Continuando pela bonita cidade de Aveiro, este texto irá incidir no antigo Cine Teatro Avenida, localizado na Praça do Mercado, n.º 1.
Foi inaugurado a 29 de janeiro de 1949, com a exibição do filme português "Não Há Rapazes Maus", do realizador Eduardo Maroto, inspirado na obra do Padre Américo.
A projecção ficou a cargo do Arqt.º Raúl Rodrigues Lima (1909-1979), responsável por outros projectos de cinemas e cine-teatros, nomeadamente: Cinema Cinearte e Cine-Teatro Monumental (Lisboa), Cine-Teatro Messias (Mealhada), Cine-Teatro de Estarreja, Teatro Micaelense em São Miguel (Açores), Cine-Teatro da Covilhã e Cinema Império (Lagos).
A construção do Cine-Teatro Avenida começou em 1944, depois de uma parte do terreno, propriedade da Câmara Municipal, ter sido vendida em hasta pública, por 56.700$00. Mais tarde, o restante terreno foi vendido pelo seu proprietário, Bolais Mónica, pela quantia de 45.360$00, permitindo que o Arqt.º Raúl Rodrigues Lima começasse a conceber o projecto.
No âmbito da construção deste edifício, foi construída uma sociedade designada "Empresa Cinematográfica Aveirense, Lda", que também esteve associada à construção do Cine-Teatro de Estarreja, também projectado pelo Arqt.º Raúl Rodrigues Lima. Faziam parte desta sociedade Augusto Fernandes, Joaquim Henriques, Severim Duarte, João da Costa Belo, José André da Paula Dias, Fernando Henrique Vieira Pinto Bagão, Henrique Alves Calado, Luís Francisco Cristiano, Manuel Bento, José Cândido Rodrigues Pereira, Carlos Marques Mendes e Vicente Alcântara, possuidor do alvará de construção.
As obras, sob a égide do Eng.º Ângelo Ramalheira, começaram de uma forma atribulada, pois o solo alagadiço obrigou à extracção de lamas e injecções de areia, até uma profundidade de 20 metros. As mesmas duraram quatro anos a serem realizadas.
A sua sala de espectáculo albergava 1370 espectadores (uma das maiores do país), distribuídos por uma plateia, dois balcões e quatro frisas. Dispunha de uma central eléctrica privada de 60 kws, com refrigeração e aquecimento, uma central telefónica com nove linhas e três máquinas de projecção.
O jornal "O Democrata" relatou que esta sala era feita em linhas modernas de avantajado pé direito, luz indirecta, com diversos salões, nomeadamente o faustoso salão de festas no 1º andar, que sobressaía no meio de uma escultura. Existiam bares e numerosos lustres em cristal de fabrico de Alcobaça. As carpetes eram riquíssimas e o mobiliário estofado era muito cómodo.
O requinte e a curiosidade que esta sala despertava fez mossa no antigo Teatro Aveirense, visto que, em pouco tempo, o público trocou o velho edifício pela recém inaugurada e moderna sala, que se localizava na principal avenida da cidade. Tanto que, na década de 1950, as administrações das duas salas reuniram-se para minimizar o prejuízo, com acordos de esquemas de gestão, passando pela exibição alternada de espectáculos, o que implicava que nenhuma das salas poderia apresentar dois espectáculos seguidos. A exibição de filmes era feita em dias alternados: terças, sábados e domingos no Teatro Aveirense e quartas, quintas e domingos no Cine Teatro Avenida.
A acústica desta nova sala não era a melhor para representações teatrais, devido ao seu desconforto e às pobres condições de temperatura e acústica, visto que, em alguns sectores não se ouvia nada. Em pouco tempo, os administradores desta sala tiveram de se cingir somente à exibição de filmes, registando-se poucos espectáculos.
Contudo, ao longo da sua história, esta sala não serviu só para exibir filmes, mas também albergou outro tipo de eventos, entre os quais, politicos.
Em abril de 1973, recebeu o 3º Congresso da Oposição Democrática ao regime do Estado Novo, tendo sido um momento de viragem na política portuguesa e na estratégia da oposição, unindo várias correntes ideológicas, politicas e democráticas, permitindo que nas eleições legislativas de 1973, toda a oposição concorresse sob uma única lista eleitoral. Junto ao edifício, ocorreu uma manifestação pacífica, que acabou com uma violenta carga policial sobre os seus manifestantes, fazendo vários feridos.
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/aveiro-nos-caminhos-de-abril/
Em 1984, a "Empresa Cinematográfica Aveirense, Lda." e a "Sociedade Figueira Praia" formaram a "Aveitur - Sociedade de Empreendimentos Turísticos de Aveiro", que transformou por completo o interior do edifício, mantendo a fachada original. Foi renomeado de "Edifício Avenida" e albergou um bingo, agência bancária, um estúdio de cinema para 350 pessoas e uma sala de exposição que funcionou no antigo salão nobre, que manteve a traça original.
Depois de largado ao abandono durante vários anos, este edifício foi resgatado por Hugo Pereira, Patrícia Surrador e António Silva, e em 2018 passou a ser o espaço "Avenida Café Concerto", dedicado a eventos culturais. Com um auditório com capacidade para 400 pessoas e um café concerto, este espaço pretende devolver a cultura à cidade.
