Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

23.12.18

Cinemas do Paraíso: Amadora - Recreios da Amadora

Depois da visita a Norte pela cidade do Porto, retorno à zona de Lisboa, mais concretamente ao Concelho de Amadora, onde existiram (e ainda existem) espaços dedicados à mui nobre arte da exibição de filmes.

Hoje, vou começar pelo espaço mais antigo de todos: os Recreios da Amadora, localizado na Av.ª Santos Mattos, 2  na Venteira. A sua história começa com a fixação de atividade industrial na Amadora (acompanhando assim a sua expansão urbanística), com destaque para a "Fábrica de Espartilhos Santos Mattos & Cª", inaugurada em 1895, que empregava mão-de-obra local, instituindo-se como a principal unidade fabril da zona, com grande impacto social.

Assim nasceu a "Sociedade Recreios Desportivos da Amadora", constituída em 1912 por iniciativa do proprietário da referida fábrica, José Santos Mattos e de Antóno Rodrigues Correia. Numa primeira fase, a sua intenção era gerir os equipamentos desportivos anexos á fábrica, designadamente um campo de ténis e um ringue de patinagem. Contudo, o sucesso com a venda dos espartilhos, cintas e outros produtos determinou a necessidade de ampliação das instalações fabris e da atividade da sociedade, originando a inauguração do edificio dos Recreios em 1914.


Este edificio foi projectado por Guilherme Eduardo Gomes, o mesmo autor da Casa Aprígio Gomes, imóvel também situado na Amadora e que se encontra igualmente classificado. A sua inauguração ocorreu no dia 17 de agosto de 1914 e destinava-se à realização de festas, mas também à apresentação de preças de teatro. O edificio era vincadamente neoclássico, destacando-se a fachada principal com os seus três registos cenográficos, o último com frontão triangular que, antigamente, apresentava uma ampla composição escultórica no tímpano. Esta fachada sofreu alterações ao longo dos anos, desaparecendo toda a requintada decoração sobre os vãos do 1º piso, assim como o primitivo jardim rodeado pelo elegante gradeamento. No andar nobre, ainda é possivel observar um pano central rasgado por um janelão de arco de volta perfeita, que dá acessoa um varandim de secção ondulante e baluastrada de cantaria.


A partir da década de 1920, este salão deste edificio era utilizado por colectividades culturais e de recreio locais, através de cedência ou aluguer, recebendo no seu palco representações organizadas por companhias ou troupes dos teatros de Lisboa, multiplicando-se igualmente as sessões de cinema. A sala iria beneficiar de transformações ajustadas às necessidades de renovação da programação, sendo o palco ampliado em profundidade e instalada uma cabine de projecção no exterior, direccionada para o recinto de patinagem, inaugurando assim a época de patinagem e os espectáculos cinematográficos ao ar livre, em sessõesgratuitas para os sócios, mantendo-se assim atè à sua reconversão como espaço de exibição cinematográfica.
Para além da fachada, o restante edificio sofreu alterações ao longo do tempo, especialmente na década de 1940 do Séc. XX, quando a fábrica e os recreios foram vendidos. Por essa altura, este edificio seria convertido numa sala de cinema, sob a batuta do Arq.º Raul Rodrigues Lima, passando a dispor de 600 lugares, sendo que a sala era dotada de um balcão construído em betão.


Plateia e balcão dos Recreios, após as obras de 1943 (C.M.A - Arquivo MMAR)

Em 1978, este icónico edifício entrou numa nova fase da sua história ao passar para a gestão da empresa Cine-Plaza, gerida por um indiano. Esta mudança trouxe consigo uma transformação profunda: o interior foi totalmente reformulado, com uma decoração moderna e funcional, pensada para oferecer uma experiência cinematográfica de excelência.

Segundo a imprensa local da época, a sala passou a contar com 498 lugares confortáveis, distribuídos entre 169 no balcão e 330 na plateia. Mas as novidades não pararam por aí: o espaço ganhou um amplo bar, bengaleiro e um ecrã panorâmico que ocupava toda a largura do palco, preparado para exibir qualquer tipo de filme com qualidade superior.

A inauguração oficial aconteceu a 5 de janeiro de 1979, numa sessão exclusiva para convidados, que reuniu autoridades locais e representantes da comunicação social. Poucos dias depois, nos fins de semana de 6 e 7 de janeiro, os cartazes anunciavam o filme “O Porteiro do Maxim’s”, de Claude Vital, marcando o início da programação regular deste novo cinema.  

Anúncio da inauguração do Cine-Plaza no Diário de Lisboa de 06.01.1979


Fachada do Cine Plaza, na década de 1980 (Facebook "Amadora Cidade", 2021)

Como sala de reposições de filmes passados em Lisboa e noutras localidades, manteve uma agenda consistente de cinema durante os anos seguintes, mesmo enfrentando a concorrência do edificio Lido e do seu Cine-Estúdio, consolidando-se como um espaço cultural de referência na Amadora. 

Quem cresceu na Amadora nos anos dourados deste cinema certamente guarda lembranças especiais: as manhãs de sábado e domingo dedicadas às fitas de desenhos animados, que enchiam a sala de crianças e risos. Mas não era só diversão infantil – nomes lendários como Truffaut, Fellini e Pasolini também passaram por aqui, trazendo obras que marcaram gerações.

