Monumental- O "Gigante" dos anos 50

O Monumental e o seu nome diz tudo: grandeza, imensidão, colossal...um enorme ponto de referência de Lisboa, mais concretamente na Praça do Saldanha, onde existiu durante largos anos.

Cinema Império - Outro "Gigante" Lisboeta

Em Maio de 1952, seria inaugurado o Cinema Império, localizado na Alameda D. Afonso Henriques, que contou com as presenças de diversas individualidades importantes da altura.

EDEN - O "GIGANTE" dos Restauradores

O novo Éden Teatro foi inaugurado em 1937 com a apresentação da peça "Bocage", interpretada pelo actor Estevão Amarante, numa cerimónia memóravel presidida pelo Chefe de Estado, o Marechal Carmona.

Cinema Vale Formoso: Para quando a sua reabilitação?

Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

Águia De Ouro - Clássico do Porto

Em 1930 viria a inaugurar-se o cinema sonoro com o filme All That Jazz com Al Jolson. O Águia d'Ouro seria então considerada uma das melhores salas do Porto.

16.8.14

Cinema Vale Formoso: para quando a sua recuperação?

Depois de umas merecidas férias, volto novamente à cidade do Porto para visitar um cinema cujo edifício ainda se mantém inalterável (pode se dizer que até está muito bem conservado, mas que há muito deixou de cumprir as funções para o qual foi destinado. Refiro-me ao Cine-Teatro Vale Formoso.


De acordo com Carvalho (2019), este cine-teatro foi inaugurado, na freguesia de Paranhos, a 30 de dezembro de 1948. A sua construção partiu de iniciativa privada. A intenção do projecto era integrar este edificio na rede de obras incentivadas pelo Estado Novo, que se submetiam aos seus critérios de linguagem e estilo.

O projecto foi, em primeiro lugar, comissionado por Arnaldo Caldeira Pato, sócio da Empresa Cinematográfica Vale Formoso, em 1945, passando para as mãos de Alberto Simões Carneiro, sócio da mesma empresa, no ano seguinte, que continuou o projecto no terreno cedido previamente por Arnaldo Caldeira Pato, com pequenas alterações. O Arqt.º Francisco Fernandes da Silva Granja, enquanto mantinha atelier juntamente com o Arqt.º Carlos Neves, foi o responsável pela execução do trabalho, apesar de, em 1946, os desenhos serem assinados pelos dois arquitectos.

Em 1948, completa-se o projeto definitivo, e inicia-se a sua construção, com alterações mais substanciais em relação às fases anteriores. As principais diferenças estão patentes no desenho das fachadas, na proporção e na altura dos volumes e, acima de tudo, na relação com a envolvente. Ao longo do desenvolvimento do projecto, uma série de condicionantes levou à perda de relações urbanas importantes, que pode ter dificultado, de certo modo, a integração e longevidade do edificio na comunidade e na cidade.

Planta da fachada

Planta da fachada

Planta do rés-do-chão 




Previa-se que este edificio fosse uma grande sala de espectáculos, com 1076 lugares, foyer, zonas de estar, salão de festas, uma zona de bar com acesso ao "parque de recreio" e áeas de serviço: vestiários, sanitários, zonas de arrumos e administração. As versões do projecto de 1945 e 1946 são, praticamente, semelhantes, relativamente à distribuição das áreas.

O projecto incluía, igualmente, a construção de residências: três casas em banda, com dois pisos, que iriam definir a frente da Rua de São Dinis e o gaveto com a Rua do Capitão Pombeiro. Ao prolongar-se o volume correspondente ao pórtico com arcadas, do lado nascente, todo o conjunto foi rematado.



A zona pública e a zona técnica deste edificio eram totalmente separadas e possuiam entradas independentes, devido ao Decreto-Lei de maio de 1927, que exigia, às novas salas de espectáculo, incluindo os cineteatros, que as zonas pública e de serviço dos edifícios fossem separadas fisicamente, à exceção da boca de palco, único ponto de interação entre ambas. 
Os cineteatros ficavam, assim, obrigados a ter acessos independentes, para o público e para os atores. Assim, existiam, ao todo, quatro caixas de escadas: duas associadas à zona pública, para o acesso às zonas de estar, no primeiro piso, ao balcão e camarotes, e duas escadas na zona de serviço, de cada lado do palco, para aceder aos dois pisos superiores dos camarins e varandim técnico do palco.


A entrada era feita ao centro, contida num volume destacado, com as bilheteiras de cada lado, seguida do grande foyer de distribuição. Duas caixas de escadas ficavam posicionadas de cada lado do foyer, que acediam aos pisos superiores da galeria e balcões, destinados ao público. A escadaria da esquerda correspondia, em alçado, a uma torre proeminente, que marcava a assimetria do alçado e servia como referência, à escala urbana. 




Do lado direito da sala principal, a oeste, desenvolvia-se uma ala diferente, composta pela zona administrativa, arrumos de cenários e de equipamento técnico, salas de arquivo, que se distribuíam pelos três pisos, e ainda um jardim de inverno. Nesta ala, encontrava-se uma outra escadaria, centrada na fachada poente, que estaria associada à entrada secundária do público, que se faria por esse lado.



