Hoje vou relembrar um cine-teatro que durante muito tempo foi um ex-libris de Lisboa, principalmente na zona do Parque Mayer...já estão a ver qual é, certo? Falo-vos do portentoso Cine-Teatro Capitólio.
O Cine-Teatro Capitólio é um edifício classificado de importância arquitectónica internacional. Localiza-se no Parque Mayer, um antigo recinto de diversões de Lisboa inaugurado em 1922.
Luis Cristino da Silva, um dos arquitectos mais proeminentes do Séc. XX português e considerado por especialistas como o introdutor do modernismo em Portugal, foi o autor do projecto do Capitólio e o Engº José Belard da Fonseca foi o autor da inovadora estrutura de betão armado. Quando foi inaugurado oficialmente a 10 de Julho de 1931 e aberto ao público, a 11 de Julho, tornou-se num manifesto sem precedentes em Portugal, representando o espírito do mundo moderno.
Este cine-teatro foi inaugurado com uma série de inovações que o distinguiram das demais construções, como a introdução de uma escada rolante e de uma esplanada no terraço a 11 metros de altura. Foi equipado com um dos melhores sistemas de som do mundo da marca alemã Bauer.
Tinha-se iniciado uma nova era na arquitectura, sendo representativos desse período os edifícios do Diário de Notícias e do antigo Hotel Vitória, ambos na Av. da Liberdade; o edifício da Standard Eléctrica na Av. da Índia; a Estação de Sul e Sueste; o edifício do cinema Cinearte em Santos, etc. De todos, o Capitólio é dos mais representativos do modernismo.
A sala era desmesuradamente grande, podendo albergar 1391 espectadores, número que esmagava qualquer lotação de outro cinema existente naquela altura.
No palco na esplanada do terraço podia-se assistir a espectáculos de variedades, com actores estrangeiros, estreando todas as semanas, novos espectáculos, e tambem ouvir música por uma orquestra privativa, de seu nome “Capitólio Jazz”. Tudo complementado por um esmerado serviço de bar…
Nos dias de mau tempo, o terraço era encerrado e na sala de cinema passava a decorrer espectáculos mistos incluindo a 1ª sessão de cinema e a 2ª sessão de variedades e concerto.
Foram feitas obras de remodelação e conservação, acedendo-se ao exterior por amplas portas envidraçadas, que foram entaipadas na primeira remodelação em 1933. Ainda nesse ano foi montado no terraço-esplanada, uma cabine de projecção para sessões ao ar livre.
Em 1935/36, a planta de edificio foi novamente alterada sob a supervisão de Cristino da Silva. Foi acrescentado à sua estrutura primitiva mais um pavimento no balcão, além de frisas e camarotes, todo o palco foi reestruturado tal como a cabine cinematográfica. Ficou então habilitado a receber 1400 espectadores.
Como tantos "gigantes" que existiram em Lisboa e que não resistiram, também o Capitólio começou a perder qualidade no seu programa artistico, chegando a transmitir filmes pornográficos. Em 1974, foi exibido neste cine-teatro, o mítico filme de Gerard Damiano Garganta Funda, como também o famoso O Diabo em Ms. Jones, dois filmes pornográficos que marcaram a década de 70.
Com a entrada em decadência do Parque Mayer, também o Capitólio acabaria por perder público e encerrar no início dos anos 80. Em 1983 foi declarado imóvel de interesse público, mas nada foi feito desde essa altura para evitar que o abandono e a ruína tomasse conta do edifício. No novo milénio surgiu um projecto de grande envergadura, destinado a reconverter o Parque Mayer e devolver ao espaço as luzes e público de outrora, mas no projecto estava prevista a demolição deste edificio com vista à construção de novas infra-estruturas.
Um grupo de cidadãos lutou para que tal não acontecesse e conseguiu que o Capitólio fosse inserido no "World Monuments Fund", na lista dos 100 edifícios de interesse histórico mais ameaçados. Esta acção levou a que actualmente a C.M.L. tomasse a decisão de manter o Capitólio, como espaço teatral, e abrisse um concurso internacional para a restauração do mesmo seguindo o projecto original do arquitecto Luis Cristino da Silva.
