ao facto de alguns cinemas não terem feito obras de melhoramento, o que levou o público ávido de novidades (quer tecnológicas, quer de instalações) a rumarem para outras salas melhores. Também é importante realçar que a modificação do sistema de contractos (o aluguer das cópias em vez da compra) deixou o exibidor mais desprotegido, uma vez que os contractos a cumprir eram mais apertados (menos sessões para realizar dinheiro).
Foi nesta década que também se verificou que o fenómeno do cinema ia se estendendo para outros bairros de Lisboa, deixando de se concentrar somente no eixo Restauradores-Rossio-Chiado. Esses espaços eram designados de "cinemas de reprise".
O Salão Cosmopolita abriu as portas em 1914 na Rua da Mouraria (próximo do Salão Lisboa), mas a sua existência foi curta (igual a de muitos animatógrafos da época). Em 1916, as suas portas permaneciam abertas acolhendo perto de 510 frequentadores residentes no castiço Bairro da Mouraria. No entanto, este espaço fecharia as suas portas em 1919.
O Bairro da Estefânia também viria a ter um espaço dedicado ao cinema, visto que era uma zona da cidade composta por uma larga faixa de pequena burguesia denominada de "gente remediada". Cinema Império (não confundir com o outro cinema com o mesmo nome) era o nome desse espaço que abriria portas em 1916 na Rua Pascoal de Melo e que era gerido pela firma proprietária Lopes & Rogado, que publicitou-o como "cinema de elite".
Os espectáculos eram feitos às 5ª e 6ª feiras, Sábado e Domingo (neste dia as sessões eram às 20h30 e 21h45, com matinés às 15 horas), onde realizava-se uma só sessão às 21 horas.
O Bairro da Estefânia também viria a ter um espaço dedicado ao cinema, visto que era uma zona da cidade composta por uma larga faixa de pequena burguesia denominada de "gente remediada". Cinema Império (não confundir com o outro cinema com o mesmo nome) era o nome desse espaço que abriria portas em 1916 na Rua Pascoal de Melo e que era gerido pela firma proprietária Lopes & Rogado, que publicitou-o como "cinema de elite".
Os espectáculos eram feitos às 5ª e 6ª feiras, Sábado e Domingo (neste dia as sessões eram às 20h30 e 21h45, com matinés às 15 horas), onde realizava-se uma só sessão às 21 horas.
Era um espaço que apresentava a novidade de vender bilhetes com antecedência, o que garantia um lugar reservado e também um programa. Mas isso não foi o suficiente para cativar o público, o que levou ao seu encerramento em 1918.
Entre os Bairros de Santa Catarina e Lapa existiu um espaço que também exibiu cinema, de seu nome Salão Edison. Iniciou funções em 1919 (numa zona onde não existia qualquer outros espaço dedicado à mesma arte), num pátio recolhido no Largo do Conde Barão, à semelhança de outros espaços na época como o Teatro do Rato e o Casino Étoile. Esteve alguns anos aberto, até fechar portas em 1941.
De regresso à zona nobre do Rossio, falo-vos de um animatógrafo que existiu no 2º andar da Quinta da Regaleira (um edifício que ainda se mantém intacto no Largo de São Domingos, e que também serviu de Centro Republicano) designado de Rossio Palace.
Este espaço (propriedade do então Conde da Regaleira) abriu as portas ao público pouco tempo antes da implantação da República em 1910, mas a sua existência foi curta durando somente até 1914. Como muitos outros espaços cinematográficos da altura, também exibiu filmes pornográficos às altas horas da noite, depois das exibições nocturnas normais.
Subo até ao Chiado e chego à Rua António Maria Cardoso, mais concretamente ao Teatro República (actualmente designado de Teatro São Luiz), que no seu interior tinha um espaço denominado de Jardim de Inverno. Esse vasto espaço que tinha duas largas palmeiras no centro, funcionava como um salão de espera onde, nos intervalos, os espectadores tomavam o seu café ou refrescos nas mesas de ferro espalhadas pelo local. Era frequente reunirem-se neste espaço pessoas ligadas ao mundo da literatura, das artes, do teatro, do jornalismo, etc.
Em 1911 surge neste espaço o animatógrafo The Wonderful, que era publicitado como um espaço que exibia quadros de maior sensação em Lisboa. As suas sessões começavam às 19h30, eram contínuas e custavam 100 réis na "superior" ou nas filas de trás, tendo a "geral" o preço de 60 réis. Infelizmente este animatógrafo teve uma existência muito curta, tendo o Jardim mais tarde se transformado num estúdio cinematográfico onde foram realizados diversos filmes portugueses como Ver e Amar, de Chianca de Garcia e Maria do Mar, de Leitão de Barros.
