21.4.12

Cinearte - um "grande" reincarnado....

No dia 1 de Dezembro de 1981, dois "grandes" cinemas de bairro encerravam as portas ao público cinéfilo de Lisboa. Um deles foi o Cinearte, que actualmente alberga a companhia de teatro "A Barraca".

No Largo de Santos, muito antes de ser um bairro de diversão nocturna, foi apresentado em 1937 um projecto para se erigir um cinema à Inspecção Geral dos Espectáculos, que tinha como nome original "El Dorado".


Seria construido na Rua Vasco da Gama e o autor do projecto foi o famoso Arqtº Raul Rodrigues Lima, responsável por outros projectos colossais de arquitectura como o Cinema Monumental, o Palácio da Justiça no Porto, etc. No projecto original, esta sala tinha uma lotação de 790 lugares, distribuidos pela plateia (478) e balcão (312).
No ano seguinte a construção do novo cinema é licenciada com uma outra designação de "Vasco da Gama", obedecendo a algumas alterações. Em 1939/1940, o projecto volta a sofrer alterações, como também um novo nome de "Cinearte".


A obra é concluida em 1940 e a licença de exploração é concedida com as exigências de se limitar a lotação da sala  e a colocação de corrimões nos 2 lados de todas as escadas. A 13 de Novembro de 1940, o Cinearte abria as suas portas com a transmissão do filme "Não o  levarás contigo" de Frank Capra com James Stewart e Jean Arthur.




Em 1945, foi feita mais uma intervenção nesta sala, substituindo-se as cadeiras da plateia de modo a obter-se espaço entre as filas, passando a lotação de 610 lugares para 588.






A Sociedade Administradora de Cinemas Lda. tinha sido a gestora deste cinema desde a sua construção, só que em 1972 abandona o cargo, passando a gestão para a firma A. Ramos, Lda.

Em 1973, o Cinearte é encerrado de modo a que se procedam a obras de beneficiação no interior. As obras, concluidas em Outubro do mesmo ano, resumiram-se a pinturas interiores, revisão da instalação eléctrica, incluindo um novo tipo de iluminação, melhoramentos no auditório como também nos espaços de circulação e apoio ao público.

No entanto, estas obras não iriam impedir o encerramento do Cinearte. Quando o bairro de Santos começou a tornar-se num ponto fulcral para a animação nocturna em Lisboa, já este cinema estava em franco declinio.



Só em 1990 é que o Cinearte foi reactivado como sala de teatro, depois de ter sido adquirido pela companhia teatral "A Barraca", mantendo essa função até à actualidade. 
Em 1993, o projecto do Arqº Rui Pimentel sacrificou uma parte significativa do espaço interno original, construindo-se assim a Sala 2.


E assim mais uma sala de cinema deixou de existir para reincarnar num teatro, mas mantendo o belo edificio original, evitando-se assim mais um atentado à arquitectura do passado que tanto dignificou a cidade de Lisboa.

Fontes: 
https://www.fotold.com/fotos/lugares/1984-cinema-cinearte-em-lisboa--102619

3 comments:

Infelizmente, é apenas fachada, certo?

Compreendo a frase que se tenha sacrificado uma parte do interior do edifício. Na realidade tranformámos o antigo cinema num teatro com duas salas. O R/C já estava sem cadeiras, sem tectos de estuques, e com o piso nivelado para servir de armazém de bananas. Pegámos nesse espaço e fizémos uma sala com o mínimo de alterações.
No que tiha sido o 1º balcão fizémos uma segunda sala, aproveitámos os degraus para espaço para o público, e fizémos um palco no buraco para a plateia, e camarins nos lados.
Pelo menos evitámos a destruição do edifício, como tantos outros, reconvertendo-o para novas funções culturais.
Nesse aspecto estou contente com o meu trabalho, que visava entre outras coisas salvar o possível da obra do meu avô Horácio Pimentel, que construíu o Cinearte - e q
ue não teve a mesma sorte com outras 3 das suas obras, os cinemas Europa e Monumental, e o laboratório Sanitas (Rua D.João V).
Rui Pimentel

Elisabete, não tive intenção com o meu texto de menosprezar o trabalho que foi feito no interior deste edifício. Fico feliz por ele se aguentar aberto estes anos todos como um teatro e a memória da obra do seu avô continuar intacta.
E que se mantenha aberto durante muito tempo, que Lisboa necessita de ter edifícios arquitectonicos que façam lembrar o seu passado glorioso.