3.5.09

Estúdio 444: Mais um cinema perdido nas brumas do tempo...

Desta vez, vou falar-vos sobre uma sala de cinema de Lisboa que, infelizmente, já desapareceu e nem sequer deixou rastos da sua existência. Pelo menos, quem passar pela Avenida Defensores de Chaves, nº 83 A e B, nunca saberá que num determinado local existiu o Estúdio 444.

Esta sala foi inaugurada a 26 de abril de 1966, com um documentário italiano intitulado As Escravas Ainda Existem, dirigido para um público adulto e onde se mostrava o comércio escravo moderno, através de filmagens feitas em alguns países árabes e africanos sob o domínio muçulmano. Como algumas das filmagens foram feitas secretamente,  o espectador podia ver de uma forma crua cenas de nudez, sexo e violência que contribuíram para a sua escolha como filme de estreia deste espaço. A titulo de curiosidade, este filme esteve em cartaz nesta sala durante cinco meses.



Este espaço beneficiou de uma lei que permitia construir salas de cinema em edifícios habitacionais, a par de outras salas que apareceram na época como o Cinema Mundial, Cinema Vox e o Cinema Londres. Era para ser uma garagem, um snack bar, mas acabou por ser uma sala de cinema que se situava numa cave.

O responsável pelo projecto de construção foi o Arqt.º Henrique V. de Figueiredo, que traçou um bloco de apartamentos e um cinema que aproveitava a cave do prédio, embora a entrada se fizesse no rés-do-chão. Um átrio também era contemplado e ficava ao nível da rua, e dele se descia para a sala através de uma escadaria envolta em mistério, visto que conduzia o espectador a um local que não se via. 
O exterior era caracterizado por uma enorme caixa de alumínio e vidro, que assinalava a presença do cinema, mas não de uma forma tão evidente. A morte do referido arquitecto fez com que este projeto fosse concluído sob a orientação de Américo Leite Rosa, um conhecido homem do cinema e da rádio, que se encarregou da decoração. 
O palco permitia a exploração desta sala para pequenos concertos, recitais e apresentação de companhias teatrais.
A sua designação advinha do facto da sala conter 444 lugares, divididos em primeira e segunda plateia.






Inauguração -Diário de Lisboa, 27.04.1966

Foi uma das primeiras salas estúdio em Portugal e conseguiu atrair publico, graças à sua localização num sitio calmo. 

A exibição de filmes neste espaço era controlada pelas distribuidoras "Doper, Filmes" e "Talma, Filmes", especialistas em filmes europeus de pequenas cinematografias (Bélgica, Suécia, etc.), passando pelas mais ambiciosas, como a alemã. Contudo, a sua programação era irregular, visto que apresentava filmes de alta qualidade, como também filmes de uma qualidade extremamente inferior.

Por lá foram exibidos filmes como Fim de Semana Alucinante, Let it Be (documentário sobre a gravação do ultimo álbum da carreira dos Beatles), e Nova Iorque Fora de Horas de Martin Scorsese, mas em janeiro de 1988 seria exibido o ultimo filme: O Querido Lilás, com Herman José. 










Fontes: 
ACCIAIUOLI, Margarida, Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX, Lisboa, Editorial Bizâncio, 2012
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2018/01/cinema-estudio-444.html
http://citizengrave.blogspot.pt/2013/03/cinemas-onde-vi-filmes-estudio-444.html

5 comments:

Boa tarde e obrigado pela referência.
Foi realmente um cinema da década de 70 e eventualmente de 80.
Na de 70 passava bons filmes. Fui lá algumas vezes.
No meu blogue tenho, de vez em quando, postado sobre cinemas de Lisboa que já foram...
Mas a preguiça é muita para o fazer regularmente.
Cumprimentos

O Estúdio 444 era na Rua da Praia da Vitória que vai do Saldanha para a Av. Defensores de Chaves e não nesta última.

João Vieira da Rocha

O Estúdio 444 ficava na Rua da Praia da Vitória que vai do Saldanha para a Av. Defensores de Chaves e não nesta última !

João Vieira da Rocha

Talvez fosse boa ideia o JonyRocks largar as pedras e dar uma volta por Lisboa, o 444 ERA na Defensores de Chaves

Na Praia da Vitória era o Estúdio 222