Fontes:
Almeida, Alexandre R.A.(2018) Aveiro na mão: mídias locativas e memória da cidade. Mestrado em Média Interativos. Instituto de Ciências Sociais. Universidade do MinhoNo âmbito da construção deste edifício, foi construída uma sociedade designada "Empresa Cinematográfica Aveirense, Lda", que também esteve associada à construção do Cine-Teatro de Estarreja, também projectado pelo Arqt.º Raúl Rodrigues Lima. Faziam parte desta sociedade Augusto Fernandes, Joaquim Henriques, Severim Duarte, João da Costa Belo, José André da Paula Dias, Fernando Henrique Vieira Pinto Bagão, Henrique Alves Calado, Luís Francisco Cristiano, Manuel Bento, José Cândido Rodrigues Pereira, Carlos Marques Mendes e Vicente Alcântara, possuidor do alvará de construção.
As obras, sob a égide do Eng.º Ângelo Ramalheira, começaram de uma forma atribulada, pois o solo alagadiço obrigou à extracção de lamas e injecções de areia, até uma profundidade de 20 metros. As mesmas duraram quatro anos a serem realizadas.
A sua sala de espectáculo albergava 1370 espectadores (uma das maiores do país), distribuídos por uma plateia, dois balcões e quatro frisas. Dispunha de uma central eléctrica privada de 60 kws, com refrigeração e aquecimento, uma central telefónica com nove linhas e três máquinas de projecção.
O jornal "O Democrata" relatou que esta sala era feita em linhas modernas de avantajado pé direito, luz indirecta, com diversos salões, nomeadamente o faustoso salão de festas no 1º andar, que sobressaía no meio de uma escultura. Existiam bares e numerosos lustres em cristal de fabrico de Alcobaça. As carpetes eram riquíssimas e o mobiliário estofado era muito cómodo.
O requinte e a curiosidade que esta sala despertava fez mossa no antigo Teatro Aveirense, visto que, em pouco tempo, o público trocou o velho edifício pela recém inaugurada e moderna sala, que se localizava na principal avenida da cidade. Tanto que, na década de 1950, as administrações das duas salas reuniram-se para minimizar o prejuízo, com acordos de esquemas de gestão, passando pela exibição alternada de espectáculos, o que implicava que nenhuma das salas poderia apresentar dois espectáculos seguidos. A exibição de filmes era feita em dias alternados: terças, sábados e domingos no Teatro Aveirense e quartas, quintas e domingos no Cine Teatro Avenida.
A acústica desta nova sala não era a melhor para representações teatrais, devido ao seu desconforto e às pobres condições de temperatura e acústica, visto que, em alguns sectores não se ouvia nada. Em pouco tempo, os administradores desta sala tiveram de se cingir somente à exibição de filmes, registando-se poucos espectáculos.
Contudo, ao longo da sua história, esta sala não serviu só para exibir filmes, mas também albergou outro tipo de eventos, entre os quais, politicos.
Em abril de 1973, recebeu o 3º Congresso da Oposição Democrática ao regime do Estado Novo, tendo sido um momento de viragem na política portuguesa e na estratégia da oposição, unindo várias correntes ideológicas, politicas e democráticas, permitindo que nas eleições legislativas de 1973, toda a oposição concorresse sob uma única lista eleitoral. Junto ao edifício, ocorreu uma manifestação pacífica, que acabou com uma violenta carga policial sobre os seus manifestantes, fazendo vários feridos.
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/aveiro-nos-caminhos-de-abril/
Em 1984, a "Empresa Cinematográfica Aveirense, Lda." e a "Sociedade Figueira Praia" formaram a "Aveitur - Sociedade de Empreendimentos Turísticos de Aveiro", que transformou por completo o interior do edifício, mantendo a fachada original. Foi renomeado de "Edifício Avenida" e albergou um bingo, agência bancária, um estúdio de cinema para 350 pessoas e uma sala de exposição que funcionou no antigo salão nobre, que manteve a traça original.
Depois de largado ao abandono durante vários anos, este edifício foi resgatado por Hugo Pereira, Patrícia Surrador e António Silva, e em 2018 passou a ser o espaço "Avenida Café Concerto", dedicado a eventos culturais. Com um auditório com capacidade para 400 pessoas e um café concerto, este espaço pretende devolver a cultura à cidade.
Fontes:
https://restosdecoleccao.blogspot.com/2015/11/cine-teatro-avenida-em-aveiro.html
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/aveiro-nos-caminhos-de-abril/
http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=10577
https://www.publico.pt/2018/08/04/local/noticia/a-cultura-vai-voltar-a-acontecer-no-antigo-cineteatro-avenida-1839310
https://portugaldospequeninos.blogs.sapo.pt/3521593.html
http://www.pcp.pt/3%C2%BA-congresso-da-oposi%C3%A7%C3%A3o-democr%C3%A1tica
https://www.pinterest.pt/pin/420594052684050425/?nic_v1=1aOgGcKTGLT8UsBpui50CEUr06cVXp%2BIZKkyPOgpuamnUIo0nX5%2Be9lp9SC9p73Ik2
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