Por fim, volto a descer até aos Restauradores e caminho até à zona do Parque Mayer, onde em 1910 o empresário Júlio Costa arrendou um recinto de diversões conhecido por "Music-Hall de Jesué". Este empresário já era proprietário do Salão Ideal e viu neste negócio uma oportunidade para exibir os filmes que, como distribuidor, adquirira no estrangeiro e para os quais o Salão Ideal se tornava insuficiente quanto ao lançamento desse material, que urgia ser movimentado. Este recinto, com ligeiras modificações, passaria a chamar-se de Salão Liberdade, devido ao facto de estar próximo da Avenida com o mesmo nome. O edifício era muito vasto e podia acomodar para cima de 1000 pessoas, sendo a sua exploração compensadora porque ficava numa localização muito central. Contudo, Júlio Costa acabou por ser seduzido por Lino Ferreira (homem ligado ao teatro) e Nandim de Carvalho (empresário do Salão da Trindade) a suspender a exploração do cinema e a transformar aquele recinto num teatro, que viria a ser o Teatro Variedades, girando sob a firma Costa, Ferreira & Nandim. Apesar da revista ter passado pelo espaço com sucesso, este acabou por encerrar em 1920 resultando num prejuízo tremendo para Júlio Costa, que teve de suportar os custos por conta própria.
Entre os Bairros de Santa Catarina e Lapa existiu um espaço que também exibiu cinema, de seu nome Salão Edison. Iniciou funções em 1919 (numa zona onde não existia qualquer outros espaço dedicado à mesma arte), num pátio recolhido no Largo do Conde Barão, à semelhança de outros espaços na época como o Teatro do Rato e o Casino Étoile. Esteve alguns anos aberto, até fechar portas em 1941.
De regresso à zona nobre do Rossio, falo-vos de um animatógrafo que existiu no 2º andar da Quinta da Regaleira (um edifício que ainda se mantém intacto no Largo de São Domingos, e que também serviu de Centro Republicano) designado de Rossio Palace.
Este espaço (propriedade do então Conde da Regaleira) abriu as portas ao público pouco tempo antes da implantação da República em 1910, mas a sua existência foi curta durando somente até 1914. Como muitos outros espaços cinematográficos da altura, também exibiu filmes pornográficos às altas horas da noite, depois das exibições nocturnas normais.
Subo até ao Chiado e chego à Rua António Maria Cardoso, mais concretamente ao Teatro República (actualmente designado de Teatro São Luiz), que no seu interior tinha um espaço denominado de Jardim de Inverno. Esse vasto espaço que tinha duas largas palmeiras no centro, funcionava como um salão de espera onde, nos intervalos, os espectadores tomavam o seu café ou refrescos nas mesas de ferro espalhadas pelo local. Era frequente reunirem-se neste espaço pessoas ligadas ao mundo da literatura, das artes, do teatro, do jornalismo, etc.
Em 1911 surge neste espaço o animatógrafo The Wonderful, que era publicitado como um espaço que exibia quadros de maior sensação em Lisboa. As suas sessões começavam às 19h30, eram contínuas e custavam 100 réis na "superior" ou nas filas de trás, tendo a "geral" o preço de 60 réis. Infelizmente este animatógrafo teve uma existência muito curta, tendo o Jardim mais tarde se transformado num estúdio cinematográfico onde foram realizados diversos filmes portugueses como Ver e Amar, de Chianca de Garcia e Maria do Mar, de Leitão de Barros.
Por fim, volto a descer até aos Restauradores e caminho até à zona do Parque Mayer, onde em 1910 o empresário Júlio Costa arrendou um recinto de diversões conhecido por "Music-Hall de Jesué". Este empresário já era proprietário do Salão Ideal e viu neste negócio uma oportunidade para exibir os filmes que, como distribuidor, adquirira no estrangeiro e para os quais o Salão Ideal se tornava insuficiente quanto ao lançamento desse material, que urgia ser movimentado. Este recinto, com ligeiras modificações, passaria a chamar-se de Salão Liberdade, devido ao facto de estar próximo da Avenida com o mesmo nome. O edifício era muito vasto e podia acomodar para cima de 1000 pessoas, sendo a sua exploração compensadora porque ficava numa localização muito central. Contudo, Júlio Costa acabou por ser seduzido por Lino Ferreira (homem ligado ao teatro) e Nandim de Carvalho (empresário do Salão da Trindade) a suspender a exploração do cinema e a transformar aquele recinto num teatro, que viria a ser o Teatro Variedades, girando sob a firma Costa, Ferreira & Nandim. Apesar da revista ter passado pelo espaço com sucesso, este acabou por encerrar em 1920 resultando num prejuízo tremendo para Júlio Costa, que teve de suportar os custos por conta própria.
Fonte:
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
RIBEIRO, M. Félix, Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca Nacional, 1978
SALGUEIRO, Teresa B., Documentos para o Ensino – Dos Animatógrafos ao Cinebolso, 89 anos de cinema em Lisboa, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, Finisterra, XX, 1985
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
RIBEIRO, M. Félix, Os mais antigos cinemas de Lisboa, 1896-1939, Lisboa, Instituto Português de Cinema/Cinemateca Nacional, 1978
SALGUEIRO, Teresa B., Documentos para o Ensino – Dos Animatógrafos ao Cinebolso, 89 anos de cinema em Lisboa, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, Finisterra, XX, 1985
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/11/cinematografos-e-animatografos.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/08/cosmopolita-1914-1919.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2011/04/cinema-imperio-1916-1918.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2011/04/salao-edison-1919-1941.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/11/salao-liberdade-1910-1920.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/06/wonderful-1911-1912.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2011/04/salao-edison-1919-1941.html
http://cinemaaoscopos.blogspot.pt/2010/11/salao-liberdade-1910-1920.html
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