A grande sala principal era composta, pelo palco, plateia, balcão e quatro camarotes. A plateia tinha um formato paralelepipédico bastante alongado, como era típico da tipologia dos cineteatros portugueses, e integrava um grande balcão, bastante proeminente no espaço, com primeira e segunda ordem. Os camarotes dividiam-se entre o primeiro e o segundo piso, tendo, ao todo, 8 subdivisões em cada piso. O desenho da sala foi evoluindo entre a primeira e a última fase do projeto, nomeadamente, nas proporções do espaço e no desenho dos alçados interiores.
 



Entre as décadas de 1950 e 1970, este cinema (a par de outros como o Júlio Dinis, Terço, Passos Manuel, etc.) foi considerado como uma das salas de referência da cidade do Porto, tendo sido explorado pela Lusomundo.

No entanto, no inicio da década de 1990 assistiu-se ao encerramento desta sala. Em 1993, a Empresa Cinematográfica Vale Formoso alugou o espaço à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), para a realização de cerimónias e culto religioso. Até aqui, apenas tinham sido feitas obras de conservação e limpeza. 

Existem registos de que, em 1995, houve uma ordem de despejo, visto que o aluguer não estaria legalizado, e em 1996 foi pedida uma licença por Isabel Botelho, representando a Empresa Cinematográfica, para alargar o uso deste edificio a "conferências, festas, palestras, sermões, culto religioso e obras de ação social".

A IURD acabou por comprar este cine-teatro e utilizou-o como igreja até ao início da década de 2000, altura em que mudou de instalações, para o novo templo na Rua de Egas Moniz, a cerca de 800 metros lineares do antigo cine-teatro. 
As alterações mais significativas ao espaço, feitas pela instituição, foram, por um lado, a colocação de uma laje sobre a abertura do fosso de orquestra, fazendo, desta forma, o prolongamento da zona da assistência. Sobre esta laje, foi colocado um altar. Na transição entre a plateia e o palco, foram introduzidas duas escadas semicirculares.




A sala principal sofreu algumas remodelações, no que toca aos revestimentos. Foi adicionado um lambril de madeira que percorre todo o perímetro da sala e balcão, e o tecto falso original e respetivo desenho, foram substituídos por um novo teto falso, recortado ao centro em forma de cruz latina. 


Toda a zona dos camarins sofreu bastantes intervenções, para se adaptar às necessidades da instituição. Esses compartimentos foram transformados em salas de reunião, cozinhas, quartos e até num estúdio de rádio. 
Muitas paredes acabaram por ser deitadas abaixo e outras foram construídas, descaracterizando bastante esta zona do complexo. Os restantes espaços, como o salão de festas e outros compartimentos menores, também na zona pública deste edificio, foram usados pela instituição como espaços de arrumo e administração. 


Depois de alguns anos de abandono, e após a mudança para as novas instalações, a IURD voltou a utilizar este cine-teatro semanalmente, para a realização de algumas celebrações. No entanto, apenas utiliza a sala principal, de forma mais regular. O restante edificio encontra-se, praticamente, abandonado, particularmente os andares superiores e os pátios exteriores. Da mesma forma, a envolvente urbana, próxima deste cine-teatro, encontra-se, também, negligenciada.
 
Este cine-teatro e grupo de moradias, bem como o Conjunto no Ouro, foram classificados, em 2022, como conjuntos de interesse municipal, pelo seu valor cultural relevante, uma vez que se configura através da sua escala, da sua linguagem moderna e conteúdos programáticos, como um dos equipamentos urbanos de proximidade de maior notabilidade social, enquanto exemplar do cinema de bairro, promovido durante o Estado Novo.

A classificação deste conjunto representa uma mais-valia, enquanto testemunho que ilustra os conceitos socioculturais e politicos da década de 1940 do Séc. XX português que, ultrapassando a escala de cinema de bairro, adquiriu presença na memória coletiva portuense.


Fontes:
- CARVALHO, Maria Carolina Almeida de Figueiredo. "Reabilitar para a Cidade: o Cine-Teatro de Vale Formoso" (2019). Tese de Mestrado Integrado. Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.
http://monumentosdesaparecidos.blogspot.pt/2012/05/cine-teatro-vale-formoso-porto.html
http://jpn.c2com.up.pt/2013/05/19/porto_a_nova_vida_das_velhas_salas_de_cinema.html
https://www.porto.pt/pt/noticia/cineteatro-vale-formoso-e-o-conjunto-no-ouro-classificados-de-interesse-municipal
https://www.custojusto.pt/porto/desporto-lazer/coleccoes/programa-cinema-vale-formoso-1-30841222
https://www.custojusto.pt/porto/desporto-lazer/coleccoes/bilhete-filme-o-trovao-de-1966-39484180
- https://www.custojusto.pt/porto/desporto-lazer/coleccoes/programas-cinema-trindade-bata-30955306