O espaço viveu momentos de verdadeiro esplendor. Filmes como “Prestígio Real”, “Joselito” e muitos outros eram sinónimo de lotação esgotada, mesmo depois de terem sido exibidos nos cinemas da capital. Eram autênticos sucessos de bilheteira! Natal e Páscoa eram épocas especiais, com sessões completamente cheias, e as noites eram sempre as mais concorridas. Por trás desta programação vibrante estavam distribuidoras de peso, como Filmes Ocidente, Paramount, Imperial Filmes, Astoria Filmes, Castelo Lopes, Sonoro Filme e Lusomundo, que forneciam as fitas que faziam sonhar.

Era ao velho "Piolho da Amadora" (como era carinhosamente alcunhado), que se associava o ritual de ir ao cinema, vivida por várias gerações como um acontecimento festivo, convivial, significativo e memorável. Muitos guardam na memória a imagem de uma sala um pouco degradada, mas que mantinha o seu balcão, plateia, camarotes e frisas e as cadeiras velhas. No entanto, a sua função de cinema iria acabar no final da década de 1980, devido à sua inviabilidade económica. 

Em 1987, com o fim do contrato de arrendamento com a empresa Cine-Plaza, o histórico edifício dos Recreios ficou desocupado, colocando em risco a sua sobrevivência. Para evitar a perda deste espaço emblemático, a Câmara Municipal da Amadora adquiriu o imóvel e, no ano seguinte, lançou um concurso de ideias para definir o futuro da sala. O objectivo era claro: preservar a imagem exterior do edifício, fiel ao projecto original, garantindo a sua integração na cidade, e ao mesmo tempo transformar o interior num espaço moderno, adaptado para acolher atividades culturais e espectáculos polivalentes. O concurso foi ganho pelo Gabinete de Arquitectos Conceição Silva, e as obras decorreram ao longo de 1996.

Finalmente, a 26 de outubro de 1997, os novos Recreios reabriram ao público, inaugurando uma nova era. Desde então, este espaço tem cumprido a sua missão como polo de dinamização cultural no coração da Amadora, com destaque para dança, teatro e música. O valor histórico do edifício foi reconhecido oficialmente: as suas fachadas estão classificadas como Imóvel de Interesse Municipal desde 17 de abril de 2006.

Actualmente, funciona como um espaço cultural polivalente, actuando como um polo produtor e difusor de cultura, nomeadamente nas áreas do teatro, dança. música, cinema, realização de exposições temporárias, cerimónias e actos intitucionais, atividades de associativismo local, entre outras.

Compreende um auditório, dois estúdios de dança/sala de ensaio, um salão nobre e um logradouro.

No auditório, realizam-se espectáculos de teatro, dança. música, cinema, sessões solenes, conferências, apresentações, reuniões e ensaios. Totalmente equipado a nível de luz, som e multimédia, tem capacidade total para 251 pessoas (215 na plateia e 36 no balcão). No que respeita ao equipamento cénico, o auditório é constituído por varas para suspensão de cenários e equipamento de luz, panejamentos (cortinas, pernas, bambolinas, fundos), ciclorama suspenso, tela elétrica de projeção para cinema, tela suspensa de projeção para seminários, linóleo preto/branco, régies de projeção de som, luz e multimédia, uma sala para reuniões e formação, quatro camarins individuais e dois camarins coletivos, com sistema de comunicação interna e um acesso técnico direto de viaturas à zona de palco.

O Salão Nobre tem como função a vertente de espaço expositivo, incindindo sobretudo nas artes plásticas. Paralelamente, este espaço recebe ainda eventos tão diversos como reuniões, apresentações, conferências e animações musicais. A lotação também é variável consoante o tipo de eventos a realizar, nomeadamente: nas exposições temporárias tem uma lotação máxima de 100 pessoas; nas apresentações, conferências e reuniões tem uma lotação máxima de 60 pessoas e nas animações musicais/teatrais/performances tem uma lotação máxima de 50 pessoas.

O logradouro constitui um espaço exterior com aproximadamente 450m², que pode acolher ocasionalmente, eventos de música, teatro, exposições, projeções de vídeo, entre outros.






Imagens dos Recreios da Amadora (Câmara Municipal da Amadora)


Fontes:

- SILVA, Alves (2001, fev 8). Os Cinemas e as fitas. In Jornal da Amadora, Ano XXIV, nº 1052, p. 3. https://biblioteca.cm-amadora.pt/uploads/f0e04fe0bfff63dc9a8a66138a0a9a18.pdf
- TOMAZ, Sofia Duarte Rodrigues (2014). Cultura e Representações da Cultura. Uma leitura das práticas e políticas culturais a partir do estudo de caso Recreios da Amadora. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
- Câmara Municipal da Amadora (2014). Catálogo da Exposição "Centenário Recreios da Amadora". pp. 13-14. https://www.cm-amadora.pt/images/CULTURA/RECREIOS/PDF/catalogo_centenario_exp_recreios_amadora_1914_2014.pdf
- http://www.cm-amadora.pt/cultura/recreios-da-amadora.html
- https://www.cm-amadora.pt/pt/185-galeria-recreios-da-amadora/731-recreios-da-amadora.html
- http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/10116588
- http://cinemaaoscopos.blogspot.com/2014/08/recreios-da-amadora-amadora.html
- https://bloguedelisboa.blogs.sapo.pt/recreios-desportivos-da-amadora-48680
- http://www.lugaresesquecidos.com/forum/viewtopic.php?t=1559
- http://caisdoolhar.blogspot.com/2011/02/tambem-amadora-tinha-o-seu-piolho-em.html
- http://amigosdaamadora.blogspot.com/p/amadora-antiga-os-recreios-da-amadora.html
https://www.facebook.com/Amadora-para-todos-803315509761040/
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- http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06829.179.28337#!17