Em 2009, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou por unanimidade a atribuição do nome do actor Raul Solnado ao Cine-Teatro, visto que Raul Solnado chegou a ser empresário do Capitólio, mesmo que por pouco tempo, como também devido ao seu passado artistico em revistas no Parque Mayer.
O projecto de Reabilitação do Cine-Teatro Capitólio (agora denominado Teatro Raul Solnado) e o Plano de Pormenor do Parque Mayer são da autoria, respectivamente, de Alberto Souza de Oliveira e Manuel Aires Mateus.
Relativamente ao projecto para reabilitar o Capitólio, o que se pretende é uma aproximação cénica ao sítio urbano, neste caso o Parque Mayer, reabilitando o espaço como lugar de teatro. A transformação do Capitólio passa por repor a sua “grande sala” e abri-la, lateralmente, para uma grande praça que “encaixa” o espectáculo.
A reabilitação do edifício pretende repor e melhorar o seu desempenho, atingindo a versatilidade compatível com os níveis de exigência das produções contemporâneas de espectáculos. A “grande caixa” poderá ser transformada numa única “arena”, experimentando os “limites”… explorando múltiplos formatos de espectáculos.
A flexibilidade exigida corresponde a ampliar a capacidade de uso, o que significa um apetrechamento técnico acrescido. Compatibilizar meios técnicos “mais pesados” com a leveza do edificado levanta o problema da “intocabilidade” do Capitólio como peça arquitectónica.
A retoma de funcionalidade do Capitólio passa pelo apetrechamento do “palco” e da “caixa” com meios técnicos de cena (luz, som e vídeo) sendo exigível que o “esqueleto técnico” pretendido seja minimizado, sob pena de “descaracterização” da “caixa”.
O recurso a meios técnicos de cena, implica reduzir a sua expressão arquitectónica, incompatível com o conceito da “caixa” e as linhas modernistas do edifício.
85 anos depois da sua inauguração, o Cine-Teatro Capitólio ressurgiu em pleno Séc. XXI, com uma nova designação: Teatro Raul Solnado.
O projecto, da autoria do Arq.º Souza Oliveira, recuperou o encanto de outros tempos, combinando-o com as soluções de engenharia mais modernas.
Actualmente, este espaço é utilizado, sobretudo, para receber eventos musicais. E ainda bem!
Fontes:
https://oblogdojorgetome.blogspot.com/2020/11/o-fascinio-perdido-do-cinema-porno.html
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/lisboa-a-noite-nas-presidenciais/
http://cidadanialx.blogspot.com/2010/04/projecto-do-cine-teatro-capitolio-por.htmlhttps://arquivos.rtp.pt/conteudos/lisboa-a-noite-nas-presidenciais/
http://www.ica-ip.pt/pt/artigos/cine-teatro-capitolio-o-regresso-de-um-equipamento-historico/
https://www.fotold.com/fotos/lugares/1984-cinema-capitolio-em-lisboa--102573
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/x-arqweb/(S(hswxw445enuxhx20j3zn0rfa))/SearchResultOnline.aspx?search=_OB%3a%2b_QT%3aTI__Q%3aCAPITOLIO_EQ%3aF_D%3aF___&type=PCD&mode=0&page=0&res=0&set=%3bAF%3b
http://arquivomunicipal.cm-lisboa.pt/x-arqweb/(S(hswxw445enuxhx20j3zn0rfa))/SearchResultOnline.aspx?search=_OB%3a%2b_QT%3aTI__Q%3aCAPITOLIO_EQ%3aF_D%3aF___&type=PCD&mode=0&page=0&res=0&set=%3bAF%3b
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https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2331835&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2317544&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=2330931&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
https://arquivomunicipal3.cm-lisboa.pt/xarqdigitalizacaocontent/Imagem.aspx?ID=3626847&Mode=M&Linha=1&Coluna=1
3 comentários:
Excelente "post". Mencionei-o a propósito de uma fotografia que tirei às ruínas do Capitólio ( http://www.flickr.com/photos/67927178@N05/6988800340/in/photostream ). Espero que não se importe!
atençao garganta funda estreou em 1972 eo diabo em ms jones em 1973, mas nao em portugal. porno ao publico apenas depois de 74.correia
Obrigada ao anónimo Correia pelo insight da exibição da Garganta Funda e do Diabo em Ms. Jones.
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